Leonardo da Vinci, Estudo de braços e mãos, c. 1474.
Cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Há quem se identifique...
ResponderEliminarFantástico o poema. Bom dia!
ResponderEliminarOlá Ana,
ResponderEliminarEste post é intensamente incansável....
Beijo algodão doce:)
Blue
Olá Ana
ResponderEliminarGosto muito deste poema de Álvaro de Campos e da sua associação ao desenho de Da Vinci. Belíssimo post!
bjs
Extraordinária edição, Ana
ResponderEliminarUma combinação perfeita da ilustração dos Mestres da Vinci e Álvaro de Campos.
Bjs
Catarina,
ResponderEliminarEsperemos por melhores dias. Um sorriso para que se sinta menos o cansaço! :)
Margarida,
Boa noite e partilhamos dos mesmos gostos! :)
Blue,
Obrigada. Partilho o algodão doce!
Bjs :)
Virgínia,
Obrigada, que a beleza nos faça repousar os olhos.
Bjs :)
JPD,
Obrigada, os desenhos de Leonardo Da Vinci maravilham-me, tal como Álvaro de Campos.
Bjs :)
Muito bela a escolha! Parabéns, Ana!
ResponderEliminarBom fim de semana!
Bom fim-de-semana e espero vir a encobtrá-la! :)
ResponderEliminar