16/02/2011

Entre pedras palavras...

As lutas travadas no Irão levaram-me a pensar que, apesar da primeira década do século XXI já ter sido vivida, os problemas de fundo do século XX mantêm-se inalteráveis. A tirania, o fundamentalismo, a falta de liberdade, a falta de democracia e as assimetrias imperam num mundo cada vez mais desumanizado, despojado de idealismos e couraçados de um economicismo constrangedor. Será que a coragem vencerá? Será que algum dia o sol nascerá para todos?

Os pensamentos e o cansaço levaram-me à poesia de O'Neill e à pintura de Spyker: Medo, Coragem, Santuário.
Boa noite!
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David Jay Spyker Fear, Courage, Sanctuary,1996


Acrylics on Panel,12 x 9 in., Private Collection: Holland, Michigan

Teerão, Imagem daqui


ENTRE PEDRAS PALAVRAS

Que estupidez o sangue nas calçadas!
O sangue fez-se para ter dois olhos,
um lépido pé, um braço agente,
uma industriosa mão tocante.

Que estupidez o sangue entre as palavras!
O sangue fez-se para outras flores
menos fáceis de dizer que estas
agora derramadas.

Alexandre O' Neill,In
Feira Cabisbaixa

7 comentários:

  1. Ana,

    tudo vai dar certo, principalmente porque existem pessoas que sentem ...
    significa que ainda não acabou. No meio de tantas guerras e tanta discórdia, discursos bonitos e falsa roupagem, o cansaço nos impreguina, nos aperta, nos asfixia.

    Para que o sol fosse para todos, todos deveriam querer, mais sempre haverá alguém que dirá: o sol é lilaz e muitos irão falar: eu acredito.

    Acho que Deus gosta de verde, já viu quanta variedade?

    bjs minha cara, não permita que esmaguem sua ternura.

    Cozinha dos Vurdóns

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  2. O lamento não deverá fazer-se perante as lutas que são legítimas na sua natureza, mas perante aquelas vazias de humanidade e dignidade. Aí sim, com O'Neill: que estupidez!

    Abraço!

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  3. Obrigada, Cozinha dos Vurdóns,
    pela sua sensibilidade e pelo texto que me deixou. Apreciei sobremaneira a paleta de cores que associou ao sol!
    Bjs :)

    Mar Arável,
    Sonhar pelo menos, impede-nos de sentir a derrota que a contagem do tempo faz pesar. Não quero pensar que tudo é e será igual ao que foi outrora, ou seja que a dimensão humana em nada evoluiu.


    Sara,
    O lamento não tem que ver com as lutas que são legítimas mas sim com a inércia da mudança porque as mentes que controlam o poder se deixam corromper.
    "O sangue fez-se para ter dois olhos" e uma "mão industriosa e tocante".
    A "estupidez" está nas palavras vazias de sentido, arma que usam os políticos para se manterem no poder.

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  4. Sim, prolongam-se, melhor, agudizam-se querras velhas. Há um descrédito do Ocidente e um fogo neo.radical islâmico. Há um conflito de interesses económicos e há um retorno a um obscurantismo religioso. É num fio de navalha que acordamos todos os dias. Gostei muito do que aí publicou.

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  5. Da perspectiva do Ocidente, a não separação do Estado da Igreja complica imenso o cumprimento das tarefas de soberania de qualquer Estado.

    Na maior parte destes países, a distribuição da riqueza não é distribuída pela população.
    A idade média da população é muito baixa e vive um quaotidiano sem esperança de melhoria da sua condição.
    Quem trabalha tem um rendimento mensal muito baixo.
    Ao seu lado, há uma elite a viver sumptuosamente.

    Os regimes são «musculados»
    Não será fácil a transição poara regimes de democracia em modelos ocidentalizados.

    Há que aguardar o peso que as atribulações no Magreb terão no mundo islâmico.

    Bjs, Ana

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  6. Manuel Poppe,
    Muito obrigada pela sua visita e pelo seu comentário que resume inteiramente aquilo que penso. O olhar acutilante e sereno de quem conhece este mundo por dentro! :)

    JPD,
    A sua afirmação é pertinente: "Não será fácil a transição para regimes de democracia em modelos ocidentalizados".

    Será que o respeito por uma cultura diferente, regida pelo Alcorão, que é a lei, garante os direitos humanos? Será legitima a intromissão do Ocidente?
    Dúvidas...

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