Thomas Mann nasceu a 6 de Junho de 1875 em Lübeck. Entre os livros que escreveu escolho a Montanha Mágica para hoje o homenagear. Para além deste livro, houve outro que me tocou imensamente: A Morte em Veneza, um dos mais belos livros que li e que aqui trarei em altura oportuna.
O tédio foi o mote que me levou a registar este trecho. Tédio esmaga e mata.
Max Oppenheimer, Thomas Mann, 1926
Óleo sobre tela, 59 x 49,2 cm, Wien Museum Karlsplatz, Vienna, Austria
Crê-se em geral que a novidade e o carácter interessante do seu conteúdo "fazem passar" o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e o vazio estorvam e retardam o seu curso. Mas não é absolutamente verdade. O vazio e a monotonia alargam por vezes o instante ou a hora e tornam-nos "aborrecidos"; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada. Um conteúdo rico e interessante é, pelo contrário, capaz de abreviar uma hora ou até mesmo o dia, mas, considerado sob o ponto de vista do conjunto, confere amplitude, peso e solidez ao curso do tempo, de tal maneira que os anos ricos em acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e voam. Portanto, o que se chama de tédio é, na realidade, antes uma simulação mórbida da brevidade do tempo, provocada pela monotonia: grandes lapsos de tempo quando o seu curso é de uma ininterrupta monotonia chegam a reduzir-se a tal ponto, que assustam mortalmente o coração; quando um dia é como todos, todos são como um só; e numa uniformidade perfeita, a mais longa vida seria sentida como brevíssima e decorreria num abrir e fechar de olhos. O hábito é uma sonolência, ou, pelo menos, um enfraquecimento do senso do tempo, e o facto dos anos de infância serem vividos vagarosamente, ao passo que a vida posterior se desenrola e foge cada vez mais depressa, esse facto também se baseia no hábito.
Thomas Mann, A Montanha Mágica, Lisboa: Livros do Brasil, p. 110-111. (Trad. Herbert Caro)
E como nos esmaga, nos atropela e nos aleja o tão pouco visto tédio. O mundo disfarça de rotina organizada, visão bem distribuida, organização. Rotina que vira tédio, num piscar de olhos, que esmaga nossos sonhos e nos aleja a alma. Lutamos todas, muito contra ela. Acho que vencemos. Sentimos que precisamos vencê-la sempre.
ResponderEliminarbjs - 5
Cozinha dos Vurdóns,
ResponderEliminarÉ preciso vencer o tédio para não magoarmos a alma. Sinto muito esta verdade!
Obrigada, 5 bjs. :))
Sim, o tédio pode ser uma consequência da monotonia, da rotina que se instalou na nossa vida. Teremos que nos livrar dessa rotina com pequenas mudanças...
ResponderEliminar“Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito ,repetindo todos os dias o mesmo trajeto,quem não muda de marca , não se arrisca a vestir uma nova cor , ou não conversa com quem não conhece.
....
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho , quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.”
Pablo Neruda
“A Morte em Veneza” e “A Montanha Mágica” são, realmente, dois livros extraordinários.
Muito interessante. Gostava de ler o livro (que confesso que não li). Concordo com as ideias, mas por mim prefiro o tédio às surpresas desagradáveis... A rotina por vezes dá algum conforto e estabilidade. Bj!:)
ResponderEliminarCatarina,
ResponderEliminarObrigada pelo excerto do Pablo Neruda, é muito bonito!
Vou reflectir!
Bjs!:)
Margarida,
Compreendo o que quer dizer.
No entanto, preciso de surpresas, por vezes não são aquelas que almejaria mas é viver!
A Montanha Mágica foi das leituras mais lindas que fiz há dois anos.
ResponderEliminarVerdadeiramente arrebatador.
Comprei «Os Buden Brook»
Perdi a série que passou há uns anos atrás.
Boa sugestão de leitura.
Bjs
JPD,
ResponderEliminarNão li "Os BuddenBrook" mas vi a série que era notável. Tenho na estante o livro mas ainda não tive disponibilidade para ler.
Obrigada, JPD, aprecio as suas sugestões.
Bjs :)