Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra
Nunca penetrei numa clausura. Nunca desejei ser freira. Mas os conventos, os hábitos das monjas, o tilintar das campainhas que regulam os passos da comunidade, aquela ciência que cada religiosa guarda no olhar recatado ou no sorriso singularmente contente, tudo o que lhes diz respeito me impressiona.
Altos os muros dos conventos. Os tectos das salas, altos também. (Diz le Corbusier que os tectos baixos favorecem as paixões.) E um frio irremediável da casa, um frio que vem dos sobrados luzidios e nus, das cadeiras de espaldar duro, dos napperons e das flores de plástico. Um frio de escrupolosas limpezas, de manuais, de virtude. (...)
Inesquecíveis a penumbra do locutório, o relógio de tempo sempre errado, o desadorno das paredes, a ausência total de espelhos. Maus impulsos, se os havia, estavam emparedados, mal aflorando em gestos ou expressões. Para essas vidas de renúncia, a Natureza, talvez, o único refrigério: o mar e o monte em frente das janelas do convento, a obra do Altíssimo que se conservou pura porque não entrou na revolta dos anjos nem na dos homens. E tudo o mais a «porta estreita»: a obediência, a regra, o equilíbrio de quem julgou ter encontrado Deus a meio caminho entre o cansaço e a beleza.
Maria Ondina Braga, Estátua de Sal, Lisboa: Editor José Ribeiro, 1983, p.41
Interessante este texto...chega no momento em que me despeco de alguem que vai a caminho da Republica Dominicana ao servico de Deus, em Fe e Caridade...amiga essa que passa sempre uma grande tranquilidade e uma grande beleza...e mesmo quando se parece vislumbrar algum cansaco, nunca se queixa...
ResponderEliminarsempre disposta a ajudar e de uma profunda religiosidade...admiro-a pela capacidade entrega, de sacrificio, de disponibilidade...
Beijinhos
PnC,
ResponderEliminarInteressante foi também o seu comentário. Gostava de ter essa abnegação ou de a atingir.
Já almejei ir até Moçambique para ajudar aquela e aprender a conhecer as adversidades do eremitismo em relação ao mundo urbano em que vivemos.
É um sonho, um desafio, talvez o faça ainda não sei, tenho que cumprir um grande objectivo antes.
Muito, muito obrigada. :)
Beijinhos.
Interessante o texto. E gostava muito de visitar o Mosteiro de Santa-Clara.
ResponderEliminarPor acaso, tambem eu ;-) Nunca la fui...
ResponderEliminarBoa sorte, entao, Ana ;-) Muita luz nesse caminho!
ResponderEliminarEsta é também uma interrogação que já me coloquei: como será viver segundo estes cânones, esta abnegação, esta austeridade... e, simultaneamente, uma áurea de paz, de serenidade, de plenitude. Tão intrigante quão longínquo.
ResponderEliminarA fotografia é (mais uma) absolutamente eloquente.
Agradeço e retribuo os votos de um boa noite e adianto os de um excelente dia :)
Obrigada, Margarida.
ResponderEliminarVai gostar, diga qualquer coisa se vier. :)
PNC,
ResponderEliminarSubscrevo o comentário acima.
No meu texto/comentário deve ler-se ajudar aquela gente
R,
ResponderEliminarObrigada.
A paz, a tranquilidade, a serenidade e a plenitude são também para mim intrigantes e longínquas porque não consigo compreender nem atingir uma entrega tão sublime.