na hora de pôr a mesa, éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu. depois, a minha irmã mais velha casou-se. depois, a minha irmã mais nova casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está na casa dela, menos a minha irmã mais nova que está na casa dela, menos o meu pai, menos a minha mãe viúva. cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho. mas irão estar sempre aqui. na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco. enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco.
José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas, Vila Nova de Famalicão. Quasi, 2007.
Desejo que passe um dia muito feliz e com muita luz, à beira-mar.
Para uma mulher vitoriosa - "Sê lanterna, sê luz...! :))
Vann Gogh- Detalhe de Noite estrelada, cortesia do google
Sê lanterna, sê luz com vidro em torno,
Sê lanterna, sê luz com vidro em torno, Porém o calor guarda. Não poderão os ventos opressivos Apagar tua luz; Nem teu calor, disperso, irá ser frio No inútil infinito
3-3-1929
Ricardo Reis, (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994, p.139.
De uma Maria João para outra Maria João - Fantasia de Chopin
Il a mis le café Dans la tasse Il a mis le lait Dans la tasse de café Il a mis le sucre Dans le café au lait Avec le petit cuiller Il a tourné Il a bu le café au lait Et il a resposé la tasse Sans me parler Il a alumé Une cigarrette Il a fait des ronds Avec la fumée Il a mis des cendres Dans le cendrier Sans me parler Sans me regarder Il s'est levé Il a mis Son chapeau sur la tête Il a mis Son manteau de pluie Parce qu'il pleuvait Il est parti Sous la pluie Sans une parole Sans me regarder E moi j'ai pris Ma tête dans ma main E j'ai pleuré.
Jacques Prévert ( https://trapichedosoutros.blogspot.com/2012/07/dejeuner-du-matin-cafe-da-manha-de.html)
The Master of the Female Half-Lengths, active ca.1530-1540, was a Dutch Northern Renaissance painter or likely a group of painters of a workshop. The name was given in the 19th century to identify the maker or makers of a body of work consisting of 67 paintings to which since 40 more have been added.
Tenho andado ainda longe da internet, isto é, só venho pontualmente aqui, o que é um acto egoísta. Porém, houve uma alma querida que me avivou a memória, através de uma sms que só li hoje.
Daí só aparecer aqui a minha manifestação de amizade, um dia depois :((. Contudo, sabe que me lembro muitas vezes de si e do seu magnífico espaço que me vai alimentando. O oceano que corre e traz o oxigénio que preciso.
Por tudo, pela amizade, pelos livros, pela sua gentileza constante,
um beijinho de parabéns pintado a ouro renascentista, como a segunda imagem.
Still Life with a Cop, a Crown of Flowers and a bouquet,
(retirado do site assinalado na imagem: arte.sunlight.com)
A REVOLUÇÃO DAS FLORES
Correspondendo a um apelo subterrâneo há vários dias que as dálias, as
cinerárias, os gerânios e as hortências se recusam a florirem e os jasmineiros
e as violetas a exalarem o seu aroma penetrante. De entre as rosas foram as vermelhas
as primeiras a aderir. Comités de flores que se formaram espontaneamente em
todos os jardins reivindicam o direito de florir em qualquer estação do ano,
medidas eficazes contra as arbitrariedades das floristas, a extinção pura e
simples das estufas. Uma nuvem de pó cobre a cidade. Em vão a polícia controla
os portos e as fronteiras. A exportação de bolbos e sementes foi suspensa
entretanto. Na Madeira o movimento foi desencadeado pelas estrelícias. Tulipas
que viajavam de avião e se destinavam a abastecer o mercado londrino murcharam
colectivamente. No Extremo Oriente, crisântemos negros invadem as ruas de
cidades como Tóquio e Pequim. Apanhadas desprevenidas as borboletas, abelhas,
vespas e outros insectos ensaiam agora perigosos voos sobre os transeuntes. Às
dezasseis horas numa conferência de imprensa realizada no Jardim de S. Lázaro,
um grupo não identificado de flores, mas entre as quais se podia reconhecer
alguns amores-perfeitos, proclamou o estado de felicidade permanente nos
jardins.
Jorge Sousa Braga, Lisbon Revisited, Dias de Poesia (Leitura
na Casa de Fernando Pessoa 14 e 15 de Junho). Lisboa:Casa Fernando Pessoa, 2018, p. 30