03/08/2016

No quarto poente da casa

No quarto poente da casa                                                                   Ourém

É melancólico o traço
riscado na tela que está no cavalete
do quarto poente.

amarelo cor do astro rei
verticalmente colocado...
não é a torre de Pisa,

não é um pássaro
em voo rasante.
Será um papagaio de papel
enviado pelo sonho duma criança?

Miró não habita nesta casa
nem Picasso,
nem Dalí ou Magritte,
será o traço de Chagall?

Falta o azul do céu para ser de Chagall,
faltam as flores para ser de Picasso,
falta a janela aberta nas nuvens para ser de Magritte,
falta, o narciso para ser de Dalí,
faltam os traços vermelho e preto para ser de Miró.

Quem é afinal este pintor?
um homem sem rosto,
à procura do disco solar,
um homem cujo pincel está pousado na paleta...
de olhar vazio, no silêncio e escuridão do labirinto
onde habita um fauno.

Perder ou ganhar?
A luz ténue do traço amarelo só confunde.
A tela continua vazia no quarto a poente da casa.

ana


18 comentários:

  1. É um belo poema, Ana! Gosto desse quarto do lado poente da casa. Gosto dos versos:
    "É melancólico o traço
    riscado na tela que está no cavalete
    do quarto poente.

    amarelo cor do astro rei
    verticalmente colocado...
    não é a torre de Pisa,

    não é um pássaro
    em voo rasante.
    Será um papagaio de papel
    enviado pelo sonho duma criança?"
    Um beijinho
    Os Simply Red são simplesmente maravilhosos......

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    1. Querida Maria João,
      Obrigada. Em breve escreverei, tenho andado pouco pela net.
      Beijinho.:))

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  2. Fiquei atordoado com a maravilha do teu poema, Ana !
    Estás à altura em cada linha dos Pintores que referiste a propósito do traço melancólico que está riscado naquela tela do quarto poente da casa !
    Tens revelado ( para mim ) uma faceta que desconhecia da tua personalidade.
    Sou um felizardo com a quantidade de pessoas SUPERIORES que se têm cruzado nos vôos do grifo e nas minhas deambulações !

    Um beijo grande, Ana.

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    1. João,
      As suas palavras são muito generosas, muito obrigada.
      Tenho tido mais tempo para expor esta faceta.:))
      Beijinho. :))

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  3. A ana está a aperfeiçoar mais e mais a arte da poesia.
    É um prazer ler o que escreve.
    Beijinhos

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    1. Obrigada, Pedro.
      É um prazer vê-lo por cá. :))
      Beijinho. :))

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  4. Muito bonito, o conjunto do poema e fotografia. As cores da foto já são pintura.

    Há muito tempo que não ouvia esta música e gostei de ouvir.

    Um beijinho:)

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    1. Isabel,
      As cores devem-se à casa que tem um quê de especial por ser bonita e estar desprezada.
      Obrigada por teres gostado. :))
      Beijinhos.:))

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  5. Olá, Ana, que beleza isto aqui.
    "No quarto poente da casa", minguante, coisas se passaram na encenação da verticalidade duma pincelada, amarela, não solar, na ténue esperança oculta pelas ralas cortinas da janela. Afinal, nada se mostra e tudo se revela.
    Que belo poema, Ana, gostei mesmo, colocado na contraluz de uma magnífica fotografia.
    Por fim a "pintora" decidiu-se a pôr na tela uma pincelada simply red.
    Bj.

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    1. Agostinho,
      A viagem pelas memórias dos pintores e a paisagem que o acaso nos faz tropeçar leva a registos como este. :))
      Obrigada.:))
      Bj

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  6. Um belo poema e uma fotografia, que nos convidam a (re)ler as palavras em todas as suas tonalidades e a meditar na imagem.

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