26/11/2014

Uma exposição na BNP - Peregrinação

Visitei recentemente a Biblioteca Nacional de Portugal para ver três exposições: 9000 formas da felicidade: as edições Pulcinoelefante; A biblioteca do embaixador. D. García de Silva y Figueroa e Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu... O primeiro século de edições da Peregrinação (1614-1711). A segunda e última exposições estão a decorrer até 31 de Janeiro de 2015 e a primeira até 24 de Janeiro 2015.

Viajar ou viagens são sempre um sonho. Partir ao encontro de outras culturas é o mesmo que viver o "maravilhamento" que elas constituem.
Ontem numa viagem de Metro senti que há pessoas tão estranhas [Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu...]. Mas o estranho é relativo pois pode ser aquele que:
a) se diferencia do outro por ser louvável; 
b) ou por ser peculiar;
c) ou as pessoas que dói ver (falta de condições de vida);
d) ou as que têm outra cultura.

Centrei-me na última exposição referida pela mesma focar uma obra muito especial: fala de Muitas e muito estranhas cousas  - A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.


Ilustram e animam a exposição as doze gravuras abertas a buril, na Holanda, em Amesterdão, entre 1652 e 1671 e gradualmente impressas durante esse período nas edições em neerlandês e em alemão. Através delas, o texto de Fernão Mendes Pinto ganha alma. O leitor consegue ver e acompanhar a narrativa.*



«Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu... é um dos subtítulos da obra que Fernão Mendes Pinto construiu para nela narrar o muito que de extraordinário viveu e presenciou. 
















A Peregrinaçam se fosse escrita hoje, século XXI, continuaria a ser um livro polémico. Polémico porque nos mostra o descobridor português tal como ele foi: num momento aventureiro, num momento soldado, num momento ladrão, num momento mercante, num momento crente, num momento missionário, num momento embaixador, num momento homem... mas quase sempre diferente e distante daquela figura nobre e exemplar que todos gostaríamos que tivessem sido os descobridores. Fernão Mendes Pinto coloca na boca de Raja Benão, apresentado como um velho conselheiro e interlocutor do rei dos Tártaros, mas que não é mais do que um alter ego, esta apreciação sobre os portugueses: … homens que por indústria e engenho voam por cima das águas todas para adquirirem o que Deus lhes não deu, ou a pobreza neles é tanta, que de todo lhes faz esquecer a sua pátria, ou a vaidade e a cegueira que lhes causa a sua cobiça é tamanha, que por ela negam a Deus e a seus pais (cap. 122). É essencialmente por ser um livro polémico, que descreve a realidade que o Outro não conhece (ou em que não quer acreditar), conseguindo ironizar e criticar, que o seu autor recebe o ápodo de mentiroso! O próprio autor tem consciência dessa probabilidade: … que é muito para se recear contá-lo, ao menos a gente que viu pouco do Mundo: porque esta, como viu pouco, também costuma a dar pouco crédito ao muito que outros viram. (cap. 14). 

Mas não é a biografia de Fernão Mendes Pinto que nos interessa nesta exposição: 1614 nada representa na vida desse escritor que nasce em Montemor-o-Velho, circa 1510, e morre em Almada, no Pragal, a 8 de julho de 1583. O que hoje se evoca são os 400 anos que passam sobre a impressão da sua obra e o impacto, a fortuna, que a mesma teve em todo o Mundo. O que está presente é a aventura de uma obra, na vertente das suas muitas e diferentes edições ocorridas entre 1614 e 1725. O herói da exposição é o livro, enquanto livro.(...) »

*João Alves Dias, BNP


16 comentários:

  1. És uma felizarda, Ana !
    Devias ter ido na noite de 2ª feira à Gulbenkian...

    Um beijo amigo.

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    1. Até podia ter ido mas chegaria atrasada. Era ouvir Artur Pizarro?

      Estive numa reunião até às 19:30 horas.
      Beijinho. :))

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  2. Deve ser uma bela exposição, fiquei curiosa. Beijinhos!

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  3. Margarida,
    Achei muito interessante.
    Beijinhos. :))

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  4. Pela mostra com que nos brinda, dá imensa vontade de ver a exposição; que dever ser bem bonita e interessante.

    Um beijinho.:))

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    1. Cláudia,
      É muito bonita a exposição.

      Ando a ler "O Murmúrio do Mundo" e sem querer entrelaço o tema viagens. :))
      Beijinho.

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  5. Gostava de ver...

    Se eu me movimentasse à vontade por Lisboa - de carro ou nos transportes públicos - ia lá mais vezes, mas estou dependente de quem me leve aqui ou ali, é uma chatice!

    Mas vou tentar ir lá...

    Beijinhos :)

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    1. Isabel,
      Vai que gostarás de visitar.

      Gosto muito de ir a Lisboa.:))
      Beijinho.

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    2. Venha que eu dou-lhe uma ajuda. :)
      Bom fim de semana a todos.

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  6. Quem disse Fernão Mentes não conhece o homem, do que ele é capaz (de bem e de mal).
    Li o livrinho mais que uma vez e a ideia com que fiquei no final foi: é isto, tudo!
    Boa fotografia e textos que tocam no essencial da "questão". Parabéns. Não fui ver esta.

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    1. Agostinho,
      Iria gostar de folhear o fac-simile e de ver as gravuras. :))
      Boa noite!

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    2. Esqueci-me de agradecer as suas palavras.
      Boa noite. :))

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  7. Ana, vim oferecê-lo para não ter que o roubar... :)

    criámos uma história
    de flores
    entre nós e o inverno

    e agora à lareira crepitam pólenes
    e zunem abelhas

    onde é que já se viu?

    Lídia Borges

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    1. Obrigada, Lídia.

      Ainda ia lá passar para ver se deixava. :))
      Beijinho.

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  8. Mais uma partilha que [nos] acrescenta. Obrigada.

    A viagem faz parte do nosso imaginário colectivo. O mar com seus encantos e tormentas fez-se estrada e aproximou-nos de outros povos de outras culturas. A Literatura não é imune a esta realidade e, ao longo dos tempos, produziu e continua a produzir textos belíssimos, que têm por tema a viagem, abordada nas suas diferentes facetas e perspectivas.

    Beijo

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    1. :))
      Beijinho, Lídia e fico contente por ter gostado:))

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