Pintar a vida é o que todos fazemos desde a aurora até ao ocaso. A vida é como o fio de Ariadne vai-se desenrolando... só que o da princesa tinha um propósito de ordem. O fio que tecemos nem sempre obedece à nossa vontade, não é ordem - é acaso. A tela de Ferenczy levou-me até aos pincéis que estavam arrumadinhos, peguei num, follheei o Livro do Desassossego e parei no texto escolhido!
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Károly Ferenczy (nasceu na Áustria e morreu em Budapeste) , A pintora, 1903
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Óleo sobre tela , 136 x 129,5 cm, Galeria Nacional Hungara, Buda, Hungria
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A vida é para nós o que concebemos nela. Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.
Isto não vem a propósito de nada.
Isto não vem a propósito de nada.
27-6-1930
Bernardo Soares, Livro do Desassossego por .Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p. 132.
Concordo com tudo e adorei este post. Dá muito que pensar.
ResponderEliminarO império é um campo- Foi sempre assim, de Alexandre ao seu émulo César ,ou mais perto de nós Napoleão ou Hitler.
ResponderEliminarPois sim
ResponderEliminarvivamos pois cada um no seu galho
de preferencia numa árvore partilhada
Margarida,
ResponderEliminarObrigada pelas suas palavras que são luz e cor! :)
Luís,
Obrigada pela sua presença. Bem-vindo. Tenho muito gosto em partilhar consigo estes pensamentos. :)
Mar Arável,
de preferência numa árvore partilhada.
Obrigada pela sua passagem.:)
Seria bom que conseguíssemos pintar a vida com as cores do «império», ambicionando melhorar a fecundidade do nosso «campo», mas não ambicionando mais do que esse «campo». Mas parece-me que o que está a dar é pintar a vida com as cores de um «campo», e suspirar por um «império».
ResponderEliminarDá-me sempre muito que pensar, Ana. :-)
Luísa,
ResponderEliminarBem-vinda e muito obrigada pela sagacidade das suas palavras.
Julgo que a Luísa disse mais do que eu com a aparência simples da seguinte afirmação:
"pintar a vida com as cores do «império», ambicionando melhorar a fecundidade do nosso «campo»".
É um prazer pensar, divagar, parar para perceber mas corre-se o risco de parecermos inúteis.
:)