30/08/2010

Praia

Ainda na praia... a queimar os dois últimos dias que restam.

Gostava de levar o mar para casa ou um búzio para mo lembrar.
(Reformulado a 4 de Setembro)

29/08/2010

Vergílio Ferreira...

Melo, 7 de Setembro

Inteira
no sabor
de uma dor.
Verdadeira
na cor
de uma flor
Exacta em cada momento,
e no instante do movimento
mentida
-Vida

Vergílio Ferreira, Diário Inédito, Lisboa: Quetzal, 2010 p.117

28/08/2010

Pensamentos...

Já há uns anos que não lia Vergílio Ferreira e dele só conhecia os romances e contos. Gostei bastante deste regresso e irei beber dos seus ensaios. O escritor foi ao encontro do meu pensamento sobre Sartre.
Agradeço a c.a. que me colocou este livro no caminho!
x
"Sartre é inteligente. Distrai-me a finura com que abre veredas insuspeitadas na alma humana. E esta esperteza basta-me para encher os ocos das minhas ocupações. Mas tal como Kant, Sartre esquece a vida real e histórica. É espantoso como homens deste tamanho são assim distraídos. (…) A doutrina da liberdade de Sartre creio que pode resumir-se nisto. Nós somos o que somos porque somos assim. E somos assim porque nos escolhemos deste modo".

Vergílio Ferreira, Diário Inédito, Lisboa: Quetzal, 2010 p.128

26/08/2010

Sonho!

SONHO

Penso que devo ter adormecido por algum tempo;
Pois quando acordei tinhas vindo e partido.
Apenas algumas flores permaneciam -
Flores que não podiam sequer dizer quem eram…
E uma fragrância vaga e suave no ar.
Esta noite tenho de sonhar um sonho mais longo
Para que as flores falem
E a sua fragrância estenda uma trémula ponte
Entre nós.

P.S. Rege (1910-1978) (Trad. Cecília Rego Pinheiro) p. 1501
(roubado na net aqui)

24/08/2010

Em memória de Jorge Luís Borges!

Jorge Luís Borges é um poeta que gosto muito. Nasceu em Buenos Aires a 24 de Agosto de 1899.
x
Pintor holandês, século XVII, Vanitas Still life with Terrestrial Globe
Museu de Belas Artes, Budapeste, Hungria


Os Meus Livros

Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda" (1981) Obras Completas III, 1975-1985, Lisboa: Teorema, 1989 (Tradução de Fernando Pinto do Amaral), p.113.

Astor Piazzolla y su Quinteto Tango Nuevo - Adios Nonino


23/08/2010

Em memória: Os Livros e a Censura - A. H. Oliveira Marques

Homenagem ao historiador Professor Doutor A. H. Oliveira Marques que nasceu a 23 de Agosto de 1933.
x
A Censura em Portugal é um tema que me interessa bastante.
x
Professor Doutor A. H. Oliveira Marques

Três Fases na História da Censura em Portugal
x
I- A Século XVI
"(...) A censura variou consoante a época, a personalidade dos censores e as influências por detrás dos autores. Mas em qualquer caso revelava-se sempre um elemento desencorajador para escritores e para editores. Somada à Inquisição e à influência jesuítica, fez afrouxar sem sombra de dúvida a produção literária, impedindo Portugal, de acompanhar o progresso científico e cultural europeu a um ritmo normal, e dando origem a um género assaz interessante (mas triste pelo simples facto da sua existência) de literatura clandestina que aguarda ainda ao seu historiador. Apesar de todos estes freios a um desenvolvimento cultural pleno, o mundo português na segunda metade do século XVI e na primeira metade do XVII tinha ainda vigor bastante para produzir um bom número de obras-primas e rivalizar (excepto no campo científico) com a Europa culta. O surto humanista produziu alguns dos seus melhores frutos depois de 1550, especialmente entre os homens que pertenciam às gerações formadas antes ou por volta dos meados da centúria. Luís de Camões (1525?-1580) foi o maior de todo, com os Os Lusíadas publicados em 1572 e rapidamente difundidos pela Europa ilustrada. À sua geração pertenceram poetas e prosadores como António Ferreira (1528- 1583?)e o esteta e artista Francisco de Holanda (1517?-89), comparáveis ao melhor que a Europa do tempo podia oferecer. As gerações ulteriores produziram alguns autores de nomeada, tais como os historiadores Diogo do Couto (1542-1616) e Fr.Luís de Sousa (1555-1632) (...)".
xx
A. H. Oliveira Marques, Três Fases na História da Censura em Portugal, Intervenção no colóquio internacional Humanismo Latino na Cultura Portuguesa, 17 a 19 Outubro de 2002, FLUP/Porto http://www.humanismolatino.online.pt/v1/pdf/C001_01.pdf

A flor que és, não a que dás, eu quero. Ricardo Reis

Há pessoas que são recordadas através de flores. Rosas brancas associo a um cavaleiro que é imortal.
x
Edith White (1855-1946), White Roses and Glass Vases, 1901.




A flor que és, não a que dás, eu quero.
Ad juvenem rosam offerentem

A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço?
Tão curto tempo é a mais longa vida,
E a juventude nela!

Flor vives, vã; porque te flor não cumpres?
Se te sorver esquivo o infausto abismo,
Perene velarás, absurda sombra,
O que não dou buscando.

Na oculta margem onde os lírios frios
Da infera leiva crescem, e a corrente
Monótona, não sabe onde é o dia,
Sussurro gemebundo.

21-10-1923

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

22/08/2010

A beleza da Morte em Veneza... movimento.

A beleza é a razão de viver. Ela aguça-nos o espírito, faz-nos esquecer a tristeza e eleva-nos até às nuvens! Assim, foi o que me aconteceu quando há uns anos li "A Morte em Veneza", vi o filme de Visconti e, quando no youtube, vi este bailado com o mesmo tema.
x
"Pois só a beleza, meu Fedro, e só ela, é digna de ser amada e visível ao mesmo tempo: ela é — nota bem! — a única forma do espiritual que recebemos através dos sentidos e que podemos suportar pelos sentidos. Ou então, o que seria de nós se, por outro lado, o divino, a razão, a virtude e a verdade se nos quisessem revelar através dos sentidos? Acaso não morreríamos e nos consumiríamos de amor, como outrora Sémele perante Zeus? Assim, a beleza é o caminho do homem sensível para o espírito — só o caminho, um meio apenas, pequeno Fedro..."
x
Thomas Mann - Morte em Veneza, Lisboa: Círculo dos Leitores, 1990, p.84

Jorge Donn performs Adagietto by Bejart in St.Petersburg, Russia; 5ª Sinfonia de Gustav Mahler (Adagietto).

21/08/2010

Angela Gheorghiu - Casta Diva

A beleza no canto sublime de Angela Gheorghiu

Casta Diva - ária do I Acto de Norma!


Angela Gheorghiu. Live From Covent Garden, The Royal Opera House Orchest,Ion Marin 2004

20/08/2010

As sombras de Ondina Braga...

É com prazer que tenho lido Maria Ondina Braga.
A inteligência, a perspicácia e a profundidade com que observa o que a rodeia: os pequenos objectos, que aquece com a alma; as sombras que cortam a luz num pequeno quarto; as viagens e a diversidade cultural vivenciadas, fizeram dela uma mulher corajosa, desafiadora, sensível e frágil interessante e estranha!
x
A carta veio por intermédio do jornal e dizia:
"Desculpe-me o à vontade de lhe mandar este poema. Desconhecidos somos, mas quem se conhece, afinal? Além disso, foi você quem mo inspirou, melhor o seu artigo de quinta-feira."
Depois, pormenores: no comboio para Lisboa lera a divagação dela sobre as "Sombras". Ele também sofria de sombras. E não só de noite. Em pleno dia. Por vezes no meio da multidão. Uma afinidade aquilo das sombras. Poderiam conversar os dois?
Ela respondeu que sim, sem aludir ao poema. Eram versos esforçados de som e pausa:

sombra antiga
ida
viva
x
Imaginou-o pequeno e tímido.


O Homem dos olhos de Jade in Maria Ondina, Amor e Morte (contos), Braga: Livraria Editora Pax, s.d., p.169

Brel "Quand on a que l'amour" mis en scène par Maurice Béjart.

Vinheta 11 - A Invenção da Glória.

A partir de hoje e durante a próxima semana a vinheta lembra Invenção da Glória: D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana.
x
A Glória de uns é sempre a derrota de outros... O que é a glória?
x
A INVENÇÃO DA GLÓRIA: Assalto a Arzila, em 1471, pelas tropas de D. Afonso V (pormenor) Lã e Seda
Pastrana (Guadalajara), Colegiata de Nuestra Señora de la Asunción
x

imagem da capa do catálogo em pdf do MNAA

A exposição A Invenção da Glória. D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana’ reúne pela primeira vez em Portugal os quatro monumentais panos, tecidos em Tournai por encomenda de D. Afonso V, conservados na Colegiada de Pastrana desde o século XVI e recém-restaurados sob o patrocínio da Fundação Carlos de Amberes.

in MNAA

As tapeçarias Pastrana são quatro monumentais panos de seda e lã. Representam a Conquista de Tânger, o Desembarque, o Cerco e o Assalto a Arzila. São documentos que podem auxiliar o estudo sobre as conquistas no Norte de África, as tácticas e a visão dos vencedores.

D. Afonso V aparece identificado pelo seu estandarte, um rodízio que asperge gotas, pela mais bela das armaduras e ricamente vestido de panos brocados. A conquista de Tânger é a única tapeçaria em que o rei não aparece.

Para saber mais sobre o assunto será melhor visitar a exposição que decorre no Museu Nacional de Arte Antiga até 12 de Setembro. No site do museu tem alguma informação.

Nota - a música não é contemporânea de D. Afonso V

Flow my tears" by John Dowland, Valeria Mignaco, soprano & Alfonso Marin, lute


19/08/2010

Um, espelho, um violino e muita luz...

Encontrei a Lição de Violino no blogue indicado.
x
Gostei da atmosfera: duas mulheres, um violino, um espelho que distorce a realidade ou a projecta.
Maravilhei-me com a luz, muita luz reflectida na parede, nos objectos, nos vestidos e no chão. As cores suaves do quadro transmitem harmonia e serenidade. Que história se poderia contar? Estou tão preguiçosamente enlevada que não consigo arranjar uma história. Fecho os olhos e ela desenrola-se. Gostaria de resumir tudo numa palavra, sem espartilhos, como sonhou Vergílio Ferreira no seu Diário. No Romancero generale encontrei um poema do século XVII que encerra o meu pensamento...

Leonard Campbell Taylor, A Lição de Violino

Óleo sobre tela

Retirei daqui Victorian Edwardian Paintings

Como o vento murmuram
minha mãe, as folhas
e ao som adormeço sob a sua sombra
.

Anónimo, Romancero general (início século XVII) in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p.931 (trad. José Bento)

Dedico, timidamente, este poema a uma amiga que ganhei caída do céu e hoje faz anos. Parabéns!


Mozart Violin Concerto No. 5 in A major (Turkish) K219 - Janine Jansen, European Union Youth Orchestra, Vladimir Ashkenazy conductor


18/08/2010

"E no céu pendia um outro ser" - Toon Tellegen

Escolhi este poema, do poeta holandês Toon Tellegen, porque gostei da sua simplicidade e grandeza. As coisas mais simples são as mais belas...

x

"E no céu pendia um outro ser", algures entre os céus de Budapeste e Portugal.

x




Eu podia escolher

Eu podia escolher
Não tinha ideia
Escolhi a paz.

A verdade e a beleza
Deixei-as ir,
E também a sageza e a nostalgia
Até o amor,
Que tão embevecido me olhava,
Negras nuvens com ele se deslocavam

Paz, era paz.
E nos recônditos da minha alma
Dançavam seres
De que nunca tinha sequer ouvido!

E no céu pendia um outro ser.

Toon Tellegen, Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p.1795 (trad. Fernando Venâncio)

17/08/2010

Tosca - Jonas Kaufmann

Sombra e Luz, perspectiva dos Arcobotantes, Duomo, Milão, Itália.
x

A atmosfera da catedral seria excelente para ouvir esta ópera.

Jonas Kaufmann "E lucevan le stelle" Tosca



16/08/2010

Das viagens... o Desassossego!

O Danúbio e Parlamento de Budapeste, Hungria


As viagens perturbam. Trago na bagagem o que Fernando Pessoa colocou no seu Livro do Desassossego:

"De qualquer viagem, ainda que pequena, regresso como de um sono cheio de sonhos - uma confusão tórpida, com as sensações coladas umas às outras, bêbado do que vi.
Para o repouso falta-me a saúde da alma. Para o movimento falta-me qualquer coisa que há entre a alma e o corpo; negam-se-me, não os movimentos, mas o desejo de os ter
".

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Assírio & Alvim, 3.ª edição, Lisboa, 2008, p. 131 (texto 122)


x

Ninguém gosta de almas perturbadas, por isso vou fechar a alma!

Às vezes não é preciso ter voz para se ser um grande Senhor!

Burt Bacharach - This Guy's In Love With You Feb 2008



Um momento delicioso de carinho e idoneidade!

15/08/2010

A cor da saudade...

Saudades...

x
Palácio Real, Buda, Budapeste. Hungria.

Saudade - Ortega Y Gasset

"Eu comecei aqui o meu primeiro ano como "espectro". Como vou poder entrar na intimidade de Portugal? Não haja dúvida: esse entrar tem, imperdoavelmente, algo de invasor - é esforço, ânsia, combate, paixão e frenesim. Todo o intimar é invasão. é em algo, "invasão dos bárbaros"*. A vida na sua forma plena e antiespectral possui imperdoavelmente uma dimensão de deliciosa barbárie".
x
José Ortega Y Gasset, Saudade, notas de trabalho,Lisboa: Setecaminhos, 2005, p. 18 (trad. Maria J. Tavares)
x
*O autor emprega o termo bárbaro, numa clara referência à etimologia grega da palavra i.é., estrangeiro/estranho.

14/08/2010

Vinheta 10 - Força, Justiça e Prudência!

A vinheta desta semana contempla as três virtudes cardeais: A Força, a Justiça e a Prudência. Escolhi-as para pensar nelas, talvez assim, ganhe mais firmeza, seja justa e prudente ou aprenda a ser sapiente palavra que me agrada mais. Gostava muito de ser sapiente!
x
Fresco de Andrea di Giovanni (1378-1417), A Força, a Justiça e a Prudência
x
Parte de um Fresco do Palazzo Isidori, Perugia, Museu de Belas Artes, Budapeste, Hungria

"O segredo da força está na vontade".
Giuseppe Mazzini

"Não podemos ser justos se não formos humanos"
Luc de Clapiers Vauvenargues

"O homem prudente não diz tudo o que pensa mas pensa tudo o que diz"
Aristóteles

(Citações retiradas do Citador)

12/08/2010

Praias... Al Berto

Num intervalo dos meus afazeres encontrei na casa improvável um excerto de um poeta que gosto muito Al Berto. Diz-se que um pensamento leva a outro e a outro e de repente vejo-me com um livro que li durante uma estadia no Alentejo. Nessa altura tinha mais tempo. Agora é simplesmente um desejo de ver o mar "como um mergulhão".
x
14. Praias
A luz afoga-se no silêncio destes lugares desertos. Um mergulhão em voo picado entra numa onda.
xxxxxPedra Casca: caminha pelas areias e pensa na cidade que se liquefaz na memória. Passo a passo, estremece com aquilo que desejas. E não desejas mais do que entrar neste mar, como mergulhão.
xxxxxBurrinho: uma noite são mil anos. Mil anos são um dia. Respira fundo e pensa: " Sou um aventureiro, quero conhecer todos os países e todos os povos do Mundo".
xxxxxMorgavel: dizem que os pássaros e as borboletas são a alma dos mortos. Talvez tenhas chegado à casa que flutua no meio da barragem. Descansa agora, no agasalho dos teus antepassados.
xxxxxOliveirinha: estende o corpo, adormece debaixo da sombra do meu. Sorris, quando te segredo, que a sombra te seja leve.
xxxxxSamoqueira: caminhamos pelos continentes em direcção à casa imaginada. Espoliados de projectos e de esperança.
xxxxxÀ porta de alba encontramos os mortos, com os cabelos emaranhados em tumultuosas estrelas. Brilham, como pirilampos, ao fundo do túnel da noite. É para esse litoral que nos dirigimos.
x
Al Berto, O Anjo Mudo, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p.37

Em memória do Feiticeiro de Oz !

Em Memória do Feiticeiro de Oz que hoje faz 71 anos. Um filme que é muito querido cá por casa e que eternizou Somewhere Over The Rainbow.
Na voz de Rufus esta canção é também muito bonita!

Rufus Wainwright - Somewhere Over The Rainbow (Palladium)

11/08/2010

O Beijo.

«Não te beijo e tenho ensejo
Para um beijo te roubar;
O beijo mata o desejo
E eu quero-te desejar.»

António Aleixo, Este Livro que Vos Deixo,Lisboa: Editorial Notícias, 2003

Rodin, Museu de Belas Artes, Budapeste, Hungria.

Encontrei este beijo de Auguste Rodin no Museu de Belas Artes, em Budapeste. Rodin é um escultor que gosto imenso e este beijo é de uma grande beleza, apesar de saber pouco da sua história, julgo que vale a pena este apontamento.
x
Nota: Na legenda que acompanha a peça consta que é de Rodin, Será? Nada pude averiguar, apesar disso, dada a beleza da peça, resolvi fazer este apontamento.

10/08/2010

Bach - Air!

A noite sem estrelas levou-me até Bach à procura de algum brilho.

J. S. Bach's Air on a G-string, from his 3rd orchestral suite in D major.


x
Quando queremos comunicar e não conseguimos,
o céu enche-se de nuvens e as estrelas ficam escondidas!

09/08/2010

A perturbação enriquece!

No Museu de Belas Artes de Budapeste vi este busto de uma "Parca" que me perturbou, não só por causa da peça escultórica estar tão realista mas, também, pela sua falta de beleza. Infelizmente tinha pouca informação, a loja do museu estava em obras e não consegui encontrar em inglês um bom catálogo da exposição. Julgo que poderá ser uma cópia.
Esta Parca era uma das três deusas, ou moiras na mitologia grega, que determinavam o curso da vida ou o destino.
x
Parca, cerca de 1600, de um mestre italiano não identificado.

Museu de Belas Artes, Budapeste, Hungria

A perturbação enriquece!

Em Roma, as Parcas (equivalentes às Moiras na mitologia grega) eram três deusas: Nona (Cloto), Décima (Láquesis) e Morta (Átropos).

Determinavam o curso da vida humana, decidindo questões como vida e morte, de maneira que nem Júpiter (Zeus) podia contestar suas decisões.

Nona tecia o fio da vida, Décima cuidava de sua extensão e caminho, Morta cortava o fio. Eram também designadas fates, daí o termo em ingles "fate"(destino) é interessante notar que em Roma se tinha a estrutura de calendário solar para os anos, e lunar para os actuais meses. A gravidez humana é de nove luas, não nove meses; portanto Nona tece o fio da vida no útero materno, até a nona lua; Décima representa o nascimento efetivo, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, o individuo definido, a décima lua. Morta é a outra extremidade, o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento.


Sobre o Caminho

Nada

nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra

Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença

Não colecciones dejectos o teu destino és tu

Despe-te
não há outro caminho

Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"

08/08/2010

Um concerto em Budapeste

As torres da Basílica de Santo Estevão cortam os céus e tornam a praça, ladeada por cafés e restaurantes, num espaço muito agradável. Assisti a um concerto de órgão com o solista Gyula Pfeiffer, acompanhado pelo trompetista György Geiger, a violinista Éva Dúlfalvy e as vozes da soprano Susanna Skoff e do tenor Láslzló Honinger, foi belo!
x

xBasílica Franciscana de Santo Estevão, dedicada ao santo que foi o primeiro rei da Hungria.
A construção foi iniciada em 1851.

Uma das cúpulas da Basílica
Nathan Milstein toca Massenet Thais Meditation, uma das músicas do concerto


06/08/2010

Vinheta 9 - Memorial do Holocausto

Os Justos não são vencedores mas a sua verdade é !

x

O Memorial do Holocausto é uma belíssima escultura que encontrei em Budapeste. É composta por um salgueiro-chorão onde cada folha tem inscrito um nome. A beleza da peça é maior se pensarmos que o choro representa a desumanidade das políticas anti-semitas e do genocídio praticado.



Imre Varga, Memorial do Holcausto, 1991, Budapeste, Hungria.




A escultura foi criada por Imre Varga em memória dos 600 000 judeus húngaros mortos pelos nazis na II Guerra Mundial. Foi inaugurada em 1991 e foi subsidiada em parte pelo actor Tony Curtis.

A escultura encontra-se no pátio da Grande Sinagoga construída em estilo bizantino-mourisco pelo arquitecto vienense Ludwig Förster, entre 1854-1859.


Os Justos

Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.

Jorge Luis Borges, in "A Cifra" (1981) Obras Completas III, 1975-1985, Lisboa: Teorema, 1989 (Tradução de Fernando Pinto do Amaral), p.340.

Arquivo