30/03/2019

Sob a luz do poente

Sob a luz do poente, Panteão, Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Batalha



A um Poeta

Longe do estéril turbilhão da rua, 
Beneditino, escreve! No aconchego 
Do claustro, na paciência e no sossego, 
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! 
Mas que na forma de disfarce o emprego 
Do esforço; e a trama viva se construa 
De tal modo, que a imagem fique nua, 
Rica mas sóbria, como um templo grego. 
Não se mostre na fábrica o suplício 
Do mestre. E, natural, o efeito agrade, 
Sem lembrar os andaimes do edifício: 
Porque a Beleza, gêmea da Verdade, 
Arte pura, inimiga do artifício, 
É a força e a graça na simplicidade. 


Olavo Bilac, in "Poesias"  (poema retirado do Citador)

David Fray, Jacques Rouvier, Emmanuel Christien & Audrey Vigoureux, pianos String ensemble of the Orchestre National du Capitole de Toulouse

27/03/2019

A mentira!

Olhos mudos



Olhos mudos observam a mentira,
imutáveis... nada podem fazer.
É a verdade contra uma parede falsa.
Arbítrio: verdade ou mentira?
A verdade dos inocentes versus a mentira fria
do poder do grupo sobre o indivíduo...
...Silêncio.

*****

A nossa ânsia de verdade é grande,

A nossa ânsia de verdade é grande, e por certo o que quiséramos fora, não esta doutrina do Limiar, senão a casa e o lar que há nele.

De aí a arte, feita para entretimento dos outros e nossa ocupação, dos que somos ocupáveis desse modo. Negada a verdade, não temos com que entreter-nos senão a mentira. Com ela nos entretenhamos, dando-a porém como tal, que não como verdade; se uma hipótese metafísica nos ocorre, façamos com ela, não a mentira de um sistema (onde possa ser verdade) mas a verdade de um poema ou de uma novela - verdade em saber que é mentira, e assim não mentir. (...) e assim construí para mim esta regra de vida.

Procurei a verdade ardentemente, ora com uma atenção (…)

s.d.
Fernando Pessoa


Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa. Lisboa: Estampa, 1990, p.90.


23/03/2019

Invenções!

Uma nova forma de rega para quem gosta...


The Lent Lily
’Tis spring; come out to ramble
The hilly brakes around,
For under thorn and bramble
About the hollow ground
The primroses are found.
And there’s the windflower chilly
With all the winds at play,
And there’s the Lenten lily
That has not long to stay
And dies on Easter day.
And since till girls go maying
You find the primrose still,
And find the windflower playing
With every wind at will,
But not the daffodil,
Bring baskets now, and sally
Upon the spring’s array,
And bear from hill and valley
The daffodil away
That dies on Easter day.
 A. E. Housman (1859-1936)
https://interestingliterature.com/2018/10/15/a-short-analysis-of-a-e-housmans-the-lent-lily/

22/03/2019

Hino à Primavera!

Primavera, a minha estação preferida. O sol, a luz incidente sobre as flores, a alegria.


Renascer


Árvores ainda adormecidas ... a permanência na mudança!


Inspirar a Natureza



A beleza de Botticelli na observação da Primavera.
Sandro Botticelli, Alegoria da Primavera, detalhe, Galleria degli Uffizi Florença, (c. 1480)


Imagem relacionada


.Flora, detalhe de "A Primavera", também conhecido como Alegoria da Primavera. Criação: 1477–1482




Primavera que Maio viu passar
Num bosque de bailados e segredos,
Embalando no anseio dos teus dedos
Aquela misteriosa maravilha
Que à transparência das paisagens brilha.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia,  Lisboa: Círculo de Poesia Moraes Editores, 1975,
p. 19


16/03/2019

Transparência



Plano

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.


Retirado daqui: https://www.escritas.org/pt/t/1650/plano

 

07/03/2019

Para uma amiga


Para a MR com um desejo de um dia feliz.
Parabéns!

Taça dinastia Qing, 1644, reinado de Qianlong (1736-1796), Palácio da Ajuda, A ROTA MARÍTIMA DA SEDA,Museu da Cidade Proíbida

Não é uma taça para o chá, mas achei-a tão linda que é esta a minha prenda virtual.:))


Natalia Osipova e Edward Watson - Orlando pas de deux, baseado na escrita de Virgínia Woolf, 
Mrs Dalloway

05/03/2019

To see a World in a Grain of Sand


AUGURIES OF INNOCENCE

To see a World in a Grain of Sand,
And a Heaven in a Wild Flower,
Hold Infinity in the palm of your hand,
And Eternity in an hour.


William Blake, Songs of Innocence and of Experience, 1863 (excerto)


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