Há dias acabei de ler Na Eira dos Pardais, Contos, oferecido pela Cláudia, da Livraria Lumière, a quem deixo o meu agradecimento.
O livro de Maria José Carvalho Areal tem para mim uma característica peculiar: a anteceder o conto surge um poema que tem no seu cerne a matéria da história. Extremamente inovador.
Iniciamos a viagem nos anos 40, seguem-se os anos 50 e terminamos nos anos 60, o país de Salazar com todas as suas idiossincrasias. A narrativa oferece-nos afectos e memórias, percursos de vida, que num ou noutro ponto se cruzam com as nossas vivências. Um livro que faz sorrir apesar de algumas histórias tocarem o drama de algumas das personagens.
Um livro que recomendo felicitando a autora.
A Maria José,
Agradeço a dedicatória que gentilmente escreveu.
"Fora criada e educada a preceito, e em conformidade com as normas preconizadas para a época em que havia nascido. Sabia ler e escrever, bordar, tecer e cozinhar. Não tinha ido para a universidade como os seus seis primos e os seus quatro tios, por ter nascido mulher. A mesma sina tinha acontecido a sua mãe." (in A Eira dos Pardais, p. 12)*
"- As aulas do Mestre deixam-me um sabor amargo. Não há história nem texto onde a mulher possa ter ou tenha tido, um destino diferente: Escuta, obedece, serve, atende... quase não pensa. Tudo é decidido como se ela não fizesse parte do universo. Tudo se resume ao que ele quer, deseja, e considera adequado ao mundo e à vida." (in A Eira dos Pardais, p. 13)*
"Eva deixou a faculdade, a casa, o cais, o rio... e passou o tempo no quarto do hospital, onde Gonçalo permanecia em luta pela vida.
Ali deitado expunha a vulnerabilidade do Homem e a sua impotência em expurgar os medos e receios e mesmo mudar o rumo da vida." (in Eva, p. 109)*
*Maria José Carvalho Areal, Na Eira dos Pardais, Contos. Lisboa: Chiado Editora, 2013.
Quel passagier sono io, escolha influenciada pelo "Rio do tempo" poema e conto
de Maria José Carvalho Areal
Para as duas Senhoras que me proporcionaram a viagem.
Deve ser muito interessante, pelo que vi.
ResponderEliminarA minha Mãe, nascida em 1899 ( quase atravessava três séculos ! ), embora não tenha passado pela Universidade, não viveu, em nenhum aspecto, como a referida na página 12.
Um beijo, ANA.
Registo a sugestão, ana.
ResponderEliminarBeijinhos
Querida Ana, que maravilhosa surpresa!
ResponderEliminarFico feliz que tenha gostado!
Tudo no livro encanta, desde os poemas aos contos.
Verifiquei que realçou e bem, a educação tão característica que era dada às mulheres. Efectivamente, ao longo de todo o livro, é-lhes dado um destaque especial!
Muito obrigada pelas camélias!
São lindas...
Um beijinho amigo.:))
Uma sugestão a registar.
ResponderEliminarObrigada pela dica.
Beijinho.
Como o tempo passa depressa...Os afectos? Vão-se mantendo, reconstituindo? Sem eles, não vivemos...
ResponderEliminarBeijos
Olá!
ResponderEliminarSim, sou eu.
Obrigada pelos comentários e pela abordagem que faz à obra. "Na eira dos Pardais", plissada no tempo da memória.
Dedicado às minhas avós, a quem devo tanto e ao rio (Minho) que tanto mata a fome como mata o Homem, assume um palco previligiado.
O Objectivo desta obra é deixar este legado - herdado e reconstruído -, como mola geradora de vontades na materilização da Memória Colectiva de um Povo. Sem esta identidade e com a morte de cada individuo, vamos deixando a nossa história mais empobrecida.
Janela aberta para as emoções...è e será sempre um desafio para cada obra e autor.
Que a janela se escancare em cada conto tecido.
Grata, enternecidamente grata, às mulheres que vou encontrando no caminho.
Maria José Area
Belíssimo o canto, a música o poema...
ResponderEliminarA voz move-se em ondas sucessivas, embalando a "taínha" que deu o salto no rio, para ver o barco acostar...
No banco do jardim, as flores parecem ter receio de chegar... A minha avó Atília, olhava e via tudo quanto queria... Eu vi a mensagem em ternura feita.
Saboreio este mimo, enternecida.
Obrigada, Ana.
Maria José Areal
Não conheço a obra nem a autora. Vou procurar.
ResponderEliminarQuem merece reconhecimento recebe camélias. Por estes dias tantas serão oferecidas, vermelhas, rosa, brancas. O passado de submissão ficou para sempre ultrapassado.
A todos muito obrigada pela partilha nestes afectos.
ResponderEliminarA Maria José, Obrigada pela visita e pela viagem.
Boa noite!
Gostei muito dos excertos que aqui deixou, pois são bem o retrato de uma sociedade por onde muitos de nós passámos e muitos outros ainda passam, porque ainda os há, locais em que, em pleno séc. XXI, persistem tais princípios que regem a educação feminina.
ResponderEliminarCom a minha mãe não foi diferente, com a agravante de ter pertencido a uma contexto rural com poucos recursos e, como ainda não fosse suficiente, de origem judaica.
A combinação de Jaroussky vai bem com todos os autores barrocos ... e Vivaldi não deixa nunca de ser uma referência, sem o qual me sentiria completamente perdido
Manel
Manuel,
ResponderEliminarContenta-me que tenha gostado. :))
Aprecio muito a voz de Jaroussky e gosto da jovialidade de Vivaldi.
Bom fim-de-semana!:))