30/05/2016

Todas as cartas

Quando somos ridículos perdemos a lucidez. Não foi o caso de Álvaro de Campos.


Todas as cartas de amor 

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).
21-10-1935

 Álvaro de Campos, Poesias. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). p. 84.

25 comentários:

  1. Gosto muito do poema, gostava muito de Allison Moyet, quer a solo, quer nos projectos a que emprestou a voz.
    Beijinhos, boa semana

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    1. Bom fim de semana, Pedro.
      Só agora tive um bocadinho.
      Beijinho.:))

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  2. Lá isso é verdade...
    Mas que se há-de fazer!...

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    1. Pois é. :))
      Talvez seja um ridículo menor.:))
      Bom fim de semana!

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  3. Lá isso é verdade...
    Mas que se há-de fazer!...

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  4. Lá isso é verdade...
    Mas que se há-de fazer!...

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  5. Quem nunca escreveu uma carta de amor não sabe entender.
    Mas era tão bom esse tempo ridículo...
    E gostei da imagem !

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  6. Gostei de recordar este poema. Beijinhos Ana!

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  7. ~~~
    Cada releitura de um poema, desperta-nos sentimentos diferentes.
    Hoje achei o poema magnífico na conceção estética da expressão.

    Uma ridiculez que muito fazia palpitar o coração dos amantes que
    jamais olvidam esses momentos felizes.

    A voz doce e bela de Alison...

    Excelente semana, Ana.

    Beijinhos.
    ~~~~~

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    1. Excelente fim de semana, Majo.
      Só pude vir aqui agora.
      Beijinhos.:))

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  8. As cartas de amor, às vezes são mesmo ridículas, aos olhos de quem não as entende...mas os poemas do Fernando Pessoa, nunca o são!
    Também gostei de reler este poema.

    Boa semana, Ana:)
    Beijinhos:)

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  9. Perder a lucidez é um dom que não cabe a todos:). Alvaro de Campos pode não a ter perdido, mas Pessoa perdeu-a algumas vezes. E se não, pior para ele.

    Na verdade o poema rima com a canção. Têm uma beleza nobre.

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    1. Sim, tem uma beleza nobre.
      Só pude vir aqui agora.
      Bom fim de semana.:))

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  10. quem nunca escreveu uma carta de amor (ridícula) que atire a primeira pedra...

    devo confessar que nos últimos tempos tenho lido "poemas de amor" bem mais ridículos. bem dignos de uma qualquer Ofélia moderna - que não "modernista", helas!

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  11. Adorei, Ana!
    E o pormenor da fotografia ficou delicioso!
    beijinhos

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  12. Arte ou colecção de amores?
    Ridículo não será,
    nem pela cor nem pelo tamanho
    (que o coração se quer grande e
    fervente de sangue),
    ser monogâmico.
    É por isso que na imagem
    há dois dentro dum?
    Cantava o outro "cartas de amor quem as não tem"...
    Uma beleza este post(e)! Tanto assim que, à pála do "Ridículo", me pus a ridicularizar...
    ...
    Por exemplo, Pessoa.
    Havia lá figura mais ridícula,
    a esconder-se atrás dum bigode
    de heterónimos? E,
    no entanto, foi o que é…
    ...
    Mais ridiculas que as cartas de amor não serão as reticências?

    Bj, Ana, e parabéns.

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    1. Obrigada pelo poema que deixou, Agostinho.
      Beijinho.:))

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  13. Pobre de quem nunca escreveu uma carta de amor, triste quem nunca a recebeu.
    Ridículas?! Serão?
    O amor, o que é o amor na "língua" dos poetas?!

    Beijinho, Ana.

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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