04/10/2010

Permanências em Tempo de Mudanças... - A. H. Oliveira Marques

Em ano de comemoração do Centenário da República ofereci a mim mesma o livro: A Primeira República Portuguesa, do Professor Doutor A. H. Oliveira Marques. É um período da história portuguesa que não me atrai particularmente. Digamos que gosto de determinados aspectos. O livro é interessante e aliciante. Foca as estruturas e conjunturas que estão na base das alterações do regime monárquico para o regime republicano - permanências e mudanças. Há muitos trechos que gostaria de referir mas, por falta de tempo, apenas escolhi estes dois excertos.

"Veio a Guerra* e o seu difícil rescaldo. As hesitações dos governos, pressionados pelas questões políticas e pela falta de continuidade no poder, justificaram as críticas de muitos e impediram que a questão frumentária pudesse continuar a ser debelada no quadro lei de Elvino de Brito. A legislação numerosa e contraditória (decretos e leis de 1915, 1916, 1918, 1919 e 1921, ente os mais importantes) que saía do Terreiro do Paço pouco ajudava".

Carlos Reis, A Talha Vidrada, Não Datado


Óleo sobre Tela, 152 x 97, 5 cm , Museu Carlos Reis, Torres Novas

"Nas artes, a persistência das antigas formas e estilos sentiu-se ainda mais do que na literatura. Predominaram o naturalismo e o nacionalismo na pintura, na escultura e na arquitectura, com geral alplauso do público. As exposições de arte (em constante aumento desde 1910) mostraram sem fadiga uma sucessão monótona e sempre crescente de pintores neo-românticos, tratando com as mesmas técnicas dos mesmos temas, onde o camponês e o cenário rural "típicos" eram exaltados formosamente e artisticamente, com desprezo pela cidade e pelos valores urbanos. Uma corrente deste tipo, apesar da qualidade em geral boa dos seus representantes (Carlos Reis, Falcão Trigoso, António Saúde, Alves Cardoso, Alberto de Sousa e os velhos mestres que continuavam activos, como Malhoa e Columbano) não traziam inovações, e não podia interpretar as grandes mudanças que Portugal e o Mundo iam atravessando".

*(1914-1918)
A. H. Oliveira Marques, A Primeira República Portuguesa, Texto Editores, 2010, (2ª edição), p.21 e 89.

4 comentários:

  1. Muito interessante. gostei especialmente da parte da arte e das permanências.
    Bom dia!

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  2. Margarida,
    Também gostei deste excerto. Do que gosto mais na 1ª República é da cultura, educação e das mentalidades, a política enfastia-me por ser tão árida...
    Boa tarde! :)

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  3. De facto, todas as mudanças são graduais e, frequentemente, morosas. Não basta decretar uma mudança para que ela se efective. Parafraseio a Margarida: "muito interessante!".

    Obrigada pelas sempre calorosas imprssões e votos retribuídos, sinceros e redobrados de um excelente feriado :)

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  4. R,
    Obrigada pela sua visita e desejo também um excelente feriado, com as cores outonais que nos encantam! :)

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