Para além da curva da estrada No caminho
Para além da curva da estrada Encontramos sempre uma barreira
Talvez haja um poço, e talvez um castelo, vislumbro uma torre contra a utopia,
E talvez apenas a continuação da estrada. Na continuação do caminho.
Não sei nem pergunto. Nele me embrenho.
Enquanto vou na estrada antes da curva enquanto caminho, só olho em frente
Só olho para a estrada antes da curva, para as árvores e o céu,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. Porque não adivinho o que há para lá
De nada me serviria estar olhando para outro lado do caminho e que não vejo.
E para aquilo que não vejo. Procuro não sentir mas sinto,
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. O passado/presente e não o futuro
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. Clepsidra tangível;
Se há alguém para além da curva da estrada, não encontro quem caminhe
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. Para lá da montanha,
Essa é que é a estrada para eles. o caminho para o cume
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. Chegarei lá?
Por ora só sabemos que lá não estamos. Só sei e sinto o peso de estar aqui,
Enquanto vou na estrada antes da curva enquanto caminho, só olho em frente
Só olho para a estrada antes da curva, para as árvores e o céu,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. Porque não adivinho o que há para lá
De nada me serviria estar olhando para outro lado do caminho e que não vejo.
E para aquilo que não vejo. Procuro não sentir mas sinto,
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. O passado/presente e não o futuro
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. Clepsidra tangível;
Se há alguém para além da curva da estrada, não encontro quem caminhe
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. Para lá da montanha,
Essa é que é a estrada para eles. o caminho para o cume
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. Chegarei lá?
Por ora só sabemos que lá não estamos. Só sei e sinto o peso de estar aqui,
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva nesta encruzilhada do caminho onde
Há a estrada sem curva nenhuma. as pedras magoam e o caminho desaparece.
Há a estrada sem curva nenhuma. as pedras magoam e o caminho desaparece.
Alberto Caeiro, s.d. 11-03-17 ana
Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994, p. 129.
Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994, p. 129.
Parece-me uma balada nostálgica, tem ritmo encantatório.
ResponderEliminarBea,
EliminarÉ a ária da ópera de Bizet Les Pêcheurs de perles, "Je crois entendre encore".
Achei interessante a interpretação de Guilmour.
Bom fim-de-semana!:))
EliminarSim, eu achei-lhe um certo ritmo de onda:)
EliminarBom Fim de Semana também para si:)
Bom fim de semana!:))
ResponderEliminarGostei sobremaneira do seu poema de ''oposição''...
ResponderEliminarCom a ária de Bizet, compõe-se ainda um clima de profunda nostalgia...
Precisa encontrar outro caminho...
Beijinhos, Ana.
~~~~~~~~~~
Majo,
EliminarMuito obrigada.:))
Preciso, todos os dias nos cruzamos com caminhos novos. :))
Beijinhos.
Mas nesse outro caminho haverá um poço de água límpida ou turva ?
ResponderEliminarE se for o castelo não haverá um fosso ?
Como diz Alberto Caeiro,
" Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. "
Mas se "as pedras magoam e o caminho desaparece" talvez uma luz ajude a não aleijar esses pés a encontrarem um caminho sem curvas.
Esta ária transmite-me uma sensação de desespero e não de esperança.
Um beijo muito amigo.
Pois é João. :))
EliminarBeijinho grato.:))
Chapeau, ana!!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Pedro,
EliminarObrigada pelo gesto tão gentil.:))
Beijinhos. :))
Uma maravilha!
ResponderEliminarJá não me lembrava deste poema de Caeiro.
Ai, as curvas...
Prossigamos...logo se verá...
beijinho
Graça,
EliminarGosto muito de Caeiro. Pois é...:))
Beijinhos. :))
Excelente trabalho, Ana, este, que resultou de um jogo arriscado com a poesia e a música, pelo menos, mas também uma flor, a flor.
ResponderEliminarDiálogo. Diálogo, assim:
"Procuro não sentir mas sinto"
a nostalgia do regresso
à pátria da esperança. Sinto.
Sinto a "clepsidra intangível"
que me afogar na areia. Porém,
duma estrada feita poderá nascer
uma por fazer.
"Je croi entendre encore".
Bj, amigo.
Dialogo ... afoga.
EliminarTão positivo, Agostinho.
EliminarMil obrigadas. :))
Beijinho. :))
Excelente diálogo, Ana. Uma análise mais atenta nos faz perceber na construção dos poemas, a alma de seu autor/autora. O primeiro em sua objetividade quase insensível, apresentando a realidade do agora, do aqui. Sem sonho, sem buscas, sem dúvidas. E o segundo construindo a busca, a dúvida, a ânsia de uma alma inquieta por respostas que não obtém ao viver a realidade dolorosa. Dois poemas, duas almas, uma só arte. Excelente!
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