27/03/2015

Do vazio...



V
A
Z
I
O

***

Haverá quem não partilhe este fascínio pelo facto de alguns terem arriscado a vida para manterem aberta uma escola secreta e uma Biblioteca clandestina em Auschwitz-Birkenau. Haverá quem pense que foi um acto de coragem inútil num campo de extermínio, quando há outras preocupações mais prementes: os livros não curam doenças, nem podem ser usados como armas para derrotar um exército de verdugos, não enchem o estômago nem matam a sede. É verdade: a cultura não é necessária para a sobrevivência do homem, bastam o pão e a água. É verdade que com o pão para comer e a água para beber o homem sobrevive, mas só com isso morre a humanidade inteira. Se o homem não se emociona com a beleza, se não fecha os olhos e põe em marcha os mecanismos da imaginação, se não é capaz de interrogar-se e vislumbrar os limites da sua ignorância, é homem ou é mulher, mas não é pessoa; nada o distingue de um salmão, de uma zebra ou de um boi-almiscarado.

Antonio G. Iturbe, Nota final in A Bibliotecária de Auschwitz. Lisboa: Planeta, 2014, pp. 370-71.


Em nome dos que partiram precocemente e dos que pereceram espoliados do seu ser: 
Ne me quitte pas 


14 comentários:

  1. Brel é um must, ana.
    FENOMENAL!!
    Beijinhos, bfds

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    1. O meu cantor de eleição de língua francesa.
      Beijinho e bfs.:))

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  2. Extraordinário texto, Ana. É o que penso. Bom dia!

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  3. ~ Olá, Ana.

    ~ Não conhecia a história da bibliotecária de Aucshwitz.
    ~ A senhora ainda vive com oitenta e seis anos!
    ~ Emocionante!
    ~ Vou gostar de ler o livro.
    ~ A leitura era muito importante para fugir aos brutais
    limites físicos impostos. Os livros podiam ser vitais. ~

    ~ Um ''post'' melancólico, mas uma excelente partilha.

    ~ Excelente fim de semana. ~
    ~ ~ ~ ~ Abraço grato. ~ ~ ~ ~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. O livro é baseado em factos verídicos. No final conta o que aconteceu a alguns dos protagonistas. É um livro que arrasa.
      A bibliotecária é viva e foi entrevistada pelo escritor.
      Nunca dou muitos dados do livro para deixar ao leitor a sua descoberta. :))
      Vou revelar que a biblioteca era composta por 8 livros.
      Além destes, havia pessoas livro que narravam os livros que tinham lido. Oxigénio no meio do deserto doloroso.
      Um excelente fim-de-semana.
      Abraço. :))

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  4. À terceira será de vez ...

    O Brel é uma voz autêntica. Ele não era cantor, era intérprete. Emprestava uma intensidade tal nas suas prestações que me comovia. Recordo os meus sentimentos aquando do anúncio da sua morte: tristeza, injustiça... Ne me quite pas.
    Quanto ao livro julgo ser bom. Já tinha ouvido uma referência ao mesmo do Carlos Vaz Marques, creio.

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    1. É uma voz autêntica, sim, pego nas suas palavras para partilhar essa minha paixão por Brel.
      Boa noite. :))

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  5. De todos campos de concentração, destacou-se Theresienstadt, uma pequena vila fortificada na actual República Checa para onde foram deportadas as elites judaicas da Alemanha e Europa central. Apesar de todo o horror, existia uma vida cultural intensa, com uma ópera infantil, Brundibar, com concertos e aulas de desenho para crianças. Em Praga, vi uma exposição com os desenhos dessas crianças, que o professor escondeu antes de ser deportado para Auschwitz e foi das coisas mais arrepiantes que vi na vida.

    Bjos

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