25/06/2014

Em torno de (por) Camões

Details, “Portrait of an African Slave Woman,” 
atribuído a Annibale Carracci, c. 1580,

BARBARA, ESCRAVA

Ajoelhara a negra suspirando
Postas as mãos, os labios contrahidos,
Diziam as canções dos seus gemidos
Mais do que os prantos com que estava olhando.

Camões fitava o espaço, meditando,
Bem longe o coração, longe os sentidos;
E de seus olhos, para a dôr nascidos,
As perolas caiam, deslisando.

Um queixume da negra, compungente, 
Acordara o poeta, que sonhava
Com a patria querida e o amor ausente.

Ella co'os olhos n'elle comtemplava,
Elle co'os olhos n'ella era indifferente,
Que todo aquelle mal outra o causava.

Ernesto Pires, Camões e o Amor. Porto: João E. Cruz Coutinho, 1884, s/nº p.

O livro custava na época 300 Reis. Foi uma das minhas últimas aquisição, veio do Porto da Livraria Lumière.


7 comentários:

  1. Boa noite, Ana, bom trabalho!
    Gostei, acima de tudo, do retrato da escrava que, apesar dessa condição, apresenta um porte digno de rainha; incrível a expressão do olhar e da boca.
    Não conhecia o poeta. O livrinho é uma preciosidade que terá custado uma "nota preta".
    O Coro dos Escravos é universalmente conhecido e do agrado do grande público. Também já o cantei.

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  2. Boa tarde, Agostinho.
    Então, também é cantor? Fabuloso.:))
    Fiquei apaixonada pela tela pelos motivos que evoca.
    :))

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  3. Sim, Ana, a Bárbara escrava de Carracci é de facto impressionante, como a é no poema de Camões e neste (desconhecido para mim) poeta que descobriu na Livraria Lumière (LUZ!!!!).
    Um beijo

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  4. A lírica camoneana é algo a que eu nunca fui indiferente, após ter tido um competente professor de Português no, agora antiquíssimo, 5º ano(hoje 9º), o qual era também autor de uns "Lusíadas" anotados, que, à altura, eram considerados como obra adotada nos Liceus.
    A luz que imprimia às palavras do escritor era só possível porque ele as vivia e entendia como se dele fossem.
    Só assim consigo perceber que um rapaz de 14 anos gostasse de ler e explorar não só o épico como a restante lírica, porque não me parecem muito adaptados a esta faixa etária.
    Quanto ao "Va pensiero" do Nabucco só me traz à memória bons momentos passados numa noite quente de verão, tendo os banhos de Caracala como cenário.
    Inesquecível!
    Obrigado por me ter aqui servido o passado "à la carte"
    Manel

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  5. Aquelas montras são a nossa desgraça!!Ah!Ah!Ah!

    Gostei da foto.
    E de tudo o resto!

    Um beijinho :)

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  6. Maria João,
    Uma verdadeira LUZ!:)))
    Gostei muito do poema e da tela.
    Beijinho. :))

    Manuel,
    Também gostei muito de aprender e ler os Lusíadas e tem razão o professor ajuda muito. Os alunos têm menos maturidade mas podem ficar com um cheirinho para mais tarde redescobrirem, não é?
    Fico contente por despertar boas memórias.
    Boa noite!:))

    Isabel,
    É isso mesmo. Aquelas montras arrasam. :))
    Obrigada.
    Beijinho. :))

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  7. Ana, gostei de tudo que colocou, mas o pormenor do amor-perfeito...

    Amigas, obrigada pelas palagras gentis.

    Um beijinho.:))

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