08/07/2010

O sal da língua!

As palavras podem ser sal se não forem bem temperadas. Associei o poema de Eugénio de Andrade a Lewis Carrol porque as suas palavras estão para lá do que aparentam. Lisbeth Zwerger é uma ilustradora austríaca que aprecio.
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Lisbeth Zwerger, A Rainha de Copas de Alice no País das Maravilhas.


O sal da língua

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

Eugénio de Andrade, O sal da língua

2 comentários:

  1. A graça que encontrei neste poema foi a transitoriedade.
    Alguém corre atrás de outra a pedir que pare e escute!
    No mundo de hoje que existem tantos silêncios, será que alguém pára para escutar?

    Creio que sim mas interrogo-me sempre.

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