08/02/2011

... a primeira ave

Se tivesse asas agora voava!
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Albrecht Dürer (1471-1528). "A Asa de uma Rola", 1512

Norbert Wolf, Dürer, Taschen, 2006, p.40.

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Chegou, branca, quase só asas, a partir de perto
muito mais rápida, a primeira ave.
Sombreou-o.
Caiu, pousou, asa aqui, asa ali, um pouco desamparada.
Restolhadamente, ansiosa e veemente.
Depois, mais duas.
Sucessivamente, mais quatro, seis, sete, nove.
Pareciam grandes saias de mulher.
Mais todas.
Batucando na terra.
Raspando, vasculhando, desarrumando a terra.
A última atingiu-o com o peso inesperado, mas
mole, seco, surdo, e depois totalmente o cobriu com
a sua larga asa.
Desenrodilhou-se, libertou-se.

Artur Portela, A ração do céu, Lisboa: Editorial Notícias, 2001, p. 62

6 comentários:

  1. Gosto de voar, mas de avião...
    O desenho de Dürer é lindíssimo. Ele é um dos meus artistas favoritos.
    Bom dia!

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  2. Blue,
    Gosto muito de Dürer e do simbolismo para mim desta asa.

    Bjs!:)


    Margarida,
    É verdade, também prefiro voar de avião mas adoro Dürer, os desenhos e as pinturas, e a própria assinatura.
    É um pintor que usa muito simbolismo por isso, atrai-me bastante.

    Bjs! :)

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  3. Cara ana, muito obrigada pela riqueza da sua reflexão e estímulo. Pela minha parte, desejo-lhe os mais altos e benfazejos voos.

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  4. R,
    Muito obrigada, ando a preparar o voo, mas quando se anda a aprender caímos muitas vezes...
    Abraço!

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  5. Que linda asa! Não conhecia! Quem me dera ter umas asas...
    Há um poema muito belo do Garrett:

    "Eu tinha umas asas brancas/asas que um anjo me deu/ quando cansado da terra/ batia-as, voava ao céu..."
    Lembra-se, Ana?
    Acho que já esqueci o resto...
    Bjs

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