18/05/2016

O amor utopia


Johann Michael Millitz, Magnatas retratados como Adão e Eva, 1770,
Galeria, Nacional Húngara 
O amor utopia

Um tabuleiro de xadrez
sem peças...
pousado em cima da mesa.
Esquecido?
os quadrados pretos e brancos
ocupam o espaço geometricamente delicado.
É um tabuleiro isolado,
sem rei, sem rainha e sem castelo,
os cavalos e os peões desertaram;
o bispo, sábio estratega, desapareceu
não faz sentido a sua existência.
Um tabuleiro de xadrez.

Quadrados todos iguais cromaticamente
diferentes, criando um espelho difuso,
um labirinto magnético e criador
de ilusões.
Ao olhar fixamente o xadrez movimenta-se
e cria uma espiral em movimento.
Gira, gira, em movimentos concêntricos
que levam à queda
no abismo.

Movimentam-se os homens em vez das peças,
de um lado para o outro,
em linha recta,
na diagonal,
ao acaso,
sem sentido,
marionetas engendradas pelo senhor que comanda o destino.
Choram os homens o amor perdido,
o amor ilusão.
o amor utopia.

ana

O belíssimo Intermezzo de Mascagni no filme sobre a ópera Cavalleria Rusticana
 de Franco Zefirelli.
Obrigada a quem mo ofereceu.

25 comentários:

  1. Gostei imenso desse teu O AMOR UTOPIA !
    Não conhecia essa tua veia.
    Muitos parabéns e o meu beijo amigo.

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    1. Obrigada, João.
      Vou escrevinhando...:))
      Um beijo amigo.

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  2. Boa noite, Ana,

    O poema é de sua autoria? Gostei, e muito, assim como fiquei maravilhada com o Intermédio.

    Beijinho.

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    1. GL,
      É,sim. Obrigada. O filme exalta a ópera.
      Beijinho.:))

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  3. Intermezzo, assim é que está correcto. As minhas desculpas.:(
    Tenho um amigo que diz, com graça, que desde que a máquina decidiu ter vontade própria que a vida nunca mais foi o que era. Perante a gralha acima, não posso estar mais de acordo!:)

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    1. Ahaaa, haaa .:))
      Muito bom o dito do seu amigo.
      Percebe-se a gralha.
      Beijinho.

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  4. ~~~
    Um poema muito expressivo, com uma construção notável,
    tendo como base uma metáfora intensa e singular.
    Choram os homens e deviam chorar os deuses...

    A composição musical também é admirável.
    Prevalece um apurado bom gosto.
    A que estamos habituados.

    Beijinhos, Poeta.
    ~~~~~~~~~~~~

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  5. BRAVO!!
    Ana, faz muito bem tirar os escritos da gaveta...:))
    Belíssima a música!
    Um beijinho amigo.:)

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    1. Obrigada, Cláudia.
      Às vezes é assim, abrimos a gaveta.:)))
      Beijinho com saudades.:))

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  6. Um poema magnífico coroado pelo belíssimo Intermezzo!
    Parabéns, inspirada ;)
    beijinho grande

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    1. Obrigada, Gracinha.
      Não sei se estava inspirada, saiu... :))
      Beijinho grande. :))

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Deus dê muita saúde a quem lhe ofereceu tão bela música. Merece.

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    1. Bea,
      Tem razão. Já muito tempo que não vejo essa pessoa mas faço meus os seus votos.
      A ópera encantou-me e, em particular, este Intermezzo marcou-me profundamente.

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  9. O poema poderia chamar-se desalento. Quando a vida se vê na sua crueza e sem sentido, sem os véus da fantasia, diminui-se-nos a vontade de viver. Ora ela pode não ser ideal. Nós podemos ser apenas nós. Mas estamos pouco tempo demais para esse luxo que é abismarmo-nos no sem mistério. Não interessa assim tanto se é um tabuleiro de xadrêz e andamos nele "às aranhas". Por mais passos que demos, fica nada. Não podemos é perder a alegria de passar.

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  10. Um beijinho, um pouco a correr. Gostei do teu poema. Da música! De te sentir por aqui. Viva!
    beijinhos

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  11. Choram os homens o amor imerecido?
    Bela figuração criada à volta de um tabuleiro de xadrez e das suas peças.
    Um poema que vale a pena. Venham então mais.
    Bj

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