Visitei recentemente a Biblioteca Nacional de Portugal para ver três exposições: 9000 formas da felicidade: as edições Pulcinoelefante; A biblioteca do embaixador. D. García de Silva y Figueroa e Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu...
O primeiro século de edições da Peregrinação (1614-1711). A segunda e última exposições estão a decorrer até 31 de Janeiro de 2015 e a primeira até 24 de Janeiro 2015.
Viajar ou viagens são sempre um sonho. Partir ao encontro de outras culturas é o mesmo que viver o "maravilhamento" que elas constituem.
Ontem numa viagem de Metro senti que há pessoas tão estranhas [Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu...]. Mas o estranho é relativo pois pode ser aquele que:
a) se diferencia do outro por ser louvável;
b) ou por ser peculiar;
c) ou as pessoas que dói ver (falta de condições de vida);
d) ou as que têm outra cultura.
Centrei-me na última exposição referida pela mesma focar uma obra muito especial: fala de Muitas e muito estranhas cousas - A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.
Ilustram e animam a exposição as doze gravuras abertas a buril, na Holanda, em Amesterdão, entre 1652 e 1671 e gradualmente impressas durante esse período nas edições em neerlandês e em alemão. Através delas, o texto de Fernão Mendes Pinto ganha alma. O leitor consegue ver e acompanhar a narrativa.*
«Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu... é um dos subtítulos da obra que Fernão Mendes Pinto construiu para nela narrar o muito que de extraordinário viveu e presenciou.
A Peregrinaçam se fosse escrita hoje, século XXI, continuaria a ser um livro polémico. Polémico porque nos mostra o descobridor português tal como ele foi: num momento aventureiro, num momento soldado, num momento ladrão, num momento mercante, num momento crente, num momento missionário, num momento embaixador, num momento homem... mas quase sempre diferente e distante daquela figura nobre e exemplar que todos gostaríamos que tivessem sido os descobridores. Fernão Mendes Pinto coloca na boca de Raja Benão, apresentado como um velho conselheiro e interlocutor do rei dos Tártaros, mas que não é mais do que um alter ego, esta apreciação sobre os portugueses: … homens que por indústria e engenho voam por cima das águas todas para adquirirem o que Deus lhes não deu, ou a pobreza neles é tanta, que de todo lhes faz esquecer a sua pátria, ou a vaidade e a cegueira que lhes causa a sua cobiça é tamanha, que por ela negam a Deus e a seus pais (cap. 122). É essencialmente por ser um livro polémico, que descreve a realidade que o Outro não conhece (ou em que não quer acreditar), conseguindo ironizar e criticar, que o seu autor recebe o ápodo de mentiroso! O próprio autor tem consciência dessa probabilidade: … que é muito para se recear contá-lo, ao menos a gente que viu pouco do Mundo: porque esta, como viu pouco, também costuma a dar pouco crédito ao muito que outros viram. (cap. 14).
Mas não é a biografia de Fernão Mendes Pinto que nos interessa nesta exposição: 1614 nada representa na vida desse escritor que nasce em Montemor-o-Velho, circa 1510, e morre em Almada, no Pragal, a 8 de julho de 1583. O que hoje se evoca são os 400 anos que passam sobre a impressão da sua obra e o impacto, a fortuna, que a mesma teve em todo o Mundo. O que está presente é a aventura de uma obra, na vertente das suas muitas e diferentes edições ocorridas entre 1614 e 1725. O herói da exposição é o livro, enquanto livro.(...) »
*João Alves Dias, BNP
És uma felizarda, Ana !
ResponderEliminarDevias ter ido na noite de 2ª feira à Gulbenkian...
Um beijo amigo.
Até podia ter ido mas chegaria atrasada. Era ouvir Artur Pizarro?
EliminarEstive numa reunião até às 19:30 horas.
Beijinho. :))
Deve ser uma bela exposição, fiquei curiosa. Beijinhos!
ResponderEliminarMargarida,
ResponderEliminarAchei muito interessante.
Beijinhos. :))
Pela mostra com que nos brinda, dá imensa vontade de ver a exposição; que dever ser bem bonita e interessante.
ResponderEliminarUm beijinho.:))
Cláudia,
EliminarÉ muito bonita a exposição.
Ando a ler "O Murmúrio do Mundo" e sem querer entrelaço o tema viagens. :))
Beijinho.
Gostava de ver...
ResponderEliminarSe eu me movimentasse à vontade por Lisboa - de carro ou nos transportes públicos - ia lá mais vezes, mas estou dependente de quem me leve aqui ou ali, é uma chatice!
Mas vou tentar ir lá...
Beijinhos :)
Isabel,
EliminarVai que gostarás de visitar.
Gosto muito de ir a Lisboa.:))
Beijinho.
Venha que eu dou-lhe uma ajuda. :)
EliminarBom fim de semana a todos.
Quem disse Fernão Mentes não conhece o homem, do que ele é capaz (de bem e de mal).
ResponderEliminarLi o livrinho mais que uma vez e a ideia com que fiquei no final foi: é isto, tudo!
Boa fotografia e textos que tocam no essencial da "questão". Parabéns. Não fui ver esta.
Agostinho,
EliminarIria gostar de folhear o fac-simile e de ver as gravuras. :))
Boa noite!
Esqueci-me de agradecer as suas palavras.
EliminarBoa noite. :))
Ana, vim oferecê-lo para não ter que o roubar... :)
ResponderEliminarcriámos uma história
de flores
entre nós e o inverno
e agora à lareira crepitam pólenes
e zunem abelhas
onde é que já se viu?
Lídia Borges
Obrigada, Lídia.
EliminarAinda ia lá passar para ver se deixava. :))
Beijinho.
Mais uma partilha que [nos] acrescenta. Obrigada.
ResponderEliminarA viagem faz parte do nosso imaginário colectivo. O mar com seus encantos e tormentas fez-se estrada e aproximou-nos de outros povos de outras culturas. A Literatura não é imune a esta realidade e, ao longo dos tempos, produziu e continua a produzir textos belíssimos, que têm por tema a viagem, abordada nas suas diferentes facetas e perspectivas.
Beijo
:))
EliminarBeijinho, Lídia e fico contente por ter gostado:))