As lutas travadas no Irão levaram-me a pensar que, apesar da primeira década do século XXI já ter sido vivida, os problemas de fundo do século XX mantêm-se inalteráveis. A tirania, o fundamentalismo, a falta de liberdade, a falta de democracia e as assimetrias imperam num mundo cada vez mais desumanizado, despojado de idealismos e couraçados de um economicismo constrangedor. Será que a coragem vencerá? Será que algum dia o sol nascerá para todos?
Os pensamentos e o cansaço levaram-me à poesia de O'Neill e à pintura de Spyker: Medo, Coragem, Santuário.
Boa noite!
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David Jay Spyker Fear, Courage, Sanctuary,1996
Acrylics on Panel,12 x 9 in., Private Collection: Holland, Michigan
Teerão, Imagem daqui
ENTRE PEDRAS PALAVRAS
Que estupidez o sangue nas calçadas!
O sangue fez-se para ter dois olhos,
um lépido pé, um braço agente,
uma industriosa mão tocante.
Que estupidez o sangue nas calçadas!
O sangue fez-se para ter dois olhos,
um lépido pé, um braço agente,
uma industriosa mão tocante.
Que estupidez o sangue entre as palavras!
O sangue fez-se para outras flores
menos fáceis de dizer que estas
agora derramadas.
Alexandre O' Neill,In Feira Cabisbaixa
Ana,
ResponderEliminartudo vai dar certo, principalmente porque existem pessoas que sentem ...
significa que ainda não acabou. No meio de tantas guerras e tanta discórdia, discursos bonitos e falsa roupagem, o cansaço nos impreguina, nos aperta, nos asfixia.
Para que o sol fosse para todos, todos deveriam querer, mais sempre haverá alguém que dirá: o sol é lilaz e muitos irão falar: eu acredito.
Acho que Deus gosta de verde, já viu quanta variedade?
bjs minha cara, não permita que esmaguem sua ternura.
Cozinha dos Vurdóns
Pelo sonho é que vamos
ResponderEliminarO lamento não deverá fazer-se perante as lutas que são legítimas na sua natureza, mas perante aquelas vazias de humanidade e dignidade. Aí sim, com O'Neill: que estupidez!
ResponderEliminarAbraço!
Obrigada, Cozinha dos Vurdóns,
ResponderEliminarpela sua sensibilidade e pelo texto que me deixou. Apreciei sobremaneira a paleta de cores que associou ao sol!
Bjs :)
Mar Arável,
Sonhar pelo menos, impede-nos de sentir a derrota que a contagem do tempo faz pesar. Não quero pensar que tudo é e será igual ao que foi outrora, ou seja que a dimensão humana em nada evoluiu.
Sara,
O lamento não tem que ver com as lutas que são legítimas mas sim com a inércia da mudança porque as mentes que controlam o poder se deixam corromper.
"O sangue fez-se para ter dois olhos" e uma "mão industriosa e tocante".
A "estupidez" está nas palavras vazias de sentido, arma que usam os políticos para se manterem no poder.
Sim, prolongam-se, melhor, agudizam-se querras velhas. Há um descrédito do Ocidente e um fogo neo.radical islâmico. Há um conflito de interesses económicos e há um retorno a um obscurantismo religioso. É num fio de navalha que acordamos todos os dias. Gostei muito do que aí publicou.
ResponderEliminarDa perspectiva do Ocidente, a não separação do Estado da Igreja complica imenso o cumprimento das tarefas de soberania de qualquer Estado.
ResponderEliminarNa maior parte destes países, a distribuição da riqueza não é distribuída pela população.
A idade média da população é muito baixa e vive um quaotidiano sem esperança de melhoria da sua condição.
Quem trabalha tem um rendimento mensal muito baixo.
Ao seu lado, há uma elite a viver sumptuosamente.
Os regimes são «musculados»
Não será fácil a transição poara regimes de democracia em modelos ocidentalizados.
Há que aguardar o peso que as atribulações no Magreb terão no mundo islâmico.
Bjs, Ana
Manuel Poppe,
ResponderEliminarMuito obrigada pela sua visita e pelo seu comentário que resume inteiramente aquilo que penso. O olhar acutilante e sereno de quem conhece este mundo por dentro! :)
JPD,
A sua afirmação é pertinente: "Não será fácil a transição para regimes de democracia em modelos ocidentalizados".
Será que o respeito por uma cultura diferente, regida pelo Alcorão, que é a lei, garante os direitos humanos? Será legitima a intromissão do Ocidente?
Dúvidas...