25/03/2014

Leituras em dia - III, da Agustina a Kim Young-ha

Ando a ler Agustina Bessa-Luís, O Mosteiro, mas tive que fazer uma pausa pois a densidade da escrita assim mo impôs.  O cansaço talvez seja o motivo maior. 
Numa passagem pela FNAC encontrei um livro que me despertou o interesse, cheguei até ele através da capa que trazia o quadro: A Morte de Marat. O título do livro, um tanto bizarro, levou-me a folheá-lo e acabei por o comprar. Tenho o direito de me destruir de Kim Young-ha começa assim:

«Estou a olhar para o quadro de Jacques-Louis David de 1793, A morte de Marat, reproduzido num livro de pintura. O revolucionário Jean-Paul Marat jaz assassinado na banheira. Tem a cabeça envolta numa toalha, como se de um turbante se tratasse, e a mão, caída ao lado da banheira, segura uma pena. Marat apagou-se, esvaído em sangue, por entre tons brancos e verdes. A obra transmite uma sensação de calma e silêncio. Quase se pode ouvir um requiem. A arma fatal, uma faca, está abandonada no chão, ao fundo da tela.
Já tentei várias vezes fazer uma cópia deste quadro. A parte mais difícil é a expressão de Marat; fica sempre com um ar demasiado sedado. No Marat de David, não se vê o desânimo de um jovem revolucionário perante um ataque inesperado, nem o alívio de um homem que se libertou finalmente das dores da vida. (...)
David compreendeu o imperativo estético dos jacobinos: uma revolução não pode avançar sem ser incendiada pelo terror.»
Kim Young-ha, Tenho o direito de me destruir. Lisboa: Teorema, 2013, p. 7 e 8.

Jacques-Louis David, A morte de Marat, 1793, Musées Royaux des Beaux-Arts
( Wikipedia)
Ficheiro:Death of Marat by David.jpg



A Morte de Marat (detalhe), óleo sobre tela por Jacques Louis David (1748-1825, France)
(Imagens retiradas da Wikipedia)

Kim Young-ha nasceu em 1968 em Hwacheon, na Coreia do Sul. Licenciou-se em gestão na Universidade de Yonsei, Seul, mas acabou por se dedicar à escrita. (...) Foi professor na Escola de Teatro da Universidade Nacional das Artes da Coreia. (...) Actualmente, é cronista do International New York Times. O livro assinalado venceu o Prémio Munhak-dogne na Coreia do Sul. (*Informações retiradas do livro).
Críticas nos principais jornais:
Kim é um esteta do crime. Com um cinismo irresistível, oferece-nos um romance ímpar sobre a arte, o amor e a morte.[*]
Le Monde

O romance de Kim é arte sobre arte. O seu estilo tem reminiscências de Kafka, Camus e Sartre, território arriscado para um jovem escritor. [*]
Los Angeles Times

Com este romance, Kim ganhou um lugar de culto nas letras coreanas. [*]
Der Spiegel

14 comentários:

  1. Os livros que tu descobres, Ana !
    E depois nas tuas postagens parecem coisa leve...
    Curioso, sem dúvida.

    Um beijo.

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  2. A maneira como o autor começa o livro, de duas, uma - ou nos prende de imediato, ou nos afasta de imediato.
    É muito raro o meio termo.
    Beijinhos

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  3. Fiquei com curiosidade sobre este livro de Kim.
    Tenho lido tão pouco! Quem diria...
    Magistral, como ligou tudo!

    Um beijinho.:))

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  4. Não sei se gostaria do livro, mas gosto muito desse quadro de David. Bom dia!

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  5. João,
    Foi a capa e o título que me levaram até ele e é uma descrição perfeita da vida contemporânea: vazia, por vezes...
    Beijinho. :))

    Pedro,
    Nunca li escritores coreanos, é o primeiro e estou a gostar...
    Beijinho. :))

    Obrigada Cláudia,
    São os seus olhos queridos que vêem assim. :))
    Beijinho.

    Margarida,
    O quadro é lindo e foi ele que me levou ao livro.
    Beijinho.

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  6. Cláudia,
    Lembra-se que o "Mosteiro" veio da sua Lumière? Só agora é que o ando a ler vai a meio. :))

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  7. É um belo quadro! Percebo que deixes a Agustina por uns dias, depois vais outra vez...
    Não conhecia este Kim!
    Um beijo

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  8. Ana,
    boas escolhas e primoroso alinhamento. Tudo apresentado com delicadeza.

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  9. Maria João,
    O livro não é fácil mas a arte que aparece num ou noutro capítulo suavizam. É uma escrita contemporânea onde sobressai uma sociedade onde o vazio surge por falta de valores. Viver é sobreviver.
    Beijinho.:))

    Agostinho,
    Obrigada pelo seu gentil comentário.
    Boa noite!:))

    Mar Arável,
    Pois é. :))
    Beijinho.

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  10. Impressionante, este título !
    Como impressionante o quadro que não conhecia.
    E o início do livro, onde até a palavra "Requiem" citada por Kim, encontra eco no fim do post...
    Cada postagem, cada bela e consistente construção.
    Lê-se e aprende-se com gosto.
    Obrigada, Ana.
    Um beijinho

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  11. Obrigada, Manuela!
    Gostei muito da sua porta e do poema.
    Um beijinho. :))

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  12. Viver não pode ser sobreviver! Mas é, sometimes é...
    Beijo

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