22/04/2010

Insinceridade, Vasco Graça Moura!

René Magritte, “Attempting the Impossible", 1928.

Oil on canvas. 105.6 x 81 cm. Private collection

A Insinceridade é um sentimento que deprecio. Amo a sinceridade, a frontalidade e a verdade mas, para se terem tais sentimentos, é preciso existir coragem! Apesar de tudo gosto deste poema de Vasco Graça Moura porque é infintamente triste e belo ...

insinceridade

quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

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