17/02/2016

Ser diferente

Mascarão, caixotão de tecto, Museu de Aveiro, (Museu de Santa Joana)


A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos. 

Agostinho da Silva, in Diário de Alcestes (citador)


24 comentários:

  1. As imagens que me chegam de Coimbra fazem doer a alma, ana :(
    Beijinhos

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    1. Pedro,
      Acredita que ainda não tirei uma fotografia? Faz pena mesmo.
      Beijinhos.

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  2. Linda a fotografia (é sua? de onde é?). Gostei também muito do texto. É preciso ter coragem para ser diferente. É por vez um caminho solitário e nem sempre se aguenta muito tempo. Beijinhos!

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    1. Margarida,
      É sim. Tirei-a no Museu de Aveiro, museu de Santa Joana (Mosteiro de Jesus).
      É preciso ter coragem sim.
      Beijinhos.:))

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  3. Ana, as minhas palavras vão ao encontro das de Margarida Elias.
    Muito poucos os que conseguem ter a coragem de ser realmente diferentes!
    Belíssimo texto este de Agostinho da Silva.
    Um beijinho.:))

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    1. Obrigada, Cláudia.:))
      Também acho belíssimo.
      Beijinho.:))

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  4. O texto é interessante e acho que pode ser visto por duas perspectivas. Uma, a da pessoa recta, que não cede a pressões e que tenta caminhar no sentido do que é justo, doa a quem doer( era bom que essa diferença fosse a dos governantes).

    Pode ser também encarado numa perspectiva egoísta. pois ser diferente, transgredir o estabelecido, não ligar a ninguém e fazer o que se quer, pode acabar por magoar bastante quem nos rodeia.

    Talvez o melhor seja ser diferente encontrando o meio-termo, ser diferente, pensar pela própria cabeça, não seguir as multidões só porque sim e sobretudo fazê-lo não pisando ninguém.

    Comprei há dias uma biografia de Agostinho da Silva de António Cândido Franco, da Quetzal.

    Um beijinho:)

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    1. Isabel,
      Ainda não vi essa biografia. Gosto de Agostinho da Silva.
      Talvez tenhas razão, mas é sempre difícil avaliar.
      Beijinho.:))

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  5. Bem dito. Salvé, Agostinho!Ainda hei-de comprar-te a prosa. Ai hei-de, hei-de.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Como sempre, tudo a condizer, imagem, texto e música!
    Faço minhas as palavras da Isabel!
    Permites-me um jogo entre as 3 coisas?
    Todos somos diferentes e somos únicos.
    Às vezes somos obrigados a usar um qualquer "Mascarão" que nos assenta muito mal e nos impossibilita de poder ser "livres de ser"...
    Por isso..."nascemos a chorar"...
    beijinhos :)

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    1. Obrigada, Graça.:))
      Cada um é único, sim.
      Tão bonita essa imagem que criaste.
      Beijinho. :))

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  8. Quanto mais se fala sobre diferenças, mais a sociedade tenta massificar e uniformizar pensamentos e atitudes. Mais que salvação é ato heroico manter-se firme, contra o que ilude e envolve, na tentativa de resguardar a própria integridade... Beijos.

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  9. Diferentes são as pedras e os calhaus

    Bj

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  10. Tem sido um Inverno horrível e destruidor de tanta beleza! Son nata a lagrimar?
    Belo o video e a música. beijinhos. Recebeste o postal de Portalegre (mandado de cá, claro...)?

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    1. Querida Maria João,
      Recebi sim.
      Pensava que tinha agradecido e acusado a recepção. Peço desculpa se não o fiz.
      Beijinhos.:))

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  11. Ser diferente...ou 'ser-se nós' que somos sempre diferentes?
    "A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele." Sermos nós, pois, até ao fim....

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  12. A Ana trouxe aqui um Agostinho invulgar, um homem de carácter, que prezava a liberdade, de tal modo que esteve exilado grande parte da sua vida. Recordo-me da sua figura despojada na televisão. O seu discurso encantava-me. E gostava de gatos.
    Boa noite.

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  13. A Ana trouxe aqui um Agostinho invulgar, um homem de carácter, que prezava a liberdade, de tal modo que esteve exilado grande parte da sua vida. Recordo-me da sua figura despojada na televisão. O seu discurso encantava-me. E gostava de gatos.
    Boa noite.

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