16/07/2010

Um poema do outro lado do mar!

Gostei deste poema de Ivan Bueno. Inspirou-se numa fotografia se clicarem no link podem vê-la.
Henri Matisse, Icarus, 1947 (?)

Illustration for the book 'Jazz', screen-print after gouache on paper cut-out.

Inquisição

Uma visão perfeita, celeste, vinha de cima e me chamou
Olhava-me o céu inquirindo-me da vida
Calado lhe olhava junto aos pássaros
Queria eu um voo, uma visão altiva, menos repetitiva

Olhava-me o céu repetindo-se na pergunta
Desafiando-me a responder o irrespondível
Irresponsável mania humana de tudo querer saber
E, nesta mania, constrói, destrói, mói, se dói

Pássaros na árvore miram o céu, miram a mim
Olhar inquiridor, estranham-me a falta de penas
Sentem pena por meu caminhar, compreendem céu
Voam seus voos belos e voltam à bela árvore

Nunca pararei de olhar o céu, de olhar as aves
Nem de questionar o irrespondível viver
Pois sempre serei inquirido pelo céu
Sempre terei a compaixão das aves

Tentarei, não como Ícaro, voar meu voo altivo
Ver o mundo de cima para entender-me pequeno
Ver-me no alto para entender-me baixo
Ver-me pássaro para entender-me humano

As nuvens passam, os pássaros aquietam-se pousados
A árvore inerte só em aparência fica imóvel como eu
Mas estamos vivos, eu e ela e também o céu
Que insistirá eternamente a me inquirir até o fim

Ivan Bueno

8 comentários:

  1. Ana,
    Um prazer imenso em estar aqui no (In)Cultura em meio a tanta coisa bonita.
    Obrigado pelo carinho e pela leitura. Fico lisongeado.
    Beijo enorme,

    Ivan Bueno
    blog: Empirismo Vernacular
    www.eng-ivanbueno.blogspot.com

    ResponderEliminar
  2. A tempo:
    Adorei a nova ilustração de Henri Matisse, Icarus, 1947.
    Já coloquei lá no meu blog o link de ligação direta entre o Empirismo Vernacular e o (In) Cultura.
    Outro beijo d'além mar,

    Ivan Bueno
    blog: Empirismo Vernacular
    www.eng-ivanbueno.blogspot.com

    ResponderEliminar
  3. :) Bom dia Ivan,
    É um prazer fazer a ponte.
    Gostei do poema. Desejo que tenha muitas inspirações.
    ;):)

    ResponderEliminar
  4. Olá Margarida,
    Também gostei.
    Bjs

    ResponderEliminar
  5. Às vezes, o mais difícil é discernir o irrespondível daquilo em que a resposta é possível e desejável. O poema é, relativamente a isto, uma bela interpelação.

    ResponderEliminar
  6. Oi, Sara.
    Obrigado pela leitura atenta.
    Grande beijo,

    Ivan Bueno
    blog: Empirismo Vernacular
    www.eng-ivanbueno.blogspot.com

    ResponderEliminar

Arquivo