05/10/2010

Da "República" - Carrilho, Mattoso, Oliveira Marques

No centenário da República, sublinham-se quatro pensamentos, um iconográfico, que captaram a minha atenção.
Subsiste a pergunta, o que somos para onde vamos?
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Stuart Carvalhais, ilustração para um bilhete postal de propaganda ao jornal República.
Década de 1910.

Que República?

Quando hoje olhamos para o 25 de Abril de 1974, o que vemos? Que balanço fazemos? Que sucessos, que fracassos, que impasses identificamos nós? Nos sucessos, há dados quase indiscutíveis: a estabilização da democracia, depois de quase cinco décadas de ditadura. O fim do colonialismo, depois de muitos anos de cegueira política e 13 anos de guerra. A abertura ao desenvolvimento, em contraste com a letargia do Estado Novo. Os fracassos são, naturalmente, mais controversos. (...)

No plano da democracia, o fosso entre a sua dimensão representativa e as exigências participativas tem aumentado, sem que se consiga responder com eficácia à degradação dos partidos, à descredibilização dos políticos ou ao desinteresse dos cidadãos."

Manuel Maria Carrilho, E Agora? Por uma nova República, Porto: Sextante Editora, 2010, p.61.
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"Por influência do meu pai e do ambiente familiar, confesso que a [I] República tomou uma atitude inaceitável para com a Igreja e os católicos. Teria sido muito mais inteligente se tivesse encontrado uma via de entendimento."
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José Mattoso, Revista Ler "Ao Sabor da História", nº 94 ,II Série, Livros & Editores, p.32
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Sobre o livro, o historiador escreveu:
" Tentou debruçar-se sobre os acontecimentos com esse máximo de imparcialidade que a condição humana do historiador permite. Se conseguiu ou não, o leitor dirá. Acaso a ausência de uma ideologia vulgarmente reconhecível fará destes sete pequenos capítulos uma obra de tendência "burguesa" a olhos marxistas e um livro com cheiro socialista a olhos burgueses. Oxalá assim seja, porque nada melhor aspira o autor do que a fugir aos rótulos ideológicos com que se costumam etiquetar as pessoas".
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A. H. Oliveira Marques, A Primeira República Portuguesa, Texto Editores, 2010, (2ª edição), Prefácio.

3 comentários:

  1. Às vezes, Ana, penso que com monarquia ou com república, o nosso rumo nunca seria muito diferente do que foi. A «envolvente» obrigar-nos-ia, mais cedo ou mais tarde, a tomá-lo. Só o Salazarismo, na verdade, me parece ter alterado qualquer coisa no nosso carácter «colectivo», tornando-nos politicamente mais tímidos, menos belicosos, reclamativos mas praticamente inconsequentes, talvez demasiado amigos da paz, do sossego e do conforto pessoal.

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  2. Gosto de História (assim mesmo, com letra maiúscula) e já li o suficiente para saber que ela é sempre a versão da facção vencedora. Talvez por isso me atraia o outro lado, saber o que pensa(ra)m os que ficaram pelo caminho.
    Por outro lado, é um desafio saber até que ponto um povo permite que alguém o manipule, que se sirva dele, quase infinitamente, com o único intuito de chegar ao poder. Estou a pensar no povo português, sim. Que parece ter sido enfeitiçado e continua a sonhar com um qualquer D. Sebastião...

    Beijo :)

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  3. Luísa,
    Concordo em absoluto com a sua ideia em relação aos dois regimes.

    No que diz respeito ao Salazarismo, apesar de tornar as pessoas politicamente mais tímidas, julgo, no entanto, que a oposição era mais coerente, mais lutadora e merecedora de um espírito de luta colectivo e acérrimo, obviamente na clandestinidade.

    O conforto pessoal, o individualismo e o sossego vejo-o mais na actualidade. A abstenção dos últimos anos revelam a descrença e despolitização de uma nova camada da população.

    AC,
    Achei graça à sua proposição porque é exactamente o que eu penso. Nada mudou desde os regimes existentes na "polis".
    As oligarquias impõem-se sempre, mesmo num regime dito democrático.

    Quanto aos outros que ficaram pelo caminho, isso pertenceria ao campo da História virtual, abstenho-me.

    A sua opinião, sobre ver até que ponto um povo se deixa manipular, fascina-me: até quando esta letargia?

    D. Sebastião é o lado sonhador dos portugueses, é a inércia, é também, a beleza poética de uma utopia.

    Luísa e AC,
    Muito obrigada por me fazerem pensar. Boa semana e um grande sorriso.:))

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