31/07/2014

Aprazíveis Diálogos - IX

 Hoje a história é contada pelo Amigo Henrique Antunes Ferreira da Minha Travessa do Ferreira. Há um local que nos uniu neste mundo virtual: esse lugar mágico é Goa. Pois, é exactamente de Pangim que o Henrique nos traz o seu aprazível diálogo. Muito obrigada.
À Frederika desejo que escreva muitos livros e tenha muito sucesso. :))

Frederika, minha Amiga
Nascida em Setembro de 1979, em Pangim, a capital de Goa, Frederika Menezes, vítima de paralisia cerebral, está em casa, a Vivenda Menezes, sentada na sua cama, com alguma dificuldade de se equilibrar. Conhecemo-nos há oito anos, mais coisa menos coisa, ficámos amigos e continuamos a sê-lo. Os pais ambos médicos são um casal exemplar. O Dr. José (Zito) Menezes foi colega da minha mulher durante os sete anos do então Liceu Nacional Afonso de Albuquerque, hoje um tribunal superior.
Arquitectura portuguesa em Pangim [ana]
Por seu turno, a Dr.ª Ângela é igualmente uma Senhora  excelente que vem apoiando a filha nas mais complexas situações. Frederika tem um irmão, o José João que actualmente se encontra no Dubai com a mulher e duas filhas, trabalha ali pois os salários em Goa são baixos. Vêm sempre que lhes é possível a Pangim. Frederika Raquel sente a falta das sobrinhas. Por isso todos os dias contactam através do Skype.

É esta jovem simpática, que gosta de se rir, autora de cinco livros, que fez o lançamento dos últimos dois, “Unforgeten” e “Stories in Rhyme”, o primeiro é ficção pura e o segundo são poesias para crianças, ambos ilustrados por artistas plásticos também Goeses. Desloca-se numa cadeira de rodas com a ajuda de um “anjo da guarda” o motorista de seu pai, o Sebastião, mais conhecido por Sebi que já leva 19 anos a trabalhar para os Menezes e é um fervoroso admirador de Frederika.

Ângela Menezes bateu-se denodadamente para que Frederika entrasse numa escola normal, pois de cabeça ela é, felizmente normal – e dotada. E conseguiu. Terminou o curso secundário aos 16 anos e com notas das melhores. Falar com ela é para mim um motivo de felicidade; por vezes as pessoas não entendem o que ela diz por dificuldades de dicção, mas eu esforço-me por ultrapassar isso, não lhe peço para repetir o que disse e entendo-a bastante bem. E ela – já o disse – gosta disso. E, por isso, gosta de mim; e eu, dela.

É feliz e bem disposta. Com as limitações físicas que tem dá gosto ouvi-la dizer que não tem tempo nem espaço para se queixar. A vida, para ela, é uma sucessão de momentos de felicidade e diz que tem tido sorte em todos os momentos “e eu reconheço que é assim”. Mas não se fica por aí. "Eu simplesmente adoro escrever; ela é a minha paixão e escrevo todos os dias ", diz Frederika, que se inspira no dia-a-dia, porque “tudo na vida  serve de inspiração para mim”. 

Mas, de onde lhe vem a força e a determinação que tem? Da família e dos amigos, sublinha. Participa nas redes sociais para contactar com toda a gente. Acredita que a tecnologia tornou a vida mais fácil para ela. "A tecnologia é útil para todos, não é só para mim. Teclo com dois dedos e até sou bastante rápido em comparação com pessoas que usam as duas mãos… ", e solta uma das suas gargalhadas tonitruantes pela ironia…, 

Tenho de dizer que Frederika é uma inspiração para todos aqueles que pararam após a sua doença. E acredita que na vida não vale a pena desperdiçar energia em sentido negativo. Se as coisas parecem impossíveis ou até muito difíceis, usa uma “receita” que é para ela, muito simples: "Continua a tentar. Em algum momento vais conseguir o que queres. Sou muito positiva. Qual é a utilidade de ser negativa? "

E agora uma revelação: “Eu não gosto quando as pessoas sentem pena de mim: e muito menos quando sou tratado como uma criança. Por exemplo, em vez de me perguntarem o meu nome, vão pedi-lo à minha mãe. Eu tenho personalidade, cérebro, aparência e foi-me dada esta vida bela. Não quero caridade de ninguém, por isso, gosto de pessoas que me fazem rir. Pessoas como tu ". Frisa também que não se dedica, apenas, a escrever, lê muito e gosta de pintar, com a ajuda do computador. 

Mas também escreve letras para música, porque, um dia “quero lançar um álbum com elas; mas preciso de alguém que possa musica-las e canta-las. Lê muito e também está interessada em dar palestras motivacionais, para dizer a quem me ouça, sobretudo gente como eu que o Mundo tem de ser positivo, pois há muita negatividade no ar…”

Volto, porém à sua fonte de força. “é a minha mãe. Quando eu era miúda, ela disse-me: tu tens cérebro e a funcionar bem. Afasta a inactividade, ocupa-te em alguma coisa. E foi o que eu fiz. Isso realmente inspirou-me e deu-me a força que tenho". 
Não me parece ser possível acrescentar mais alguma coisa a propósito da minha Amiga Frederika Menezes.
Antunes Ferreira

16 comentários:

  1. João,
    Às vezes também não consigo ouvir. O problema é do youtube. :(

    Beijinho.:))

    Henrique,
    Muito obrigada pelo diálogo.
    Beijinho.:))

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  2. Realmente aprazível o diálogo! Quanto se perderia se essa moça tivesse a vida que muitas pessoas com necessidades especiais têm: recolhidas, sem estímulo, sem prazeres, sendo sempre lembradas de suas limitações e não de suas possibilidades. Um exemplo de determinação da jovem autora, e, principalmente da família que a vê como realmente é. Beijos.

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  3. Este Antunes Ferreira (FerreirAmigo) é um tipo muito perigoso, ana.
    A gente gosta dele com muita facilidade.

    Deixei uma surpresa lá no blogue :))
    Beijinhos

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  4. Jane,
    Uma jovem determinada com uma família fantástica.
    Tem 5 livros publicados só desejo felicidades. :))
    Beijinho grato.

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  5. Pedro,
    O Amigo Henrique Ferreira é mesmo perigoso...:)))

    Obrigada Pedro.
    Beijinho.:))

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  6. Gostei muito desta história verdadeira. Tenho uma grande admiração por pessoas que apesar das suas - muitas vezes enormes - limitações, vão à luta e conseguem realizar coisas importantes, ser felizes, ser um exemplo!
    Ao mesmo tempo temos que reconhecer que muitas vezes as conquistas de pessoas com deficiência são proporcionais às capacidades monetárias das famílias, o que é tremendamente injusto para pessoas com dificuldades económicas. Ter um filho com deficiência é uma carga pesadíssima para as famílias - quer a nível emocional, quer material e o Estado devia ajudar aqueles que têm mais dificuldades. Infelizmente ajuda pouco ou nada.

    Gosto muito desta tua rubrica dos Aprazíveis Diálogos, que nos traz sempre textos interessantes.

    Um beijinho :)

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  7. Admiro as pessoas assim! De certeza que não é fácil, e nós levamos a vida a queixar-nos com as nossas pequeninas coisas, dorzinhas de alma e outras, ódios, ressentimentos, etc.
    A Frederika para mim vais ser inesquecível. Diz bem: “Unforgeten”, um belo título!
    Um beijo para si que lhe deu voz, através de outra voz: enfim, dialogando....

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  8. Isabel,
    Também admiro as pessoas que têm espírito combativo mesmo que seja muito difícil.
    Sim, a família ter meios é muito importante.
    Na Universidade tive um part-time numa associação: Centro de Paralisia Cerebral onde convivi com meninos e meninas com vários problemas.
    Alguns tiveram algumas vitórias.
    Beijinho. :))


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  9. Maria João,
    É verdade, queixamos-nos de pequenos nadas comparados com situações bem mais complicadas.
    Por favor trate-me por tu. Para mim é mais difícil. :))

    O mérito é do Henrique que nos deu a conhecer esta menina vitoriosa.

    Um beijinho grato.:))

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  10. Aqui está um exemplo, um bom exemplo de alguém com uma enorme força interior e que não baixa os braços perante as adversidades da vida!
    Frederika tem razão, qual a vantagem de se ser negativo? Temos é de olhar a vida de frente e aproveitar todos os momentos!

    Parabéns à Frederika por ser a pessoa fantástica que é, à Ana e ao Henrique Ferreira por partilharem esta história, que por ser real, nos faz olhar para a vida com outros olhos...

    Um bem hajam!

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  11. Cláudia,
    O mérito é do Henrique Antunes Ferreira e da Frederika que é uma lutadora.
    Parabéns para eles.
    Obrigada por partilhar connosco o diálogo.
    Beijinho. :))

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  12. Boa noite, Ana.
    Tenho a ideia de ter vindo aqui comentar...
    O Antunes Ferreira escreve crónicas incríveis.Diálogo perfeito, aprazível

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  13. Obrigada, Agostinho pelo seu registo. :))
    Sim, ele escreve de forma muito singular. :))
    Boa tarde.

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