08/09/2011

Ao longo das muralhas que habitamos - Cesariny

Pela estrada fora Toledo.






Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.



Mário Cesariny, Pena Capital, Lisboa: Assírio & Alvim, 1982.

5 comentários:

  1. Ana, que lindo, a foto e a escrita.
    Toledo mexeu com você mesmo, e quem fica indolente por Toledo, acho que ninguem.

    5 grandes bjs

    ResponderEliminar
  2. Cesariny... um grande poeta que poucoa pouco vai sendo arrancado ao silêncio. Obrigado, Ana!

    ResponderEliminar
  3. A ana sempre a presentear-nos com belos textos.
    Bjs

    ResponderEliminar
  4. Cozinha dos Vurdóns,
    Mexeu sim, achei uma cidade curiosa. Esta fotografia foi tirada na estrada quando me dirigia a Toledo.
    Gosto muito de Cesariny.
    5 grandes Bjs. :)))))

    Manuel Poppe,
    Eu é que agradeço a sua visita!
    Cesariny por vezes é de difícil leitura.
    Abraço!:)

    Pedro,
    Obrigada!
    Bjs. :)

    Obrigada Isabel. É tão bom saber a tua opinião pois, as tuas fotografias também são lindas!
    Bjs. :)

    ResponderEliminar

Arquivo