12/09/2010

Não digas nada!

Praia da Falésia, barco à vela no mar azul, Açoteias, Albufeira.

Julgo que ainda não tinha colocado este poema. Se o repito não faz mal porque agora estou a senti-lo. A arte é para se sentir e se viver, se possível.
Não era Fernando Pessoa que hoje vinha comigo. Era Miguel Real e o seu livro que vi na FNAC, uma Carta de Sócrates a Alcibíades ficcionada. O livrinho tem a forma de manuscrito, a capa amarelecida como se de pergaminho se tratasse. Letra escrita manualmente e desenhos de Maria José Ferreira. No seu interior é como todos os outros livros escrita em formato de Times New Roman. Nada de lápis nem de escrita cursiva. O "prefácio" apelida-se de Nótula sobre a publicação de Carta de Sócrates 23 anos depois. O livro já vai na segunda edição e fala do amor de Sócrates por Alcíbíades. Ainda não o li, a não ser a introdução que está escrita com graça.
Olhando para um comentário absurdo que apaguei julgo que o melhor é afirmar-se:
Não digas nada!
Dois versos deste poema servem de mote ao meu blogue.
Não digas nada!

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

23-8-1934

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930-1935), (Nota prévia de Jorge Nemésio.), Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990). p. 167.

5 comentários:

  1. Creio que estava a precisar, este poema veio na hora certa...

    Beijo :)

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  2. Bom domingo Margarida e obrigada pela visita! Bj:)


    AC,
    Ainda bem que de alguma forma este poema o alimenta.
    Fico contente, são estas pequenas coisas que nos dão satisfação: alguém a quem a mensagem traz um pouquinho de ar.
    Abraço! :)

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  3. Magníficas palavras para uma tarde de Domingo! Independentemente do "talvez" que se associa ao amanhã, é importante que se retenha a memória da felicidade. Quem sabe se essa memória não suavize a incerteza que se estende ante nós?
    Um bom resto de Domingo!

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  4. Olá Sara,
    Que bom vê-la por aqui.

    As palavras são sublimes como tudo o que fazia Fernando Pessoa. A uma dada altura mudei o mote do meu blogue e substitui por dois versos deste poema porque a simplicidade diz tudo!
    As memórias são sempre um sonho, o talvez é demasiado incerto, fico-me pelo presente, a felicidade passada não pode ser a felicidade do hoje e do amanhã.

    Obrigada pela visita!:)

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