29/09/2010

Nem as flores...

Nem estas flores me fazem sorrir. Um peso sobre os olhos, um cansaço inexplicável: um caos. Se existem deuses não sei por onde andam.

x Childe Hassam



The eternal equilibrium of things is great, and the eternal overthrow of things is great. And there is another paradox.

Walt Whitman, Leaves of Grass, Mineola [NY]: Dover Publications Inc., 2007, p. 112-113.

A Janela

Aurél Bernáth foi um pintor húngaro. Combateu na 1ª Guerra Mundial e foi influencido pelos pintores expressionistas alemães.
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Bernáht Aurel, Manhã, 1927

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Galeria Nacional Hungara, Buda, Budapeste, Hungria


Um número finito de objectos está colocado estrategicamente para tirar partido da pequena mesa junto à janela. Nela estão depositados um livro aberto, uma jarra, flores em oblíquo num espaço quase sem cor do mobiliário. A janela é apenas a moldura de uma pintura, um espaço azul, verde, cinza com um leve toque de amarelo.

Entre as sombras, no parapeito da janela, surge num deslavado traço uma hipotética jarra de vidro transparente que o pintor quis apagar. Não não quis apagar..., do traço ténue fez nascer um aquário.

28/09/2010

No fundo da arca restam as memórias.

Fotografia de Rui Almeida, Pico visto do Faial.


Numa miscelânea de sentidos o tom ocre que ladeia o mediterrâneo contrasta com o azul cobalto do oceano.
No meio do Atlântico, a Norte, fica situada uma ilha negra - o Pico.
O barulho das cagarras inunda o silêncio. O som estridente nada harmónico anuncia as palavras em forma de enigma como os mistérios que imperam na ilha.
Do quarto, olhando para Este, vislumbra-se o mar que contrasta com o carvão negro da montanha, a Oeste. O vento num frenesim tocante assusta.
A ilha lugar idílico torna-se o Inferno de Dante, saindo a lava quente e sedutora que queima a superfície delicada do manto que cobre a terra.

A cagarra cai morta.

27/09/2010

Panegírico ao mar ...

Açoteias, Albufeira

Ontem foi Dia Mundial do Mar soube-o através do blog Memórias e Imagens. Margarida, a sua autora, fez-me viajar até um livro que li na adolescência: O Velho e o Mar. É um belo livro e uma alegoria ao desafio constante de viver.
A vida é uma viagem que se torna tão solitária como a do Velho Santiago de Hemingway que, apesar das vicissitudes, tem a perseverança de lutar pelo seu propósito.
O mar que vislumbramos e sonhamos, o mar esse grande alimento, aventura, esse retorno constante de infinito... é a ele que hoje me reclino com saudades!

O Velho e o Mar

"O pássaro veio à popa do barco, onde pousou. Depois, voou em torno da cabeça do velho, e pousou na linha, onde se sentia mais comodamente.
- Que idade tens? - perguntou-lhe o velho. - É a tua primeira viagem?
O pássaro fitou-o, enquanto ele lhe falava, Estava tão cansado que nem examinava a linha, e tremia nas delicadas patas enclavinhadas nela.
- Está tesa, tesa demais - disse o velho. - Não devias estar tão cansado, depois de uma noite sem vento. No que estarão dando os pássaros?
«Os falcões, pensou, que saem ao largo, ao encontro deles». Mas nada disto disse ao pássaro, que de resto não sabia entendê-lo e não tardaria a aprender quem os falcões eram.
- Repousa à vontade passarito. e, depois vai, e vive a tua vida, como os homens, os pássaros e os peixes.
Deu-lhe coragem a conversa, porque as costas haviam ficado dormentes de noite e lhe doíam, agora de verdade.
- Fica em minha casa se preferes ó pássaro. Tenho pena de não poder içar a vela e levar-te com a aragem que se está levantando. Mas estou com um amigo.
Nesse momento, o peixe deu um puxão súbito, que atirou o velho para o fundo da proa, e tê-lo-ia levado pela borda fora, se não se houvesse agarrado e não tivesse largado mais linha".
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Ernest Hemingway, O Velho e o Mar, Lisboa: Edições Livros do Brasil, (Trad. e prefácio de Jorge de Sena,1956,) p.60-61.
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26/09/2010

A mesa de Domingo!

Ao Domingo a mesa veste-se de doces, queijos, flores e requinte.
Nunca soube explicar esta sensação, o Sábado é o dia que antecede o Domingo e é um dia de véspera de nada se fazer a não ser ter tempo para nós. Há quem goste mais do Domingo por tradição religiosa, por tradição familiar mas eu gosto mais de Sábado. Todavia é ao Domingo que a mesa se veste melhor e é o tempo das memórias. Bom Domingo!
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Josefa de Óbidos a meu ver retratou as mais belas mesas de fausto. Escolhi esta tela intitulada:
Natureza-morta com bolos e queijos, 1676

Óleo sobre tela 85 x 160,5 cm, Biblioteca Municipal Anselmo Braamcamp Freire, Santarém
Flores e borboleta um detalhe que me delicia.

Digitalizei do livro Josefa de Óbidos, de Carla Alferes Pinto, inserido na colecção
Pintores Portugueses

"Entendei que até mesmo na cozinha, entre caçarolas, anda o Senhor"
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Santa Teresa d'Ávila [Livro das Fundações, 1573-1582, capítulo V, parágrafo 9]
in

Clara Alferes Pinto, Josefa de Óbidos, Pintores portugueses, Matosinhos, Quindnovi, 2010, p. 79

25/09/2010

Vinheta 15 - Um país que eu gostava de ter

Mário Cesariny e Rodrigo Leão são a marca da vinheta desta semana que se avizinha. O propósito é anteceder a celebração dos 100 anos da República e o desejo de um país que eu gostava de ter!



"Queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti um mar de uma rosa de espuma"

Mário Cesariny

Fado Malhoa

Hino ao fado após ter visto um programa sobre o Fado na RTP 1, apresentado por Carlos do Carmo.
Gosto de fado e este tem a particularidade de focar um pintor e a sua interpretação de Severa, a primeira mulher fadista segundo se consta.
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José Malhoa, Fado, 1910

Óleo sobre tela, 1,51m x 1, 86 m, Museu da Cidade, Lisboa, Portugal

Fado Malhoa, Amália Rodrigues


Poema de José Galhardo, música de Frederico Valério

FADO MALHOA

Alguém que Deus já lá tem
Pintor consagrado,
Que foi bem grande
E nos fez já ser do passado,
Pintou numa tela
Com arte e com vida
A trova mais bela
Da terra mais querida.

Subiu a um quarto que viu
A luz do petróleo
E fez o mais português
Dos quadros a óleo
Um Zé de Samarra
Com a amante a seu lado
Com os dedos agarra
Percorre a guitarra
E ali vê-se o fado.

Dali vos digo que ouvi
A voz que se esmera
Dançando o Faia banal
Cantando a Severa
Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa
Aquilo é fadista
Aquilo é de artista
E aquilo é Malhoa.

24/09/2010

Oxigénio

Na noite nostálgica este desenho foi oxigénio.
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Mário Vitória


Mário Vitória nasceu em Coimbra em 1983. Licenciou-se na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Durante o percurso académico realizou estudos intermédios em Lyon (França), Bolonha (Itália) e Sheffield (Inglaterra). É Mestre em Práticas e Teorias do Desenho, com a dissertação: "Riso e violência nas práticas artísticas do desenho".

23/09/2010

Nocturno Op. 9 nº 2 - Chopin

Yundi Li plays Chopin Nocturne Op. 9 No. 2

Se deste Outono...

Vem Outono traz as folhas douradas e a serenidade deste chá. Edward Cucuel é um pintor americano (1875-1954). Pareceu-me que este chá se realiza no Outono por causa das cores mas não encontrei nenhuma informação sobre ele.

Edward Cucuel, Tea in the Park


SE DESTE OUTONO

Se deste outono uma folha,
apenas uma, se desprendesse
da sua cabeleira ruiva,
sonolenta,
e sobre ela a mão
com o azul do ar escrevesse
um nome, somente um nome,
seria o mais aéreo
de quantos tem a terra,
a terra quente e tão avara
de alegria.

Eugénio de Andrade, Obra Poética de Eugénio de Andrade

http://nescritas.nletras.com/eandrade/

Gidon Kremer - Vivaldi's Four Seasons - Autumn (II. )Adagio

22/09/2010

No país da liberdade!...na cidade da luz...

Nicolas Sarkozy é um estóico na observância dos princípios:

Liberté, Egalité, Fraternité

Paris, França

Pintar a vida...

Pintar a vida é o que todos fazemos desde a aurora até ao ocaso. A vida é como o fio de Ariadne vai-se desenrolando... só que o da princesa tinha um propósito de ordem. O fio que tecemos nem sempre obedece à nossa vontade, não é ordem - é acaso. A tela de Ferenczy levou-me até aos pincéis que estavam arrumadinhos, peguei num, follheei o Livro do Desassossego e parei no texto escolhido!
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Károly Ferenczy (nasceu na Áustria e morreu em Budapeste) , A pintora, 1903
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Óleo sobre tela , 136 x 129,5 cm, Galeria Nacional Hungara, Buda, Hungria

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A vida é para nós o que concebemos nela. Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.
Isto não vem a propósito de nada.

27-6-1930

Bernardo Soares, Livro do Desassossego por .Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982, p. 132.

21/09/2010

Suspensos...o voo ou a queda?

Entre a luz e a sombra o voo ou a queda?

Suspensos como marionetas os homens dançam contra o tempo, as marés, a luz e a sombra. Rasgam os céus cobertos com tectos de opacidade branca. Ali observam os olhares curiosos e mudos nada podem dizer ao escultor que os criou.

Na dinâmica do movimento, arrastados por uma leve brisa, olham mudos para o chão vazio.

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Instalação sem título, Galeria Nacional de Budapeste, Buda, Hungria

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...a queda!

20/09/2010

Francisco Ribeiro com Mário Cesariny

Hoje, lembrei-me de Francisco Ribeiro e porque me senti como este Navio de Espelhos aqui fica.
Em memória de Francisco Ribeiro e Mário de Cesariny.
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Francisco Ribeiro, Gabriel Gomes e Rodrigo Leão com Mário de Cesariny x
Os Poetas- Navio de Espelho



O navio de espelhos
não navega cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão não traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo


Poema e voz de Mário Cesariny
Música de Rodrigo Leão (cd - Os Poetas)

Saudade - Ortega y Gasset

Henry Wallis,Thomas Chatterton, 1856

Tate Collection, London


"Privação, vazio, dor, desejo de completude, são modalidades de toda e qualquer saudade. E por ser privação, foi - é passado vivido no presente".

José Ortega Y Gasset, Saudade, notas de trabalho,Lisboa: Setecaminhos, 2005, p.11. (trad. Maria J. Tavares)

"Henry Wallis is one of the most forceful examples of social realism in Pre-Raphaelite art. Thomas Chatterton (1752-70) was an 18th Century poet, a Romantic figure whose melancholy temperament and early suicide captured the imagination of numerous artists and writers. "

19/09/2010

José Gomes Ferreira - porque é que este sonho...

Uma memória levou-me até Roma, mais propriamente ao Panteão, o monumento que me tocou mais profundamente. A luz da cúpula é uma incessante procura. Olhei para cúpula e lembrei-me de José Gomes Ferreira, foi então que ele me acompanhou nesta viagem imaginária.
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Panteão de Agrippa, Roma


Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.

José Gomes Ferreira

Retirado da net in Tormentas

17/09/2010

Vinheta 14 - Outono, John Everett Millais!

Folhas de Outono foi o tema que escolhi para a vinheta desta e da próxima semana, foi o meu hino ao Outono que se iniciará a 23 de Setembro de 2010.
A tela de Millais maravilhou-me devido à contradição juventude / Outono que é um desnudar da natureza, um despedir da vida até à próxima Primavera.
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John Everett Millais Folhas de Outono, 1855-6.

Manchester Art Gallery, Grã-Bretanha

"Tears, Idle Tears"

Tears, idle tears, I know not what they mean,
Tears from the depth of some divine despair
Rise in the heart, and gather to the eyes,
In looking on the happy autumn-fields,
And thinking of the days that are no more.

Fresh as the first beam glittering on a sail,
That brings our friends up from the underworld,
Sad as the last which reddens over one
That sinks with all we love below the verge;
So sad, so fresh, the days that are no more.

Ah, sad and strange as in dark summer dawns
The earliest pipe of half-awaken'd birds
To dying ears, when unto dying eyes
The casement slowly grows a glimmering square;
So sad, so strange, the days that are no more.

Dear as remembered kisses after death,
And sweet as those by hopeless fancy feign'd
On lips that are for others; deep as love,
Deep as first love, and wild with all regret;
O Death in Life, the days that are no more!

Alfred, Lord Tennyson

Caem os sonhos... a flor perece entre a água.

Buda, Bastião dos Pescadores, Budapeste, Hungria



Caem os sonhos,
quando fecho os olhos
e as cores se perdem.
A flor perece entre a água.

15/09/2010

Quando a vida precocemente se esfuma...

Hoje acordei com a notícia da morte de Francisco Ribeiro (45anos), fundador dos Madredeus. Os Dias da Madredeus foi o primeiro álbum editado e foi de lá que tirei esta faixa para dizer que é lamentável quando a vida se esfuma precocemente!

Bocage - uma faceta.

Hoje recordo Bocage que é um poeta que me encanta e me assusta porque da beleza vai até às verdades nuas e cruas, ao mais intimo e banal acto humano!
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Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu a 15 de Setembro de 1765, em Setúbal e faleceu a 21 de Dezembro de 1805, em Lisboa. Escolhi este retrato de um pintor que não conhecia.
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Detalhe do retrato de Bocage de Francisco Flamengo
Francisco Flamengo (1852-1915), Manuel Maria Barbosa du Bocage
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Autobiografia

De cerúleo gabão não bem coberto,
passeia em Santarém chuchado moço,
mantido, às vezes, de sucinto almoço,
de ceia casual, jantar incerto;

dos esbrugados peitos quase aberto,
versos impinge por miúde e grosso;
e do que em frase vil chamam caroço,
se o que, é vox clamantis in deserto;

pede às moças ternura, e dão-lhe motes;
que, tendo um coração como estalage,
vão nele acomodando a mil peixotes.

Sabes, leitor, quem sofre tanto ultraje,
cercado de um tropel de franchinotes?
– É o autor do soneto: – é o Bocage.


Bocage, in 'Rimas' (citador)

Poema: De suspirar em vão já fatigado musicado por Neonírico


14/09/2010

Um naturalista alemão

Alexander von Humboldt foi um geógrafo, naturalista e explorador alemão. Nasceu a 14 de Setembro de 1769, em Berlim e pereceu na mesma cidade a 6 de Maio de 1859.
Humboldt foi ilustrador cientista, especializou-se em Filosofia, História e Ciências Naturais. Apesar de ter desenvolvido estudos na área das ciências naturais também, amava as letras, foi um influente mecenas da Literatura. Humboldt apoiou os poetas e escritores Heinrich Heine, Ludwig Tieck e Klaus Groth. Entre seus amigos e conhecidos estavam Matthias Claudius, Jacob, Carl Friedrich Gauss e Wilhelm Grimm, August Wilhelm Schlegel, assim como Johann Wolfgang von Goethe e Friedrich Schiller.

Alexander von Humboldt, pintura de Friedrich Georg Weitsch, 1806.


Ilustração naturalista (científica) Chiranthodendron pentadactylon, criada por Alexander von Humboldt


Notas e imagens retiradas daqui

Holde Lili, warst so lang

Sweetest Lili, for so long
All my joy and all my song!
Ah, now, all my pain, yet you
Are still all my singing too.

Goethe

13/09/2010

Das paixões... de Sócrates e Alcibíades em comunhão com Nick Cave...

Do amor é sempre belo falar seja ficção ou realidade. A Carta entre Sócrates e Alcibíades ficcionada por Miguel Real (pseudónimo) é bonita. Nick Cave que adoro tem esta belíssima canção de um amor triste como a tristeza que se observa em Sócrates. Esta carta fez-me recordar o Retrato de Dorian Gray.
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"Amar cansa. Sinto-me exausto e preguiçoso, perdidamente mole sempre que apelo para minha antiga redentora palavra. Embora cansado, forço-me a escrever-te: quero que este couro fino guarde silenciosamente pelos futuros séculos a recordação de um certo Sócrates diferente, loucamente encantado de um Alcibíades moreno, cuja paixão o desviou de livre vontade da busca do raciocínio reflectido".
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Miguel Real, Carta de Sócrates a Alcibíades, seu vergonhoso amante, Editora Licorne, 2010, (2ª edição) p.32



STILL IN LOVE

The cops are hanging around the house
The cars outside look like they've got the blues
The moon don't know if it's day or night
Everybody's creeping around with plastic covers on their shoes
You're making coffee for everyone concerned
Someone points to this and someone points to that
Everyone is saying that you should lie down
But you ain't having none of that
And I say to the sleepy summer rain
With a complete absence of pain
You might think I'm crazy
But I'm still in love with you

Hide your eyes, hide your tears,
Hide your face, my love
Hide your ribbons, hide your bows
Hide your coloured cotton gloves
Hide your trinkets, hide your treasures
Hide your neatly scissored locks
Hide your memories, hide them all
Stuff them in a cardboard box
Or throw them into the street below
Leave them to the wind and the rain and the snow
For you might think I'm crazy
But I'm still in love with you

Call me up, baby, and I will answer your call
Call me up but remember I am no use to you at all

Now, you're standing at the top of the stairs
One hand on the banister, a flower in your hair
The other one resting on your hip
Without a solitary care
I fall to sleep in the summer rain
With no single memory of pain
And you might think I'm crazy
But I'm still in love with you

12/09/2010

Em memória de Chabrol!

Soube há poucos minutos que Chabrol morreu hoje de manhã. Vi alguns dos seus filmes. O que gostava nele era a atmosfera que criava.
La Demoiselle d'honneur!

Não digas nada!

Praia da Falésia, barco à vela no mar azul, Açoteias, Albufeira.

Julgo que ainda não tinha colocado este poema. Se o repito não faz mal porque agora estou a senti-lo. A arte é para se sentir e se viver, se possível.
Não era Fernando Pessoa que hoje vinha comigo. Era Miguel Real e o seu livro que vi na FNAC, uma Carta de Sócrates a Alcibíades ficcionada. O livrinho tem a forma de manuscrito, a capa amarelecida como se de pergaminho se tratasse. Letra escrita manualmente e desenhos de Maria José Ferreira. No seu interior é como todos os outros livros escrita em formato de Times New Roman. Nada de lápis nem de escrita cursiva. O "prefácio" apelida-se de Nótula sobre a publicação de Carta de Sócrates 23 anos depois. O livro já vai na segunda edição e fala do amor de Sócrates por Alcíbíades. Ainda não o li, a não ser a introdução que está escrita com graça.
Olhando para um comentário absurdo que apaguei julgo que o melhor é afirmar-se:
Não digas nada!
Dois versos deste poema servem de mote ao meu blogue.
Não digas nada!

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

23-8-1934

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930-1935), (Nota prévia de Jorge Nemésio.), Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990). p. 167.

11/09/2010

No côncavo das mãos...

Rodin, Mãos de Amantes, 1904, gesso

Museu Rodin, Paris

No côncavo das mãos se deposita
a alma da palavra que é redita.

João Mattos e Silva, Intemporal, Lisboa: Universitária Editora, 2003, p. 72

Vinheta 13 - À memória de Dante

A vinheta desta semana é alusiva à memória de Dante Alighieri que terá morrido a 13 ou 14 de Setembro de 1321. A sua obra mais emblemática é a Divina Comédia

Luca Signorelli, Dante Alighieri (detail)
part. affresco della cappella di San Brizio, Duomo, Orvieto


Purgatório

CANTO I

Buscando águas melhores iça as velas
a navicela deste meu engenho
que deixa atrás de si cruéis procelas;
e do segundo reino cantar venho
em que a alma humana purga e se habilite
por digna de ir ao céu no seu empenho.
A morta poesia ressuscite,
ó santas Musas, sendo eu vosso, e então,
já surgindo Calíope, palpite
aquele som seguindo-me a canção,
que fez as Pegas míseras sentir o
golpe a desesperá-las do perdão.
(...)

Dante Alighieri, A Divina Comédia Lisboa: Bertrand, 2006, p. 171
(trad. Vasco Graça Moura e ilustr. de Júlio Pomar)

10/09/2010

Um Diário caído do Céu

Ontem, quando cheguei a casa tinha o Diário de William Beckford em Portugal e Espanha à minha espera. Foi uma boa surpresa depois do cansaço do dia poder folhear o que aconteceu no dia 9 de Setembro de 1787, como se pudesse ter viajado no tempo. O Diário é um livro que narra os costumes da sociedade portuguesa do Antigo Regime vista por um estrangeiro, neste caso o escritor William Beckford.
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George Romney,
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Upton House, Warwickshire, Grã-Bretanha

Diário Português

Domingo, 9 de Setembro. Convento da Cortiça.

Nuvens e vapores sobre a planície, o Sol quase sempre oculto. Depois da missa, D. Pedro foi com Verdeil desenhar uma vista do convento. Eu pus-me a vaguear através das moitas que vestem as faces pedregosas de uma íngreme encosta. Heras à mistura com bagas e pervinca com as suas flores vermelhas. Tivemos um gordo jantar, mas a sobremesa foi real: grandes cestos da melhor fruta. O abade depois do repasto, parecia animado pelo espírito de contradição. Eu sentia-me contrariado e inquieto. D. Pedro* prestou-me pequenas atenções. Apetecia-me chorar. Que infeliz, que aflito eu me sentia, de um lado para o outro, a arrastar os pés. Todas as esperanças que ontem tinha alimentado se desvaneceram. Ao pôr do Sol trepei por entre as rochas musgosas para uma pequena rotunda coberta de alfazema. Ali fiquei, embalado pelo murmúrio das ondas que investiam contra a costa a pique. As nuvens caminhavam, vagarosamente, por cima das serras.

Diário de William Beckford em Portugal e Espanha, Lisboa: BNP, 2009, p.131 (Intr. Boyd Alexander, trad. João Gaspar Simões) 3ª edição.
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*O contexto mostra claramente que Beckford, muito deprimido, escreveu o contrário do que queria dizer e que D.Pedro (de Marialva) lhe tinha prestado "pouca atenção" (N.E)


Anna Shelest plays Mozart Sonata in B-flat K 281, Ist movement, Allegro

09/09/2010

De Apolo o carro rodou pra fora. Jethro Tull.

De Apolo o carro rodou pra fora

De Apolo o carro rodou pra fora
Da vista. A poeira que levantara
Ficou enchendo de leve névoa
O horizonte;

A flauta calma de Pã, descendo
Seu tom agudo no ar pausado,
Deus mais tristezas ao moribundo
Dia suave.

Cálida e loura, núbil e triste,
Tu, mondadeira dos prados quentes,
Ficas ouvindo, com os teus passos
Mais arrastados,

A flauta antiga do deus durando
Com o ar que cresce pra vento leve,
E sei que pensas na deusa clara
Nada dos mares,

E que vão ondas lá muito adentro
Do que o teu seio sente cansado
Enquanto a flauta sorrindo chora
Palidamente.

12-6-1914

Ricardo Reis, Odes, Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).
p- 21.


Jethro Tull: Ian Anderson 's Flute Solo (07/31/1976)

08/09/2010

O barco avança sem destino

o barco avança sem destino.
as noites, os dias, o barco avança sem destino.
o oceano é infinito.

José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas, Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2007, p. 77

07/09/2010

Lohengrin

Lohengrin é um nobre cavaleiro do século X ligado às lendas Arturianas, filho de Parsifal,um cavaleiro da Távola Redonda. A sua personalidade exalta a beleza da justiça.
Richard Wagner compôs e escreveu o libretto da ópera Lohengrin da qual escolhi o Prelúdio do I Acto porque o acho muito belo.
Hoje já há poucos cavaleiros.

Walter Crane, Lohengrin,1895
91, 5 x 52, 9 cm

Thanks a lot!

Wagner: Lohengrin: Preludio Acto I , Maestro Toscanini

Eva

Há dias em que acordamos com vontade de pecar. Roubar o fruto delicioso da árvore da ciência do bem e do mal.
A dor move o corpo num movimento de retraimento.
A Eva de Rodin em ausência de imagem.
A Eva em sépia saída da pena.
xA
Eva

Fujo e vem comigo o mesmo lume cúmplice
ou sombra daquela árvore interposta a uns olhos
que aguardavam que eu passasse como se me desconhecessem,
e eu era inevitável, tão presente e natural
que hei-de fingir pudor e surpresa: ocultando-me para que não
cessasse
aquela luz que tornava desejáveis meus passos
rumo a um leito feliz de folhas amaciadas.

Auguste Rodin, Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p 1714 (trad José Bento)

05/09/2010

Queen - Freddie Mercury

Homenagem a Freddie Mercury que nasceu a 5 de Setembro de 1946 e faleceu a 24 de Novembro de 1991. Os Queen fizeram parte da minha adolescência e Freddie era a alma do grupo.
Bohemian Rhapsody


A morte não é o fim!

"O sentimento estético".

«O "sentimento estético" da vida não é uma "distracção" ou "um prazer" nem afirma bem uma qualidade do mundo que nos foi dado habitar: é a qualidade do que nesse mundo é vida, é a sua exaltação, e portanto invenção plena da beleza. O sentimento estético da vida não é um museu de estátuas e de telas e de ficções literárias: é a dimensão de uma vivência profunda, o reconhecimento do que supera o imediato, lhe descobre a harmonia obscura, nos permite uma íntima comunhão».
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Évora, Dezembro de 1957.
x
Vergílio Ferreira, Carta ao Futuro, Lisboa: Quetzal, 2010, p. 92-93.

Solitude...

Há momentos em que é preciso resguardarmo-nos no silêncio.
x
Pieter de Hooch (1629-1684), Mulher a ler uma carta à janela, 1664

Museu de Belas Artes, Peste, Budapeste, Hungria
Detalhe
Pieter de Hooch nasceu em Roterdão, na Holanda, foi contemporâneo de Vermeer, sofreu a sua influência quer na pintura quer nos temas retratados.
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Henry Purcell O Solitude, Z 406 - James Bowman

04/09/2010

Pearl Jam - Wishlist



Wishlist

I wish I was a neutron bomb
for once I could go off
I wish I was a sacrifice
but somehow still lived on
I wish I was a sentimental
ornament you hung on
the Christmas tree, I wish I was
the star that went on top

I wish I was the evidence
i wish I was the grounds
for fifty million hands up raised and opened toward the sky

I wish I was a sailor with
someone who waited for me
I wish I was as fortunate
as fortunate as me

I wish I was a messenger
and all the news was good
I wish I was the full moon shining
off a camaro's hood.

I wish I was an alien
at home behind the sun
I wish I was the souvenir
you kept your house key on

I wish I was the pedal break
that you depended on
I wish I was the verb to trust
and never let you down

I wish I was the radio song
the one that you turned up
I wish, I wish, I wish, I wish
I guess it never sto

03/09/2010

Quando a chuva é em forma de poemas...

Chuva de poemas para todos os que me visitam agradecendo a mais-valia na troca de ideias.

Um hino à beleza, à poesia. Retirado daqui e através de bibliotecário de Babel.



Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

É inútil dizer-me que as acções têm consequências.

É inútil eu saber que as acções usam consequências.
É inútil tudo, é inútil tudo, é inútil tudo.
Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.

Tinha agora vontade

De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.
Não vem com a tarde oportunidade nenhuma.

21-9-1930

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993), p. 42.

Vinheta 12- Setembro - Hino ao Vinho

Durante uma semana a vinheta vai lembrar as vindimas, o vinho e a alegria para esquecer o retorno à labuta diária.
Baco de Caravaggio é a pintura que escolhi para anunciar Setembro.
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Setembro - Hino ao vinho

Uvas, pão e queijo sabem a beijo!

Michelangelo da Caravaggio, Bacco,1593-1594 o 1596-1597

Galleria degli Uffizi, Firenze

02/09/2010

The Visitation!

Esta belíssima pintura intitulada: The Visitation de Selmecbánya, data de 1506 e é provavelmente a pintura húngara medieval mais conhecida. Duas santas estão em pé numa paisagem aberta: a Virgem e Isabel, mulher de Zacarias e mãe de S. João Baptista. Nesta pintura o que me despertou mais interesse foi a aproximação à pintura oriental no que diz respeito à paisagem e ao movimento do panejamento das vestes.
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Selmecbánya, The Visitation, 1506

Tempera on panel 140x 94,5 cm, Hungarian National Gallery, Buda, Budapeste
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"(...)
E tinha pressa de a mão ter pousada
no corpo da outra, já mais adiantada.
E as duas mulheres num abraço se encontraram
e nos cabelos e vestes se tocaram.
(...)"


Quatro versos do poema Visitação de Rainer Maria Rilke, AVida de Maria, Lisboa: Portugália, 2008, p. 47. (tradução Maria Teresa Dias Furtado)



Ave Maria from Verdi's Othello - Anna Netrebko

01/09/2010

"O veado contempla uma flor" ao som de "O vento é selvagem" - David Bowie

Regresso ... x
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... Agora só me resta contemplar a flor tal como o veado.

CANÇÃO (América do Norte Yaquis)

O veado
contempla uma flor.

Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p167
(versão Herberto Helder)
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David Bowie-Wild Is The Wind

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