Bridge Over Troubled Water
A Ponte
Vidraças que me separam
Do vento fresco da tarde
Num casulo de silêncio
Onde os segredos e o ar
São as traves duma ponte
Que não paro de lançar
Fica-se a ponte no espaço
À espera de quem lá passe
Que o motivo de ser ponte
Se não pára a construção
Vai muito mais a vontade
De estarem onde não estão
Vem a noite e o seu recado
Sua negra natureza
talvez a lua não falte
Ou venha a chuva de estrelas
Basta que o sono consinta
A confiança de vê-las
Amanhã o novo dia
Se o merecer e me for dado
Um outro pilar da ponte
Cravado no fundo do mar
Torna mais breve a distância
Do que falta caminhar
Há sempre um ponto de mira
O mais comum horizonte
Nunca as pontes lá chegaram
Porque acaba o construtor
Antes que a ponte se entronque
Onde se acaba o transpor
Sobre o vazio do mar
Desfere o traço da ponte
Vá na frente a construção
Não perguntem de que serve
Esta humana teimosia
Que sobre a ponte se atreve
Abro as vidraças por fim
E todo o vento se esquece
Nenhuma estrela caiu
Nem a lua me ajudou
Mas a ruiva madrugada
Por trás da ponte aparece.
José Saramago, Provavelmente Alegria. Alfragide: Caminho, 1985, p. 83.
Cada tempo tem a sua interpretação
Já vi no Flinpo esta mesma ponte reflectida...
ResponderEliminarUm beijo.
João,
EliminarTambém vi. Não coloquei uma perspectiva só da ponte por causa disso. Escolhi esta com um homem solitário.
Tinha outras pontes mas há momentos em que gostamos mais de um conceito do que outro. Provavelmente, as outras seriam mais do agrado da maioria mas sigo a apetência do momento.:))
Beijinho.
Fazes bem em assim proceder, Ana !
EliminarUm beijo e good luck.
~~~
ResponderEliminar~ Mais do que nunca
é necessário conceber, criar e construir pontes sólidas...
~ Com a excelente criatividade e sentido de oportunidade
a que nos habituou.
~~~ Beijinhos, Ana. ~~~~~~~
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
Obrigada, Majo.
EliminarInês e Pedro passaram por águas muito turbulentas.
Beijinhos.:))
Gosto muito dessa ponte pedonal, ana.
ResponderEliminarBeijinhos, bfds
É linda, Pedro.
EliminarBeijinhos.:))
Achei lindo o poema. Gosto bastante de pontes. Beijinhos! :-)
ResponderEliminarObrigada. Também gosto.
EliminarBeijinhos.:))
Pontes, um conceito indispensável ao homem, em qualquer vertente.
ResponderEliminarPost muito bem conseguido, Ana.
m beijinho :)
Obrigada, AC.
ResponderEliminarGostei muito deste poema de Saramago.
Politicamente escreve-se na História de Portugal uma ponte em construção. Será possível a ponte? Será para o povo benéfica? Será o virar da página?
Será refrescante uma nova gestão?
As pontes são sempre um foco de esperança.
Tenhamos esperança.:))
Um beijinho.:))
Ai da vida sem pontes
ResponderEliminarpara que ninguém nos aponte
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEncontrei no meu diário uma nota que adaptei:
ResponderEliminarTinha ido ao blogue (In)Cultura, da Ana, mas não consegui atravessar a ponte. Não por sofrer de vertigens. Alguma coisa se passou e quando cliquei para publicar o comentário pfff… ardeu.
Ainda não tinha referido quem é a autora. É professora em Coimbra mas sobre isso nada tenho a dizer, até porque já não tenho idade para andar no secundário. A Ana é perita é em criar pontes e em transpô-las... Uma arte de visionários que têm a magia de materializar horizontes... mesmo que longínquos.
Por exemplo, no trabalho de hoje, A Ponte, no início uma fotografia magnífica, a meio pôs o Saramago (Provavelmente Alegria, editora Caminho, 1985, pag 83) numa insónia vertiginosa e, do outro lado, como prémio, a musiquinha Bridge Over Troubled Water do dueto Simon & Garfunkel que nos tempos gloriosos inícios década 1970 se nos enrolava no gravador de cassetes e derretia a agulha do LP; ou era o vinil que derretia? não interessa. Foi há tanto tempo que não há ponte para se voltar a esse lado.
Bj