29/04/2010

Hieronymus Bosch

Continuando com o agradecimento a todos os que me seguem e, hoje, em especial para Contador Antropomórfico, CA, uma imagem de Hieronymus Bosch: Cristo Menino, no reverso da pintura de Cristo Homem carregando a cruz. A inocência dos puros e a dor que transporta a culpa dos homens.

Christ Child with a Walking-Frame. Reverse of Christ Carrying the Cross. 1485-1490.




Oil on panel, 57 cm x 32 cm, Kunsthistorisches Museum, Vienna, Austria.

"This rather unusual painting on the reverse of the Christ Carrying the Cross depicts a naked child pushing a walking-frame. This is the Christ Child, whose first halting steps clearly parallel Christ struggling with his Cross on the obverse, while the toy windmill or whirligig clutched in his hand probably alludes to the Cross itself. Thus Bosch gives us a touching picture of Christ in all his human frailty as he begins the road to his Passion."
Nota retirada daqui

Dia mundial da Dança

Polina Semionova uma das bailarinas a quem hoje presto homenagem.
Uma retrospectiva de alguns dos seus melhores momentos. Nunca vi esta bailarina ao vivo mas não perco a esperança... Hino à dança, à beleza e graciosidade.








28/04/2010

Agradecimento

Andei com mudanças e criei uma nova face. Chegou a hora de agradecer as palavras simpáticas e motivadoras dos que me visitam. Agradeço a Margarida Elias que me tem mostrado novos pintores, poetas e pensamentos nas Imagens e Memórias, ao Contador Antropomórfico da Casa Improvável, porque partilho do seu gosto literário e não só, ao Filipe e a MarromW que pelo pouco que conheço apreciam arte.
Hoje, coloco estas imagens em especial para Margarida Elias com as pinturas de James McNeill Whistler que sei que são do seu agrado.
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Whistler, Harmony in Pink and Grey: Portrait of Lady
Meux, 1881–82, oil on canvas, The Frick Collection, New York



Harmony in Blue and Gold: The Peacock Room, designed by James McNeill Whistler, 1876-77, Freer Gallery in Washington D.C.

The Princess from the Land of Porcelain.

Wishtler

Poema, (A plenitude do silêncio)

M. C. Escher,''Still Life with Spherical Mirror'', Lithograph, 1934.


POEMA

Nunca gozei a plenitude do silêncio,
esse estado de alma que nos faz
reverter à pureza virginal
como um pássaro pousado no infinito.

No limiar de cada passo,
de cada gesto, de cada verso,
há um íntimo rumor de vozes
a acordar a quietude azul do céu.

Se eu pudesse isolar esse murmúrio
descobriria o viso que demarca
o silêncio casto, a liberdade,
do metal opressivo das palavras.

António Arnaut, As noites Afluentes, Coimbra: Coimbra Editora, 2001, p. 151

27/04/2010

Os balcões sucessivos sobre o rio

Rio Tejo

Os balcões sucessivos sobre o rio

Os balcões sucessivos sobre o rio
as tesouras de poda nas roseiras
a sonolência lânguida e perversa
esse todo coerente e sobre ele apenas
a abóbada da minha perfeição
é esse o meu convite à desistência
a pena menos pública do mundo nos
lagos das finas flores dos sabugueiros
onde a mulher soltava os cabelos
pra que neles se prendesse o cheiro a erva
Ela tinha um aspecto inesperado
vinha com o vestido cor magenta nos
braços que lhe cresceram sobre a terra
movia-se ao andar como uma barca
Importa-me é o curso do dia e da noite
Vou andar um bocado nos caminhos
é pela hora em que não há ninguém
nudez desprevenida dos meus dias
mas só de noite desço até ao mar após
as sete horas da tarde hora crepuscular
os cheiros confortáveis e antigos
imagens dum lirismo fraudulento
um conforto algum tanto apreensivo
coisas que desde a infância a construíam
Mudo de opinião continuamente
espero o teu regresso pela tarde
e cuidadosamente velo a minha cólera
A vida é para mim pesar de pálpebras
leitura de discursos no outono
na casa abandonada e submetida à chuva
Regresso afinal aos próprios hábitos
sorrisos de mulheres sobre a areia
sou fiel à tristeza e pouco mais
e meto então um lenço num dos bolsos
que cheira ao perfume dos pinheiros
Ave de alarme sou deixem-me só
sou um contemporâneo assisto a tudo
os sinos vesperais nos dias de verão
o cão que passa numa encruzilhada
um cântaro que racha inexplicavelmente
confundido no hálito do mar
a minha saudação aos infantes do medo
crianças que iniciam o andar
Espero por alguém espero pelo sol
pla doçura estival da laranjeira
ando pelos caminhos muito tempo
e passo pelas portas devassadas pelos ventos
em cujos gonzos sopram agonias
E espero de novo a floração da primavera
Não quero nada quero estar presente sobre
as dunas do começo dos pinhais
nesse mundo de medos e animais
onde abri os meus olhos para a luz de agora
E perco todo eu em contriçães
ó terra branca e carnal e triste
as minhas madrugadas do sargaço
abertas nos bocejos da neblina
quando o tempo é suave e chega em dunas
à sensibilidade das narinas
nas horas generosas da maré

Ruy Belo, Despeço-me da Terra da Alegria, Lisboa: Editorial Presença, 1978, p. 19-21

26/04/2010

Trees - Joyce Kilmer

Marc Chagall, Paradise - Tree of Knowledge - lithograph Bible "Illustrations for The Bible", 1960
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35 x 26 cm, Mourlot N° 232

TREES
THINK that I shall never see
A poem lovely as a tree.

A tree whose hungry mouth is prest
Against the earth's sweet flowing breast;

A tree that looks at God all day,
And lifts her leafy arms to pray;

A tree that may in Summer wear
A nest of robins in her hair;

Upon whose bosom snow has lain;
Who intimately lives with rain.

Poems are made by fools like me,
But only God can make a tree.


Alfred Joyce Kilmer, foto da wikipedia

"Trees" was originally published in Trees and Other Poems. Joyce Kilmer. New York: George H. Doran Company, 1914.

Memórias da escrita 1 - Camus, Hoje, a mãe morreu...

A profundidade com que Camus escrevia sobre o "ser" humano foi um dos motivos para o incluir nas minhas escolhas literárias, há uns anos atrás. Hoje, revivi algumas dessas escolhas, de modo que início estas Memórias da escrita com O Estrangeiro.
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Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: "Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames". Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem. O asilo de velhos fica em Marengo, a oitenta quilómetros de Argel. Tomo o autocarro das duas horas e chego lá à tarde. Assim, posso passar a noite a velar e estou de volta amanhã à noite. Pedi dois dias de folga ao meu patrão e, com uma razão destas, ele não mos podia recusar. Mas não estava com um ar lá muito satisfeito. Cheguei mesmo a dizer-lhe: "A culpa não é minha". Não respondeu. Pensei então que não devia ter dito estas palavras. A verdade é que eu não tinha nada que me desculpar. Ele é que tinha de me dar os pêsames. Mas com certeza o fará, depois de amanhã, quando me vir de luto. Por agora, é um pouco como se a mãe não tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário, será um caso arrumado e tudo passará a revestir-se de um ar mais oficial. Tomei o autocarro às duas horas. Estava muito calor. Como de costume, almocei no restaurante do Celeste. Estavam todos com muita pena de mim e o Celeste disse-me: "Mãe, há só uma". Quando saí, acompanharam-me à porta. Estava um bocado atordoado e tive que ir a casa do Manuel, para lhe pedir emprestados um fumo e uma gravata preta. O Manuel perdeu o tio, há meia dúzia de meses.Tive de correr para não perder o autocarro. Esta pressa, esta correria e, talvez, também os solavancos, o cheiro da gasolina, a luminosidade da estrada e do céu, tudo isto contribuiu para que eu adormecesse no caminho.

Albert Camus, O Estrangeiro, Lisboa: ed. Livros do Brasil, p.47-48. (Trad. Rogério Fernandes; pref. Jean-Paul Sartre)

25/04/2010

Apoteose de Homero!

Ao passar pela Casa Improvável e ao ler" O futuro o ouvirás, quando surgir "lembrei-me deste quadro que vi no Museu do Louvre.
O anjo a coroar Homero e a glorificá-lo é a cena central da pintura; junto aos pés estão duas alegorias representando a Ilíada com a espada e a Odisseia com o remo!
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Jean Auguste Dominique Ingres, A Deificação de Homero ou Apoteose de Homero, 1827
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Óleo sobre tela, 386 × 515 cm, Museu do Louvre
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O conjunto clássico bem como a forma piramidal das personagens pintadas foi Ingres buscar a Rafael ao fresco Parnassus na Stanza della Segnatura no Vaticano.

25 de Abril: a árvore da Liberdade!

Vieira da Silva, cartaz comemorativo.

As árvores crescem,
dão frutos,
colhem-se os frutos
e o ciclo renova-se!

25 de Abril, Chico Buarque

Desejo que a democracia não adormeça...



Poema à liberdade

Das cordas dedilhadas
de uma guitarra
sai um gemido cristalino:

É um grito de dor
de medo
de luta!

É a alma de um povo
que estremece
com a guerra e a morte.

É um fado que não é fado
mas que conta a História
de um destino amordaçado.

É um grito de liberdade
é a justiça cantada
é o sonho do Homem
poder dizer um dia:
“Sou livre”.

24/04/2010

A poesia no Japão Feminino...

Shiba Sonome (1664-1726) ficou famosa não só como poetisa mas porque Bashô a visitou, na sua casa, em 1694. Bashô dedicou um haiku à sua beleza: "Crisântemo branco / sem qualquer mancha de pó / que o olhar distinga"
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James McNeill WhistlerHarmony in Flesh Colour and Red(1869)
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"Ela já desponta
mesmo antes da floração -
violeta brava".
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Shiba Sonome in O Japão no Feminino, Haiku séculos XVII a XX, Lisboa: Assírio & Alvim, 2007,
p. 35, (Org. Luísa Freire)

23/04/2010

Jan van Eyck, O espelho convexo!

Gosto imenso desta pintura de Jan van Eyck: O Casamento dos Arnolfini. O pintor colocou na sua obra o mais infímo pormenor. Dentro deste quadro há um elemento para mim extraordinário e curioso que é o espelho convexo. Gosto de espelhos na pintura, eles funcionam como outro observador para além do pintor e dos espectadores. A pintura é concebida como um cenário cada observador é um espectador. O espelho é ainda um foco de luz, é um jogo, é o outro lado da realidade! [Acrescentei à luz as duas últimas ideias depois de um amável comentário que me levou a pensar.]
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Jan van Eyck, Detail of the convex mirror, The Arnolfini Wedding
or The Arnolfini Portrait, 1434

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Oil on panel,82 × 59,5 cm, National Gallery, London

Livros. no Dia Mundial do Livro!

Jan Lievens(Dutch, 1607–1674), Still Life with Books, ca. 1627–1628.
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Oil on panel, 35 9/16 x 46 15/16 in, Jan Lievens in the Rembrandt House Museum

lamento para a língua portuguesa

não és mais do que as outras, mas és nossa,
e crescemos em ti. nem se imagina
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.
mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia-a-dia te assassina.
mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cá mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós já falamos nem sequer fingindo
que só ruínas vamos repetindo.
talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como é realidade
a relação da língua com a morte,
o nó que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
mais valia que fossem de outra sorte
em cada um a força da vontade
e tão filosofais melancolias
nessa escusada busca da verdade,
e que a ti nos prendesse melhor grade.
bem que ao longo do tempo ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais,
e entre gentes remotas descobrias
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição,
mas cá e lá do que eras tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais.
matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão
de estranhas novidades, a ciranda
de violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.
e toda a gente o diz, mesmo essa que anda
por tal degradação tão mais feliz
que o repete por luxo e não comanda,
com o bafo de hienas dos covis,
mais que uma vela vã nos ventos panda
cheia do podre cheiro a que tresanda.
foste memória, música e matriz
de um áspero combate: apreender
e dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e soube utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano,
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações,
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros,
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade.
agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta em que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.
de assim acontecer, ficou-te o mito
de haver milhões que te uivam triunfantes
na raiva e na oração, no amor, no grito
de desespero, mas foi noutro atrito
que tu partiste até as próprias jantes
nos estradões da história: estava escrito
que iam desconjuntar-te os teus falantes
na terra em que nasceste, eu acredito
que te fizeram avaria grossa.
não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele essa miséria que te roça.
mas com o que te resta me iluminas.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

22/04/2010

Insinceridade, Vasco Graça Moura!

René Magritte, “Attempting the Impossible", 1928.

Oil on canvas. 105.6 x 81 cm. Private collection

A Insinceridade é um sentimento que deprecio. Amo a sinceridade, a frontalidade e a verdade mas, para se terem tais sentimentos, é preciso existir coragem! Apesar de tudo gosto deste poema de Vasco Graça Moura porque é infintamente triste e belo ...

insinceridade

quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

Ventos do Japão: Capricho!

Gosto imenso de Whistler e do seu gosto pelo Oriente. A composição cénica dá a esta pintura o seu quê de especial.
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James Abbott McNeill Whistler, Caprice in Purple and Gold: The Golden Screen, 1872-75
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(Freer Gallery of Art, Washington DC)

21/04/2010

Viagens no tempo: Caetano Veloso

Alegoria, Nuno Júdice!

Escher, Ambidextrous Peeled Faces




ALEGORIA


Mudança: chave de tantas figuras
que construíram o poema, moldaram a
sua forma, abriram à sonoridade do
crepúsculo os versos inúteis, a passagem das
sombras que procuram o abrigo do tempo,
sonhando o destino perecível do humano,
não as expulses de dentro da esperança,
condenando-as à imobilidade da treva;
abre-lhes a porta luminosa do fim -
revelando, num parêntesis de eternidade,
o rosto mortal que enuncia o instante.


Nuno Júdice, As Regras da Perspectiva, Lisboa: Quetzal, 1990, p.7

19/04/2010

Viagem a Itália, Goethe!

Raphael's Loggia
Engraving of Fresco Illustrating Genesis



"7 de Novembro

Só agora vi as Loggie de Rafael e as grandes pinturas da «Escola de Atenas», etc.; é como se tivéssemos de estudar Homero a partir de um manuscrito meio apagado e danificado, O prazerda primeira impressão é incompleto, só depois de se ter visto e estudado tudo em pormenor o gozo é perfeito. As secções melhor conservadas são os tectos das Loggie que representam histórias bíblicas, tão frescas que parece terem sido pintadas ontem; é certo que poucas provêm da mão do próprio Rafael, mas resultaram excelentes a partir dos seus desenhos e sob a sua orientação."

Joahnn W. Goethe, Viagem a Itália, vol. seis, Lisboa:Relógio D' Água Editores, 2001, p. 164. (trad. João Barrento)

Sigur Ros - Njosnavelin (acoustic live in Paris)

Depois de conhecer este grupo na Casa Improvável fiquei fascinada pelas suas músicas. Grata a C.A.

18/04/2010

"O desmamar de Cristo", Goethe - Viagem a Itália

Corregio Virgin And Child With An Angel (Madonna Del Latte)
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Oil on wood, 68,5 x 56,8 cm, Museum of Fine Arts, Budapest [Modifiquei o post colocando uma nova imagem]

Estou a acompanhar a viagem que Goethe fez a Itália entre 1786 e 1787. É um livro delicioso. Podemos ler por partes pegando no índice e escolhendo o sítio e o relato que mais nos interessa no momento. É como se fosse um livro de contos. Procurei on-line a pintura que Goethe descreve no excerto abaixo transcrito. Seria a pintura representada a de Correggio? Goethe fez esta viagem com um amigo conhecedor de arte. Como gostaria de fazer assim uma viagem...!

Nápoles, sobre o dia 22 de Maio [1787]
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Vimos hoje um quadro de Correggio que está à venda, não muito bem conservado, mas com as marcas do encanto ainda visíveis. Representa a Mãe de Deus, com o Menino hesitando entre o peito da Mãe e algumas peras que um anjo lhe oferece. Podia chamar-se-lhe «O desmamar de Cristo». A ideia parece-me muito delicada, a composição viva, natural e feliz, muito bem executada. Lembra logo o «Noivado de Santa Catarina», e não tenho dúvidas que é obra de Correggio.

Johann W. Goethe, Viagem a Itália, volume seis, Lisboa: Relógio de Água Editores, p. 268, (trad. João Barrento)

Dia Internacional dos Museus, um local especial...

Em Portugal há entre vários locais dois sítios que me encantam, um é Marvão, o outro é Sintra. Este último é escolhido pela paisagem envolvente e o romantismo que dela emana. A juntar à bela paisagem destacam-se os Travesseiros e as Queijadas comidos na Periquita.
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Em comum os dois espaços têm a majestosidade da paisagem que se perde de vista e as muralhas que contam histórias.

EM SINTRA

As águas maravilham-se entre os lábios
e a fala, rápidos
em Sintra espelhos surgem como pássaros,
a luz de que se erguem acontece às águas,
à flor da fala
divide os lábios e a ternura. Da linguagem
rebentam folhas duma cor incómoda, as de que
maravilhado de água surges entre
livros, algum crime, um
menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues
equívoca a luz depois. Rápidos
espelhos então cercam-te explodindo os pássaros.

Luís Miguel Nava, "Películas", in Poesia Completa 1979-1994, Lisboa, Dom Quixote, 2002

17/04/2010

Young Woman with Rose-tree

Lajos Gulācsy é um pintor húngaro. Estudou na Mintarajziskola (School of Drawing) em Budapeste antes de viajar para Roma e Florença, em 1902, e depois para Paris em 1906 para continuar os seus estudos. Enlouqueceu com os acontecimentos da Grande Guerra e foi internado numa instituição psiquiátrica em Lipótmező, onde ficou até ao fim da vida. Na instituição continuou a pintar. A sua primeira exposição foi no Ernst Museum em Budapeste.
[Dados retirados da Enciclopedia Britânica on-line].
Lajos Gulacsy, Young Woman with Rose-tree 1910-12

Conheci-o há pouco tempo, gostei da sua sensibilidade e das telas que vi .

A Nave dos Loucos...

Ao ler umas crónicas de João Bénard da Costa surgiu-me esta associação com a Nave dos Loucos de Brant e de Bosch, uma sátira de 1494 que bem pode aplicar-se, nos nossos dias, à política portugesa...
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Sebastian Brant, Ship of Fools
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Hieronymus Bosch, La Nef des Fous, c. 1510-15

Huille sur bois, 58 x 33 cm, Musée du Louvre, Paris

Fragment du volet gauche d'un triptyque au centre perdu. Volet droit à Washington (La Mort de l'avare). Faces extérieures, en grisaille, à Rotterdam (Le Colporteur). Le tableau du Louvre, coupé en bas, se raccorde exactement à un autre fragment conservé à Yale (Allégorie de la gloutonnerie). Se répondent ainsi avarice et excès, deux aspects de la même folie pêcheresse qui éloigne de Dieu, l'excès étant incarné par une assemblée de gloutons et d'ivrognes voguant à leur perte comme des insensés.
Une promenade insolite

"Un groupe de dix personnages sont réunis dans une barque. Le groupe principal se compose d’un franciscain et d’une religieuse jouant du luth, assis face à face. Ils ont la bouche grande ouverte comme pour chanter mais semblent aussi essayer de mordre, comme leurs compagnons, une crêpe pendue au centre de la petite embarcation, allusion à une coutume folklorique qui consiste à manger une galette suspendue sans les mains. Derrière eux sont assis les deux nautoniers. L’un d’entre eux a, en guise de rame, une louche géante. L’autre tient en équilibre sur la tête un verre et brandit au bout de sa rame une cruche cassée. Aux extrémités, une femme, d’un côté, s’apprête à frapper avec une cruche un jeune homme retenant une gourde qui trempe dans l’eau. De l’autre, sur un gouvernail de fortune, un petit homme en habit de fou boit dans une coupe. A côté de ce dernier, un autre se penche pour vomir. L’assemblée est dominée par le mât surmonté d’un bouquet de fleurs au centre duquel est représentée une chouette ou une tête de mort. Au-dessus flotte une oriflamme avec le croissant de lune musulman. Une oie rôtie est suspendue au mât. La joyeuse compagnie semble à la dérive, un vaste paysage, au fond, s’étend à l’infini".

Gran Torino - Clint Eastwood & Jamie Cullum!

Clint eastwood e Jamie Cullum, foto retirada da net



Gran Torino

So tenderly your story is
nothing more than what you see
or what you've done or will become
standing strong do you belong
in your skin; just wondering

gentle now the tender breeze blows
whispers through my Gran Torino
whistling another tired song

engine humms and bitter dreams grow
heart locked in a Gran Torino
it beats a lonely rhythm all night long
it beats a lonely rhythm all night long
it beats a lonely rhythm all night long

Realign all the stars above my head
Warning signs travel far
I drink instead on my own Oh! how I've known
the battle scars and worn out beds

gentle now a tender breeze blows
whispers through a Gran Torino
whistling another tired song

engines humm and bitter dreams grow
heart locked in a Gran Torino
it beats a lonely rhythm all night long

these streets are old they shine
with the things I've known
and breaks through the trees
their sparkling

your world is nothing more than all the tiny things you've left behind

So tenderly your story is
nothing more than what you see
or what you've done or will become
standing strong do you belong
in your skin; just wondering

gentle now a tender breeze blows
whispers through the Gran Torino
whistling another tired song
engines humm and bitter dreams grow
a heart locked in a Gran Torino
it beats a lonely rhythm all night long

may I be so bold and stay
I need someone to hold
that shudders my skin
their sparkling

your world is nothing more than all the tiny things you've left behind

so realign all the stars above my head
warning signs travel far
i drink instead on my own oh how ive known
the battle scars and worn out beds

gentle now a tender breeze blows
whispers through the Gran Torino
whistling another tired song
engines humm and better dreams grow
heart locked in a Gran Torino
it beats a lonely rhythm all night long
it beats a lonely rhythm all night long
it beats a lonely rhythm all night long


Written by Clint Eastwood, Jamie Cullum, kyle Eastwood and Michael Stevens.
Performed by Jamie Cullum and Don Runner.

16/04/2010

Una Furtiva Lagrima - Elisir d'Amore, Gaetano Donizetti

Una Furtiva Lagrima, 2º Acto, cena VIII, da ópera L'Elisir d'Amore. Plácido Domingo



Una furtiva lagrima
negli occhi suoi spuntò:
Quelle festose giovani
invidiar sembrò.
Che più cercando io vo?
Che più cercando io vo?
M'ama! Sì, m'ama, lo vedo. Lo vedo.
Un solo instante i palpiti
del suo bel cor sentir!
I miei sospir, confondere
per poco a' suoi sospir!
I palpiti, i palpiti sentir,
confondere i miei coi suoi sospir...
Cielo! Si può morir!
Di più non chiedo, non chiedo.
Ah, cielo! Si può! Si, può morir!
Di più non chiedo, non chiedo.
Si può morire! Si può morir d'amor.

15/04/2010

Gustav Klimt...

Como gosto muito de Arte Nova, adoro Gustav Klimt. A Mulher com Leque agrada-me por causa dos pássaros e das flores que envolvem o rosto de uma mulher europeia com traje oriental. Se os olhos fossem amendoados poderiamos estar em presença de uma japonesa. O olhar perdido no vazio tornam esta mulher misteriosa.
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Gustav Klimt, Mulher com Leque, 1915 (?)

Leonardo da Vinci - Flor, in memoriam!

Leonardo nasceu a 15 de Abril de 1452 no município da Vinci.
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Leonardo da Vinci, Ornithogalum umbellatum y Euphorbia, Estudo floral, provavelmente para a “Virgem dos Rochedos”.

Gabinetto dei Disegni e delle Stampe, Uffizi, Florença.

Madona dos Rochedos, c. 1483-1486, óleo sobre tela, 198 x 123 cm, Versão do Louvre

Nota imagem retirada da wikipedia.

14/04/2010

Retrato de Hugo Simons - Otto Dix!

Otto Dix é um pintor alemão que nasceu em Untermhaus, Alemanha. Inserido na corrente expressionista tem alguns quadros que me agradam mas tem outros muito difíceis. A dificuldade que tenho em relação ao pintor prende-se com questões estéticas. Algumas telas pintadas durante o período compreendido entre as duas guerras e durante I e II Guerras Mundiais são para mim desagradáveis. Todavia, são pertinentes na crítica das mentalidades e costumes da sociedade de então. Gosto deste retrato que apresento.
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Otto Dix, portrait of the lawyer Hugo Simons, 1925 (?)
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Montreal Museum of Fine Arts
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Pormenor das mãos: a eloquência

13/04/2010

Uma rosa...

Henri Fantin-Latour, Bouquet of Roses, 1885
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Oil on canvas, 38.9 x 46.3 cm, National Gallery of Canada tirei daqui

É acreditando nas rosas que as fazemos desabrochar
Anatole France

Retirei daqui por gostar da rosa que vi.

12/04/2010

Retrato de Cosimo I de Medici!

Gosto do olhar do pintor florentino Angelo Bronzino e das expressões que cria nos seus retratos, há humanidade e tranquilidade neste retrato de Cosimo I de Medici.
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Angelo Bronzino, Retrato de Cosimo I de' Medici, 1545
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Tempera 74 × 58 cm, Galleria degli Uffizi, Florença

Para C.A.

Retrato de um Jovem, Angelo Bronzino.

Agnolo di Cosimo é um pintor florentino, conhecido por Bronzino, ou Agnolo Bronzino -Angelo Bronzino. Gosto muito dos seus retratos.

Angelo Bronzino, Retrato de um Jovem com livro, 1535-40


Óleo sobre tela, 95,5 × 74,9 cm, Metropolitan Museum of Art, New York

11/04/2010

Malcolm MacLaren e Catherine Deneuve!

Depois de ler no blog de Eduardo Pitta que Malcom MacLaren morreu coloco aqui um vídeo retirado directamente do youtube.

Malcom McLaren morreu ontem, aos 64 anos. Foi o inventor do punk, era provocador e foi companheiro de Vivienne Westwood, com quem abriu a boutique Let It Rock. Foi Manager dos Sex Pistols, uma banda punk-rock. Trabalhou com Catherine Deneuve e Quentin Tarantino.

Villaret: José Régio Cântico Negro!

João Villaret canta o poema de José Régio: Cântico Negro.
Retirado directamente do youtube.

10/04/2010

Alice no Pais das Maravilhas: Ilustrações de Rackham!

No país da fantasia ou no país dos sonhos ninguém nos magoa!
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Alice in Wonderland illustration by Arthur Rackham

Arthur Rackham, illustration for Alice In Wonderland

Pensamentos de Marco Aurélio!

Imagem retirada da Wikipedia.

Recolhe-te em ti mesmo. Por natureza, a razão que te governa basta-se a si mesma, quando pratica a justiça, e, por esse modo, conserva a calma.


Marco Aurélio, Pensamentos, Liv. VII, Lisboa: Editorial Verbo, 1971, p. 84

Nudez... Vergílio Ferreira

Vergílio Ferreira nasceu em Melo, Gouveia. Revisitei este livro após ter lido na Casa Improvável uns trechos de outro livro do mesmo autor.

"Mas a vida está cheia do seu dom original e só espera de nós um pouco de atenção, - ou não bem de atenção, não bem de atenção: um pouco de humildade, de uma íntima nudez. Eu o reconheço de novo, a esse dom, nesta hora de chuva em que escrevo".

Vergílio Ferreira, Carta ao Futuro, Lisboa: Bertrand, 1981, p. 14

Para APS.

09/04/2010

Catrin Finch - Goldberg Variations de Johann Sebastian Bach

Catrin Finch Goldberg Variations / Amrywiadau Goldberg
Depois de passar no Arpose onde encontrei esta interpretação belíssima que não conhecia!

06/04/2010

Vergílio Ferreira - Carta ao Futuro!

Depois de passar pela Casa Improvável, lembrei-me de colocar este trecho, uma das facetas de Vergílio Ferreira.
Auguste Toulmouche, The Letter.
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Colecção privada

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"Meu amigo:
Escrevo-te para daqui a um século, cinco séculos, para daqui a mil anos... É quase certo que esta carta te não chegará às mãos ou que, chegando, a não lerás. Pouco importa. Escrevo pelo prazer de comunicar. Mas se sempre estimei a epistolografia, é porque é ela a forma de comunicação mais directa que suporta uma larga margem de silêncio; porque ela é a forma mais concreta de diálogo que não anula inteiramente o monólogo. Além disso, seduz-me o halo de aventura que rodeia uma carta: papel de acaso, redigido numa hora intervalar, um vento de acaso o leva pelos caminhos, o perde ou não aí, o atira ao cesto dos papéis e do olvido, ou o guarda entre os sinais da memória. Por sobre tudo, porém, agrada-me falar desde o centro deste Inverno e desta cidade mortal que me cercam. Ouço as vozes subterrâneas à alegria mecânica, aos passos cronometrados, à azafama de nervo e esquecimento que adivinho ao longe, numa metrópole-síntese construída em arame e cimento, e é bom que essas vozes ressoem na minha boca".
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Vergílio Ferreira, Carta ao Futruro, Lisboa: Bertrand, 2003, p.98 (1ª edição 1958)

05/04/2010

À procura de um céu negro encontrei a luz de Hieronymus Bosch!

No quadro de Bosch: Ascesa dei Beati all'Empireo, os anjos são conduzidos à luz divina através de uma passagem cilindríca.
Ascesa dei Beati all'Empireo, Ca. 1490

Olio su tavola, 86.5 × 39.5 cm, Palazzo Grimani di Santa Maria Formosa, Venice.

No Céu Negro!

Hieronymus Bosch, Ascesa dei Beati all'Empireo, c. 1490. (Detalhe)
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Olio su tavola, 86,5 x 39,5 cm, Palazzo Grimani di Santa Maria Formosa, Venezia


No Céu Negro

Não é usado o adjectivo escuro
ou obscuro
que o poema se escurece

ele possui a sua escuridão
uma noite que
o esconde e molha no céu negro

Gastão Cruz, Escarpas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2010, p.79

04/04/2010

A Ressurreição - Gregório Lopes

A Ressurreição é um dos temas que terminam a Semana Santa. Uma visão de um pintor português.
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Gregório Lopes, Ressurreição de Cristo, 1539-1541

Museu Nacional de Arte Antiga
Proveniência: Mosteiro de Santos-o-Novo (Lisboa) (N.º INV: 1175)

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