22/02/2011

Da janela...

Carl Gustav Carus ( 1789 – 1869),Room with a View of the Bay of Naples, 1829 or 1830
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Alte Nationalgalerie, Berlin

Não basta abrir a janela

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.

É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.


Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos, (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993), p.75.

Alfredo Catalani-La-Wally-Preludi atti 3 e 4

9 comentários:

  1. Há tanta gente que abre a janela só para espreitar ... esquecendo-se, talvez por breves momentos, de olhar, observar com todos os seus sentidos, a grandiosidade do horizonte que se lhe depara...

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  2. Querida Ana,

    O poema é lindíssimo e confesso que tenho aprendido a ler Caeiro nos últimos 2 anos, através de amigos aí de Portugal.
    As vezes me pego relembrando antigos provérbios do povo rhomani, e um deles me lembra muito este escritor:

    Do que adiantam as estrelas se não olhas para o céu.

    A muito alguns sabem o quão triste é a rotina, as regras, a monotonia e o mundo pintado de cinza...

    5 bjs

    Cozinha dos Vurdóns

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  3. Uma maravilha de poema e uma pintura muito interessante. Bj!

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  4. Catarina,
    Tem toda a razão, por vezes, as pessoas não se dão conta da beleza que o horizonte pode proporcionar.
    Abrem a janela mecanicamente sem aproveitar a luz que dela emana...

    Cozinha dos Vurdóns,
    Gostei muito do provérbio Rhomani e se não se importar colocarei porque o acho demasiado belo!
    5 bjs

    Margarida,
    Gostei muito da pintura, é repousante, não é?
    Bjs.

    :)

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  5. Querida Ana, fique a vontade, os povos de boa fé são irmãos de alma.

    São três os nossos preferidos:
    1. "A sabedoria é como uma flor, de onde a abelha faz o mel e a aranha faz o veneno, cada uma de acordo com a sua própria natureza".
    2.“Aven putras nevo dromoro”  
    Avante vamos abrir novos caminhos  
    3.QUANDO NÃO SE QUER VER, PARA QUE SERVE UMA ESTRELA?" literalmente falando.

    5 bj

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  6. Olá!!

    Passando para conhecer e seguindo!!

    Abs,

    Daniele Barizon
    www.neointerativo.com

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  7. Obrigada,
    Cozinha dos Vurdóns! Gostei imenso dos provérbios.
    :)

    Daniele Barizon,
    Muito obrigada pelas suas palavras e pela visita!

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  8. Ana, não sou, digo-o convictamente, grande apreciadora de poesia. Mas os autores que cita nos seus dois últimos «posts» conseguem fazer-me estremecer naquela convicção. Talvez seja porque me parece que trabalham, nas suas obras, mais razão e menos sentimento, mais lucidez e menos palpitação. Duas magníficas escolhas «poéticas»! ;-D

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  9. Luísa,
    Muito obrigada pelo seu comentário e pela sua visita que me traz satisfação! :)

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