18/06/2011

José Saramago

Pilar coloca as cinzas de Saramago em frente à casa dos Bicos, ou casa D. Brás de Albuquerque, debaixo da oliveira centenária que veio da terra natal do escritor para esse propósito.







A vontade do escritor era ser sepultado junto à velha oliveira em Azinhaga do Ribatejo. Porém, gente da cultura e do poder político quiseram homenagear José Saramago na cidade onde viveu a maior parte da sua vida. Assim, jaz em frente à Fundação Saramago que fica na Casa dos Bicos onde todos os portugueses poderão visitar parte do espólio da sua biblioteca.

O último livro que li de Saramago, após a sua morte, intitula-se: O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Dele retiro este trecho porque hoje julgo pertinente lembrar:



Um homem deve ler de tudo, um pouco ou o que puder, não se lhe exija mais do que tanto, vista a curteza das vidas e a prolixidade do mundo. Começará por aqueles títulos que a ninguém deveriam escapar, os livros de estudo, assim vulgarmente chamados, como se todos o não fossem, e esse catálogo será variável consoante a fonte de conhecimento aonde se vai beber e a autoridade que lhe vigia o caudal, neste caso de Ricardo Reis, aluno que foi dos jesuítas, podemos fazer uma ideia aproximada, mesmo sendo os nossos mestres tão diferentes, os de ontem e os de hoje. Depois virão as inclinações da mocidade, os autores de cabeceira, os apaixonamentos temporários, os Werther para o suicídio ou para fugir dele, as graves leituras de adultidade, chegando a uma certa altura da vida já todos, mais ou menos, lemos as mesmas coisas, embora o primeiro ponto de partida nunca venha a perder a sua influência, com aquela importantíssima e geral vantagem que têm os vivos, vivos por enquanto, de poderem ler o que os outros, por antes do tempo mortos, não chegaram a conhecer.



José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Lisboa: Caminho, 2007, p. 137



Dueto das Flores Lakmé

15 comentários:

  1. De Saramago li apenas "O ensaio sobre a cegueira" e gostei, mas apesar de ter aí outros livros dele, não me chamam para lhes pegar.
    Qualquer dia hei-de ler mais.

    Um abraço
    Isabel

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  2. O trecho é pertinente, sim, ana.
    Agora a mediatização do que esta imagem representa, não sei...

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  3. Ópera apresentada pela primeira vez em Paris no ano de 1883, não foi? Li no google. Não conhecia.

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  4. José Saramago, ainda será muito lembrado e quem sabe um dia, sua Instituição cresça a ponto de fazer a diferença que merece e pela qual tanto lutou.

    "Eu me pronuncio" - aderimos a essa idéia.

    5 bjs

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  5. Um livro que toda a gente me aconselha, lá irei um dia destes.

    Relativamente à imagem, tal como já referi no meu cantinho, a memória é um dever.

    ;)

    Jinhos.

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  6. Ana,
    A história repete-se, as vontades adulteram-se sempre.
    No entanto, embora a ideia de Saramago tivesse a ver com o mergulho na simplicidade das coisas, acho muito aceitável esta ideia de trazer a oliveira para Lisboa. É que o escritor, como grande referência que é, passou a ser património de todos.

    Beijo :)

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  7. Este foi o último livro de Saramago que li e é magistral. Junta-se a outros que considero obras-primas: "Memorial do Convento", "Ensaio sobre a Cegueira", "História do Cerco de Lisboa".
    Uma justíssima evocação, Ana.
    Um beijinho e um bom resto de domingo :)

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  8. Gostei especialmente de ouvir discurar a senhora Pilar del Rio sobre os problemas da cultura portuguesa...:)

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  9. Isabel,
    Saramago é difícil de ler mas li vários livros, por ordem cronológica:
    - O Memorial do Convento;
    - Cerco de Lisboa;
    - O Evangelho Segundo Jesus Cristo;
    - Caim;
    -O Ano da Morte de Ricardo Reis
    - Livro poesia de Saramago.

    O que gostei mais foi sem dúvida este último e o Evangelho Segundo Jesus Cristo.
    Tenho o Ensaio Sobre a Cegueira mas não o consegui ler, tive um problema com este livro, tenho que fazer um clic que ainda não fiz!

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  10. Catarina,
    Para mim, só me faz impressão não respeitarem a vontade de Saramago. A ópera Lakmé é muito bonita, também a conheço há pouco tempo.
    Bjs. :)

    Bjs, Isabel! Editei sem querer.

    Cozinha dos Vurdóns,
    Em relação ao Saramago eu tenho alguns entraves, embora tenha gostado dos livros que indico. Mas aprecio a sua coerência e tudo aquilo que fez para dar seguimento às suas ideias.

    5 bjs. :)

    JJ,
    Gostei muito, mas trabalhar um heterónimo de Fernando Pessoa é para mim uma coisa sublime porque é o meu poeta português de eleição como pode ver no mote do blogue.
    Aliás tinha uns versos sobre o sonho mas era muito grande e houve uma altura em que o silêncio foi importante!:)
    Bjs.

    AC,
    Não partilho totalmente da sua ideia porque acho que se devia respeitar a vontade do próprio. Para mim o simbolismo espiritual é tão forte como a presença das cinzas dele. Aliás sou muito desprendida nessas coisas, quero ser cremada e deitada ao mar que é terra de ninguém e de todos. Será que consegui fazer-me entender? Gostei de o ver por cá, já tinha saudades.
    Bjs. :)

    Sara,
    Em cima enumero os livros que li.
    Não consegui ler o Ensaio sobre a Cegueira, não sei porquê mas quando lhe peguei não fui das primeiras páginas, talvez porque não queria lembrar-me da época em que ocorre a história.
    Bjs.:)

    George Sand,
    Pilar é uma mulher com garra mas ainda não a assimilo muito bem. Li a notícia on-line. Gostei do que disse sim.
    Bjs. :)

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  11. Sara,
    Não fui além das primeiras páginas.

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  12. Li a maior parte da obra de Saramago desde «Levantados do Chão»

    «O Ano da Morte de Ricardo Reis» é extraordinário.

    Bjs, ana

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  13. Sim, JPD,
    É um livro sublime, especial, divinal... e por aí fora com todos os adjectivos imagináveis!
    Bjs, JPD. :)

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  14. Que nova ela é.
    E o livro deve ser muito bom, vou procurá-lo...

    Boa semana, Ana!

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  15. Julgo que vai gostar.
    Boa semana, Cris!

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