30/05/2011

Aparências, o real ou futilidades?

Éramos crianças, nada era importante a não ser a janela onde os olhos se perdiam. O horizonte era longínquo, o som doutros povos imaginários povoavam a mente. O gato, dormia no colo sereno. As flores perfumavam a sala.


George Bernard O'Neill, Thoughs




Crescemos, saímos da sala, o mundo torna-se maior mas a essência mantém-se. Os livros abrem a janela, tiram as portas, constroem outras, o tempo avança linear, como se se tratasse de um segmento de recta: tem vários pontos mas não se sabe quando chega o último. A rota está escrita no céu debaixo das estrelas. Perde-se a inocência. Porém, uma coroa prevalece para pontuar a criança escondida. Os olhos enchem-se de lágrimas, a face esboça um sorriso. Entre o choro e o riso, o tempo passa indelével.


Jean Baptiste Camille Corot, Girl Reading Crowned with Flowers or a Virgil's Muse




Umas vezes somos palhaços, outras Pierrot, o riso ecoa na sala iluminada vagamente. O peso dos outros cai em cima de nós, como uma lança brilhante à espera de dilacerar. Que importa o riso, a gargalhada vazia? Nada ... Ela não traz o sol.




Desenho de José Régio, Palhaço, daqui





O dia amanhece começam os combates. Travam-se as lutas mas não há heroínas. Os heróis ficam nos livros de histórias, nos romances encadernados, nas estantes... parados.




Joana D'Arc, Pintura, ca. 1485.
An artist's interpretation, since the only portrait for which she is known to have sat has not survived. (Centre Historique des Archives Nationales, Paris, AE II 2490) (Centre Historique des Archives Nationales (Wikipedia)




Duelos e mais duelos até que se vence a batalha. Será importante tanta luta? De que é feita a minha arma? Qual armadura resplandecente mora nesta casa?
Não é de ouro nem de prata, não existe. Ex-Calibur está junto ao lago que dista da minha porta.
Cantamos junto à catedral o Requiem de Mozart. Baixo os olhos e vejo no chão uma pérola dobro-me para a apanhar e acordo junto ao chapéu que me deu prazer comprar para apenas colocar alguns dias no Verão.

10 comentários:

  1. Ambas, magnífica epopeia esta da vida que nos é dada a viver. :)))))))))))))


    Gostei muito do texto e do meta-texto das imagens, pareceu-me ainda mais poderoso do que é costume.



    Jinhos.

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  2. Ana
    Também gostei muito do texto. Excelente post!
    bjo :)

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  3. A sua escrita é muito pictórica. Ajuda a transportar-nos para os cenários que descreve. Gostei muito

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  4. JJ,
    Muito obrigada por ter gostado deste devaneio.
    Bjs. :)))

    Virgínia,
    Muito obrigada, às vezes não enveredo por aqui mas ontem apeteceu-me. O cansaço tira a criatividade e foi uma maneira de o romper.
    Bjs. :)))

    George Sand,
    Muito obrigada pela sua visita e pelo seu comentário.
    Beijinho!:)))

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  5. Gostei, Ana. Um pouco diferente mas revela muito do que pensa e sente (agora).
    O desenho do Régio é sempre muito forte e adorei o Corot!!! Que lindo o olhar daquela menina que olha pela janela!
    Um beijinho
    o falcão

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  6. É um Corot tão diferente! lembra-me -sei lá por quê- os "pré-rafaelitas"...
    O olhat«r a que me referia era o da menina do O'Neill... Acho que estava tudo muito confuso...
    Bjs

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  7. MJ Falcão,
    Muito obrigada pelas suas palavras. Só não entendi o que está confuso.
    Beijinho!

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  8. Um post muito bonito.

    Um beijinho
    Isabel

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  9. Eis uma excelente antologia de um quotidiano de prazeres.
    Uma edição exuberante.
    A cultura tratada e apresentada com elegância, suavidade e a desencadear desejos de boas práticas.
    Excelente, Ana

    Bjs

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  10. Isabel,
    Que bom vê-la por cá. :)
    Obrigada.
    Beijinho!:)

    JPD,
    Obrigada pelo seu comentário e pela motivação. Gosto muito do que escreve.
    Bjs. :)

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