16/02/2015

A chave


 
Comprei um livro para a minha colecção intitulada Principezinho. Não é de Saint-Exupéry mas foca-se na sua história. Perguntei-me se o discurso seria lamechas... A consideração é já a imperfeição da minha mente.


O que é um problema? (...)
- Um problema é como uma porta para a qual não temos chave.
- E o que se faz quando se encontra um problema? - perguntou o jovem, cada vez mais interessado na conversa.
- Bem - refleti -, a primeira coisa a fazer é ver se o problema é mesmo nosso, ou seja, se está a bloquear o nosso caminho. (...)
- E se o problema for mesmo nosso? - continuou, virando-se para mim.
- Então temos que encontrar a chave adequada e introduzi-la corretamente na fechadura.
- Parece simples - observou o jovem, acenando mais uma vez.
- Nem por sombras - respondi. - Há pessoas que não conseguem encontrar a chave, não por falta de imaginação mas porque não querem experimentar duas ou três vezes as chaves  que têm ao se dispor, às vezes nem uma só. 

Alejandro Guillermo D. Roemmers, O Regresso do Jovem Príncipe. (Tradução de Elsa Vieira). Alfragide: Leya, (Ilustração da capa de Laurie Hastings), 2011, p. 22-23.

A Chave com que a Rainha Beatriz da Holanda "abriu" o Rijksmuseum após as obras de restauro
Material polished bronze, rosewood dimension 70 x 175 x 50 cm, edition unique piece collection Rijksmuseum, Amsterdam.


Alejandro Guillermo Roemmers nasceu em Buenos Aires em 1958. Tem várias obras publicadas.

A. G. Roemmers esteve na Universidad Pontifícia de Salamanca em 14-05-2014. Um excerto sobre o autor:

D. Alejandro Guillermo Roemmers (Buenos Aires, 1958), autor de las obras ‘El regreso del Joven Príncipe’ o ‘España en mí’ entre otras, acude mañana a la Universidad Pontificia de Salamanca para ofrecer una ponencia sobre ‘El nacimiento de una nueva consciencia universal: éxito, felicidad y espiritualidad’.
Roemmers (íntimo amigo de Jorge Mario Bergoglio) visitó al Papa Francisco en el Vaticano en 2013 y le entregó un poema dedicado especialmente a él titulado ‘Un regalo para Francisco’, que forma parte de su libro ‘La memoria impar’.
Mecenas de las artes, Roemmers se confiesa como absoluto defensor de valores como el amor y la fraternidad e intenta ayudar a mejorar la realidad que nos rodea a través de la educación y la cultura porque, según defiende “no hay nada que cambie más la vida de las personas que los libros”.

Un regalo para Francisco

Quise encontrar un obsequio,
el más sencillo, el más humilde,
el que en su pequeñez
pudieras aceptar sin ofenderte.

Pensé que podría comprarlo y fui a la tienda
pero ningún objeto me conformaba.
Entonces escuché una voz santa que me dijo:
“…a quien tiene a Dios, nada le falta,
sólo Dios, basta.”

Creí ser poeta para ofrecerte palabras:
pero las hallé superfluas, pomposas, gastadas…
Hui de mí y perseverante
busqué en la tierra
pero hasta una semilla me pareció excesiva
pues podría albergar un árbol.

Cuando divisé la pradera
mi corazón vibró alegre,
pero intuí al momento que tú no aprobarías
que le restara una sola de sus flores silvestres.

Busqué entonces en el mar
y no hallé un confín
que tu nombre no hubiera alcanzado
y en toda su inmensidad
sólo tenías amigos.

Desafiante, me atreví hasta el abismo
y como un cielo vuelto al revés
lo encontré poblado de estrellas marinas.
Pero cuando tuve una en mis manos
creí que no podrías ser feliz
sabiendo que cada noche al cielo marino
le faltaría esa estrella…

Busqué entonces en el aire
respetando las abejas, luciérnagas, mariposas
y todas las criaturas vivientes,
pues tú no querrías detener sus alas
ni perturbar su vuelo.

Procuré traerte el aroma
sosegado y puro de las hierbas,
del hogar encendido y los jazmines…
pero no pude conservarlos.

Quise igualar el canto de la alondra,
el murmullo del río, el silbido del viento
cuando exhala en los campos profundos…
pero mi voz fue demasiado torpe.

Por un largo instante logré retener,
resbalando por mis dedos,
unas gotas del rocío temprano…
pero frescas y transparentes retornaron al aire.

Quedé entonces en silencio, desconsolado,
bajo el azul infinito
que mis ojos no podrían reflejar…
¿Francisco, pensé, en tu amorosa humildad,
es que no hallaría nada que pudiera agradarte…?

De pronto un árbol dejó caer una de sus hojas
que se depositó frente a mí en el suelo.
Luego otra, que llegó meciéndose en la brisa
hasta mis manos que la recibieron sin querer.

Luego otra, otra, y otra más,
hasta que sentí que el árbol, compasivo,
estaba dispuesto a entregarse por entero
y desnudar sus ramas
con tal de consolarme.

Tanto era su amor
que brotaron mis lágrimas
como un manantial redentor y agradecido.
Las hojas del árbol
continuaron descendiendo generosas
en una bendición inacabable…

Entonces pude comprender… y sonreí.
Y sonrieron conmigo los campos, las aves y los arroyos.
La brisa se detuvo
y ya no volvieron a caer más hojas…
El regalo que produjo la sensibilidad de aquél árbol
es el que ahora quiero ofrecerte:
el amor de una sonrisa.

Un obsequio humilde y efímero
que puedes multiplicar y compartir sin miedo
como los panes y los peces,
hasta que todos unidos a Jesús
habitemos finalmente el Reino de Dios.

Alejandro Guillermo Roemmers, Ciudad del Vaticano, 18/09/13



A perfeição não é alcançada quando não há mais nada a ser incluído, mas sim quando não há mais nada a ser retirado.
Antoine de Saint-Exupéry (Wikipedia)
Inverno

14 comentários:

  1. Foco-me em Francisco, ana - um Ser Humano extraordinário que não pára de nos surpreender
    Beijinhos, votos de boa semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também o acho humano e diferente do que estamos habituados.
      Beijinho. :))

      Eliminar
  2. Também tenho vários livros relacionados com o Principezinho e Saint-Exupéry, mas este não conheço.

    Boa semana e não trabalhes muito! Estes dias são para descansar a cabeça:)
    Beijinhos:)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É interessante. Primeiro não achei inovador mas acaba por fazer uma boa aliança com o principezinho adolescente.
      Tive todo dia a trabalhar, só agora estou livre. Amanhã a mesma coisa. :))
      Beijinho e diverte-te.

      Eliminar
  3. Ana

    Gostei das palavras "Há pessoas que não conseguem encontrar a chave, não por falta de imaginação mas porque não querem experimentar duas ou três vezes as chaves que têm ao se dispor, às vezes nem uma só".

    Parece que este texto resume o que é a depressão, um mal que nos atinge em qualquer idade ou a qualquer momento das nossas vidas e que muitas vezes a resolução passa por ir experimentando várias chaves até abrir a porta. O problema é o querer desistir, abandonarmo-nos à tristeza.

    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Luís,
      Gostei muito da sua análise. Estou em sintonia.
      Há sempre uma possibilidade, temos é que lutar por ela.
      Um abraço. :))

      Eliminar
  4. "A perfeição não é alcançada quando não há mais nada a ser incluído, mas sim quando não há mais nada a ser retirado". Nesta frase lapidar é-nos indicada a chave: a sabedoria do despojamento. Vivemos nós com tanta, tanta tralha...
    Parabéns, Ana. Gostei muito, imenso, deste "poste".

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade. É difícil despojarmos-nos.
      Obrigada, Agostinho.
      Boa noite. :))

      Eliminar
  5. Estive sem internet por várias semanas. Como foi bom retornar e deleitar-me com sua postagem! Música magnífica e tanto a refletir! Sobre a perfeição, sobre a força do sorriso, sobre a perseverança... Obrigada, Ana. Beijos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Jane,
      Lamento que tenha tido essa ausência.
      Eu é que agradeço as suas palavras.
      Irei visitá-la.
      Beijinho.:))

      Eliminar
  6. Comprei este livro do Principezinho mais ou menos quando saiu... :)

    beijo amigo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Daniel,
      Só agora é que o encontrei. Vale a pena ser lido.
      Beijinho. :))

      Eliminar
  7. Não conhecia Roemmers e fiquei com imensa curiosidade em o conhecer melhor.
    Para começar: "O regresso do jovem principe", como é óbvio.:))
    Beijinho grato.

    ResponderEliminar
  8. GL,
    Estou a gostar. Também só o conheci agora. O poema ao Papa Francisco é muito bonito. Este livro também tem muitos pontos de contacto com Saint-Exupéry.
    Beijinho. :))

    ResponderEliminar

Arquivo