01/07/2010

...a meio caminho entre o cansaço e a beleza.

Li esta pequena história de Ondina Braga escrita em 3 páginas que não ousei transcrever na totalidade e estou em consonância perfeita com ela. Senti que a autora penetrou até ao interior dos meus pensamentos.
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Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra

Nunca penetrei numa clausura. Nunca desejei ser freira. Mas os conventos, os hábitos das monjas, o tilintar das campainhas que regulam os passos da comunidade, aquela ciência que cada religiosa guarda no olhar recatado ou no sorriso singularmente contente, tudo o que lhes diz respeito me impressiona.

Altos os muros dos conventos. Os tectos das salas, altos também. (Diz le Corbusier que os tectos baixos favorecem as paixões.) E um frio irremediável da casa, um frio que vem dos sobrados luzidios e nus, das cadeiras de espaldar duro, dos napperons e das flores de plástico. Um frio de escrupolosas limpezas, de manuais, de virtude. (...)
Inesquecíveis a penumbra do locutório, o relógio de tempo sempre errado, o desadorno das paredes, a ausência total de espelhos. Maus impulsos, se os havia, estavam emparedados, mal aflorando em gestos ou expressões. Para essas vidas de renúncia, a Natureza, talvez, o único refrigério: o mar e o monte em frente das janelas do convento, a obra do Altíssimo que se conservou pura porque não entrou na revolta dos anjos nem na dos homens. E tudo o mais a «porta estreita»: a obediência, a regra, o equilíbrio de quem julgou ter encontrado Deus a meio caminho entre o cansaço e a beleza.

Maria Ondina Braga, Estátua de Sal, Lisboa: Editor José Ribeiro, 1983, p.41

9 comentários:

  1. Interessante este texto...chega no momento em que me despeco de alguem que vai a caminho da Republica Dominicana ao servico de Deus, em Fe e Caridade...amiga essa que passa sempre uma grande tranquilidade e uma grande beleza...e mesmo quando se parece vislumbrar algum cansaco, nunca se queixa...
    sempre disposta a ajudar e de uma profunda religiosidade...admiro-a pela capacidade entrega, de sacrificio, de disponibilidade...
    Beijinhos

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  2. PnC,
    Interessante foi também o seu comentário. Gostava de ter essa abnegação ou de a atingir.

    Já almejei ir até Moçambique para ajudar aquela e aprender a conhecer as adversidades do eremitismo em relação ao mundo urbano em que vivemos.

    É um sonho, um desafio, talvez o faça ainda não sei, tenho que cumprir um grande objectivo antes.

    Muito, muito obrigada. :)
    Beijinhos.

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  3. Interessante o texto. E gostava muito de visitar o Mosteiro de Santa-Clara.

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  4. Boa sorte, entao, Ana ;-) Muita luz nesse caminho!

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  5. Esta é também uma interrogação que já me coloquei: como será viver segundo estes cânones, esta abnegação, esta austeridade... e, simultaneamente, uma áurea de paz, de serenidade, de plenitude. Tão intrigante quão longínquo.
    A fotografia é (mais uma) absolutamente eloquente.
    Agradeço e retribuo os votos de um boa noite e adianto os de um excelente dia :)

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  6. Obrigada, Margarida.

    Vai gostar, diga qualquer coisa se vier. :)

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  7. PNC,
    Subscrevo o comentário acima.

    No meu texto/comentário deve ler-se ajudar aquela gente

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  8. R,
    Obrigada.

    A paz, a tranquilidade, a serenidade e a plenitude são também para mim intrigantes e longínquas porque não consigo compreender nem atingir uma entrega tão sublime.

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