A Biblioteca de Babel Rembrandt, Titus sentado à secretária, 1655, Museu Boijmans Van Beuningen, de Roterdão,
O universo (a que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no meio, cercados por parapeitos baixíssimos. De qualquer hexágono vêem-se os pisos inferiores e superiores: interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte estantes, a cinco longas estantes por lado cobrem todos os lados menos dois; a sua altura, que é a dos pisos, mal excede a de um bibliotecário normal. Uma das faces livres dá para um estreito saguão, que vai desembocar noutra galeria, idêntica à primeira de todas. À esquerda e à direita do saguão há dois gabinetes minúsculos. Um permite dormir de pé; o outro satisfazer as necessidades fecais. Por aí passa a escada em espiral, que se afunda e se eleva a perder de vista. No saguão há um espelho, que fielmente duplica as aparências. Os homens costumam inferir desse espelho que a Biblioteca é infinita (se o fosse realmente, para que servira esta duplicação ilusória?); eu prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito... A luz provém de umas frutas esféricas que têm o nome de lâmpadas. Há duas em cada hexágono: transversais. A luz que imitem é insuficiente, incessante.
Tal como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, se calhar o catálogo dos catálogos; agora que os meus olhos quase não conseguem decifrar o que escrevo, preparo-me para morrer a poucas léguas do hexágono em que nasci.
(...)
Jorge Luís Borges, "Ficções" in Obras Completas, 1923-1949, Vol. I. Lisboa: Teorema, 1998, p. 483.
Detalhe de Melancolia de Albrecht Dürer (aqui de novo) Imagem daqui
Tal como Titus olho embevecida,
as infinitas estantes contidas
em pequenos hexágonos.
Poliedros?
Vida
em pequenos hexágonos
poligonais...
procuro o livro sublime,
o Livro dos livros.
[Em diálogo com Jorge Luís Borges, notas do dia].
Detalhe de Melancolia de Albrecht Dürer (aqui de novo) Imagem daqui
Tal como Titus olho embevecida,
as infinitas estantes contidas
em pequenos hexágonos.
Poliedros?
Vida
em pequenos hexágonos
poligonais...
procuro o livro sublime,
o Livro dos livros.
[Em diálogo com Jorge Luís Borges, notas do dia].
Em cada momento, procuramos o livro certo... nem sempre encontramos!
ResponderEliminarAs imagens são belíssimas!
Boas leituras e bom fim-de-semana.:))
Cláudia,
EliminarAndo a reler Borges, folheando aqui e ali, como quem lê poesia.
O livro certo? ... uma certa angústia para o encontrar.
Beijinho. :))
Que interessante, Ana. Bom Sábado e beijinhos!
ResponderEliminarObrigada, Margarida. :))
EliminarBeijinho.
Maravilhoso quadro de Rembrandt, que olhar tão bonito e tão curioso! Um beijinho
ResponderEliminarPois é, Maria João.
EliminarO retratado é filho do pintor.
Beijinho. :))
O mundo é a biblioteca ou a biblioteca o mundo (porque o contém)? Como forma definida - hexagonal poligonal - agregada infinitamente na unidade. Não formulo isto numa expressão indefinida porque as coisas são palavras e as palavras são coisas(?).
ResponderEliminarTudo é milagrosamente possível, até o diálogo com o passado como a Ana tão bem fez.
O desafio, agora, é compreender a materialidade efémera do ter (na mão) que nos escapa do real para o virtual, a tomar forma demencial, absoluta, percorrendo o espaço mundo / universo à velocidade da luz, assustadoramente / maravilhosamente, pela ação mágica de um clic.
Boa noite.
Obrigada pelo clic, Agostinho.:))
ResponderEliminarBoa noite.