O mar estava gélido e frio, mas o vento forte que trazia lavou-me a alma e quem me levou foi a minha amiga Graça. Obrigada.
ÀS MONTANHAS
e antes das máquinas as máquinas não eram necessárias. Os rios
desceram depois os caudais da memória e teceram o rigor dos seus
próprios percursos. E as árvores
nas margens
emergiram da nostalgia do tempo mais antigo, desse tempo anterior às
montanhas. Da cinza dos vulcões onde assentaram raízes resgataram o
fogo e estenderam a sombra para proteger as coisas
mais frágeis.
Na inicial indefinição as aves enunciaram a melodia da voz e a direção
do vento. Estabeleceram depois os limites do céu um pouco acima dos
últimos ramos. Outros animais
na sua imprudência
desenharam e apagaram vezes sem conta as fronteiras entre a terra
e a água. Descobriram a prata líquida do abraço e procuraram o ouro na
saliva dos beijos. Vezes sem conta inventaram o amor porque antes do
amor
o amor
não era necessário. Os homens construíram moinhos e trabalharam
cachimbos, escreveram o pão os sonhos e multiplicaram as candeias.
Queimaram-se no fogo do amor depois tatuaram o fogo
da palavra amor
e perderam-se nas montanhas em labirínticas viagens sem fim. Na
nostalgia do tempo mais antigo, desse tempo anterior às viagens,
esculpiram a pedra nos cumes mais altos. Mas mesmo querendo
negá-lo as pedras sempre sublinharam as fronteiras
que retalham o mundo.
E os homens ergueram então a primeira casa a partir da mesma
nostalgia rasgaram janelas nas paredes do corpo. Através desses
toscos rasgos aprenderam com os rios: na foz
reencontraram a nascente.
Das árvores onde repousa o vento aprenderam que é da terra e água
que é feito o fogo dos frutos. O mar é anterior às montanhas e antes
das máquinas as máquinas não eram necessárias: as máquinas
tal como o amor
nasceram da nostalgia do tempo mais antigo, desse tempo anterior à
fome e aos sonhos e ao trilho de todas as viagens.
Rui Miguel Fragas, O Rumor das Máquinas. [IV Prémio Literário Saldónio Gomes, 2015) Aveiro:Universidade de Aveiro Editora, 2015, p. 11 e 12.
O RUMOR DAS MÁQUINAS é o terceiro livro de poesia do Rui Miguel Fragas, com ele ganhou o IV Prémio Literário Saldónio Gomes, 2015, um prémio literário atribuído pela Universidade de Aveiro. Parabéns Rui.
O Bar do Sítio das Artes vestiu-se com os poemas do Rui,
a parede do balcão tornou-se a capa do livro, Figueira da Foz.
Rui Féteira - Rui Miguel Fragas
António Tavares, vereador da CMFF, apresentou o livro do Rui. A.T. venceu o prémio Leya 2015, com a obra O Coro dos Defuntos.
Segundo o apresentador o livro divide-se em três partes ou três livros; o primeiro, poderia ser uma aproximação ao Génesis; o segundo, ao Eclesiastes, e o terceiro ao Apocalipse. Vê, ainda, o apresentador, num último poema, um quarto livro com o nascimento de um homem novo... a esperança.
Ainda só li alguns poemas mas posso testemunhar que dos três livros do Rui este é o melhor, ele iniciou uma escalada, agora resta-lhe superar-se a si mesmo.
Na apresentação o grupo de teatro "O Pátio das Galinhas", do qual o Rui faz parte, declamaram e coreografaram alguns dos seus poemas. Foi um momento muito belo. A música utilizada foi a que aqui se coloca: Rodrigo Leão [de quem sou fã].
Fiquei maravilhado com o que li, Ana !
ResponderEliminarPodia ( e devia ! ) relevar muitos mais, mas opto por este trecho :
"
Das árvores onde repousa o vento aprenderam que é da terra e água
que é feito o fogo dos frutos. O mar é anterior às montanhas e antes
das máquinas as máquinas não eram necessárias: as máquinas".
E quanto ao vídeo e à música do Rodrigo Leão, de quem sou admirador, muitíssimo bem casado com esta obra do Rui Fragas, que não conhecia.
Muito obrigado e felicito-te pela super reportagem.
Um beijo amigo.
Obrigada, João.
EliminarSó hoje pude vir agradecer a sua presença.
Beijinho.:))
Parece ter sido bonita a apresentação do livro. Os poetas dizem as mesmas coisas de forma tão original que deixam uma pessoa desarmada
ResponderEliminarBea,
EliminarFoi bonita sim.:))
Concordo com a sua afirmação.
Boa noite.
Bela reportagem!
ResponderEliminarGostei muito da foto do mar. Deixou-me saudades:)
Um beijinho:)
Obrigada, Isabel.
EliminarSó hoje pude vir agradecer a tua presença.
Beijinhos.:))
Grato pela partilha
ResponderEliminarAveiro a minha cidade
das primitivas memórias
Bj
:))
EliminarObrigada.
Só hoje pude vir agradecer a sua presença.
Foi um momento único! Gostei de tudo, da poesia, da teatralização, do espaço, das palavras do apresentador e sobretudo da companhia...a Ana, claro!
ResponderEliminarBeijinho e obrigada por me acompanhares em momentos, como sabes, tão especiais :)
Obrigada pela boleia e pela companhia, Graça.:))
EliminarAdorei.:))
Beijinhos.
Tanta coisa coisa interessante, Ana! Um beijinho
ResponderEliminarObrigada, MJ.:))
EliminarUm beijinho.
Só hoje pude vir agradecer a sua presença.
EliminarAndo cansada...:))
Posso, Ana?
ResponderEliminarEu vejo
para lá do imagino
mel a escorrer do alto
por entre os dedos
um fio louro de ouro
a derramar-se na vastidão
do amorfismo das coisas
a dar-lhes forma e alma
e delas irromper a vida
e o tempo de amar
Levei melado o dedo
à boca da certeza
Até as vírgulas...
Parabéns ao Poeta e repórter.
Obrigada, Agostinho.
EliminarSó hoje pude vir agradecer a sua presença.:))
Esta tua fotografia é muito bonita. Gosto muito de contemplar o mar.
ResponderEliminarBeijinhos! :-)
Obrigada, Sandra
ResponderEliminarBeijinhos.:))