Myra Landau, Écoute (la vie)
CATARINA EUFÉMIA
O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da justiça continua
Sophia de Mello Breyner Anderson, Dual, Lisboa: Salamandra, 1986
Paula Rêgo, Festa, 2002
Retrato de Mulher Triste
Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.
Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.
Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.
Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.
Cecília Meireles, in Poemas (1942-1959)
Maria das Quimeras
Maria das Quimeras me chamou
Alguém. Pelos castelos que eu ergui
P'las flores d'oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou.
Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minh'alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh'alma, Alguém, tudo levou!
Maria das Quimeras, que fim deste
Às flores d'oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?
Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?...
Aonde estão os beijos que sonhaste,
Maria das Quimeras, sem quimeras?...
Florbela Espanca, Livro de Sóror Saudade, Lisboa: Tipografia A Americana, 1923.
Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.
Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.
Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.
Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.
Cecília Meireles, in Poemas (1942-1959)
Maria das Quimeras
Maria das Quimeras me chamou
Alguém. Pelos castelos que eu ergui
P'las flores d'oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou.
Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minh'alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh'alma, Alguém, tudo levou!
Maria das Quimeras, que fim deste
Às flores d'oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?
Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?...
Aonde estão os beijos que sonhaste,
Maria das Quimeras, sem quimeras?...
Florbela Espanca, Livro de Sóror Saudade, Lisboa: Tipografia A Americana, 1923.
Um filme delicioso: 8 Mulheres de François Ozon, 2002
Bonitas escolhas, Ana.
ResponderEliminarParabéns
Bonitos quadros e bonitos poemas.
ResponderEliminarAna, um Feliz Dia Internacional da Mulher.
Um beijinho especial
Feliz Dia da Mulher, Ana!
ResponderEliminarBoas escolhas!
Beijinho! :-)
Gostei especialmente da pintura de Myra Landau. Bom dia da Mulher!
ResponderEliminarobrigada querida Ana por ter me colocado aqui!!!! està tudo lindo!!!!
ResponderEliminarbjs
Bonitas escolhas, tanto em texto como nas pinturas. A minha preferência, vai-se lá saber porquê, é Florbela Espanca.
ResponderEliminarUm beijinho especial
Adoramos os poemas. É isso, respeito, descoberta e simplicidade ... tudo junto mesmo, num pacote só, recheado de vida.
ResponderEliminarcom carinho e admiração, feliz 8 de março, amiga ANA, obrigada por existir em nossas vidas, enquanto luta houver, existiram donas Marias Augustas que precisam de olhos abertos como os seus para enxerga-la.
nais tukê.
bjs nossos
Ana, Florbela está toda nesse poema, como Deus está todo em tudo neste mundo. Deixo meu abraço e meus parabéns.
ResponderEliminarGilson.
Isabel,
ResponderEliminarObrigada!
Beijinhos.:)
Cláudia,
Feliz final de dia!:)
Onrigada,
Beijinhos. :)
Sandra,
Um final de dia feliz também!
Beijinhos. :)
Margarida,
Também é a minha favorita.
Beijinhos!:)
Myra,
É tão bonita a sua tela que é por isso que está lindo.
Beijinhos! :)
Carlota,
É bom ter quimeras!
Beijinhos. :)
Amigas Vurdósn,
Obrigada por essas palavras lindas. Partilho a mesma ideia, obrigada por terem aparecido na minha vida.
Beijinhos 9 - :)))))))))
Gilson,
Obrigada!
As suas palavras são preciosas.
Abraço. :)
A ana escolheu o mesmo poema da Cecília Meireles que o Carlos Barbosa Oliveira (Crónicas do Rochedo).
ResponderEliminarLindo!!
Bjs e bfds
Pedro,
ResponderEliminarTenho que ir espreitar o blogue que refere. É bom partilhar dos mesmos gostos.
Beijinho! :)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTudo muito belo :)
ResponderEliminar(que bom reler a Maria das Quimeras...)
bjs
Virgínia,
ResponderEliminarObrigada pela visita. Maria das Quimeras era o que me parecia ligar melhor com a pintura da Graça Morais.
Beijinhos e que bom vê-la por aqui.
:)