Dente-de-Leão

Com os minutos contados, não parei senão quando abri a porta e vi que no meu jardim selvagem, sim selvagem, por falta de tempo e de atenção, nasceu um dente-de-leão. Flor diáfana que um pequeno sopro desfaz em mil bocados. Em pequena soprava e admirava as pétalas a voarem - é assim que eu lhes chamo. Parece uma bailarina, rodopia, dança e misteriosamente esfuma-se como uma bola de sabão.

A delicadeza da sua essência não é valorizada, talvez porque é do campo, nasce e ali morre entre a erva verde. Peguei no meu dente-de-leão e trouxe-o para casa. Agora jaz sobre o pote e ilumina como o astro que nos alimenta e aquece.

Pensei chamar-lhe lua e depositei-o sobre a pedra mas ele continuava a emanar uma luz tão forte que nem a lua cheia o ofuscaria.

Resolvi dar-lhe outra luz e contra o vidro translúcido ele continuou a brilhar. Entre a luz e a sombra ele fixa-se em tom metal e espera que algum pintor lhe ache a devida graça.

Não tem moldura este dente-de-leão, nem tão pouco tem cheiro mas que importa isso?

Só sei que ele me sorriu durante uns minutos e por isso esqueci-me donde estava, de quem era, dos compromissos que estava a adiar. Naquele momento fui livre, tão livre quanto ele.