A destruição é evidente em tudo o que nos rodeia, é um processo fácil. A construção é que é muito difícil. À nossa volta, o que há é ódio, morte:o universo é um predador. Uma das únicas coisas que combate esta entropia é a vida. Junta células, junta organismos, cria cidades, aglomerados. O resto desfaz-se. Lutamos nós, seres vivos, com todas as nossas forças, contra o ódio à nossa volta, mas o que prevalece é aquela Dresden de 1945. Bastou um momento de ódio para ela cair desfeita em cinzas. Um momento de amor não a fará reerguer-se, para isso é necessário um esforço imenso. Lutamos então contra a maior força do cosmos, contra aquilo que o caracteriza, contra aquilo que ele faz: expandir-se. O universo expande-se, mesmo nos momentos de ócio. Isso quer dizer que separa tudo, faz com que todas as coisas se afastem, se dissolvam. O amor vai juntando as peças que pode - como um velho reformado a jogar dominó - e o universo está aqui para baralhar outra vez.
Afonso Cruz, A Boneca de Kokoschka, Lisboa: Quetzal, 2010, p. 173.
Afonso Cruz, A Boneca de Kokoschka, Lisboa: Quetzal, 2010, p. 173.
Kaouru Wada
Muito bonito. É preciso construir!:) Boa semana!!
ResponderEliminarana,
ResponderEliminarTodas as músicas que acompanham os espectáculos do Cirque du Soleil são de uma beleza extraordinária.
O espectáculo que têm em Macau (Zaya) é lindíssimo.
E a música, como sempre tocada ao vivo, uma maravilha.
«Everything is Kaos», como diz o outro, Ana. Reconhecer a harmonia das coisas - onde ela exista - e tentar criar harmonias é o que, realmente, distingue a civilização da natureza. :-)
ResponderEliminarMargarida,
ResponderEliminarPois é, a grandiosidade do homem mede-se naquilo que constrói!
Bjs. :)
Pedro Coimbra,
Tenho cá em casa quem goste de Manga, este vídeo é um pouco isso. O Cirque du Soleil recorre a este compositor que conheço mal. Tenho pena de não estar em Macau!:)
Luísa,
Obrigada pela sua visita que me apraz e a harmonia é a palavra chave.
Bj :)
Pedro,
ResponderEliminarCompositora!
Gostei imenso deste excerto de Afonso Cruz, um escritor que nunca tive o prazer de ler. Acho que tem muita razão naquilo que diz: construir é o mais difícil e nesse processo o amor faz a diferença, sim.
ResponderEliminarObrigada, Ana, e uma boa semana!
Sara,
ResponderEliminarConstruir é difícil. Concordo plenamente com Afonso Crus que para mim foi uma surpresa. A sua escrita é composta por metáforas o que a torna mais bela.
Irei colocar outros excertos que registei pela beleza que encerram. Não quero tornar-me maçadora, mas realmente li este livro numa altura em que estava a precisar de ler a mensagem que ele veicula.
Boa semana, Sara!
ResponderEliminarC,
ResponderEliminarTem razão o amor acaba por construir!:)
Venho buscar inspiração.
ResponderEliminarQuanta beleza em seu universo...
Bjo.