29/01/2013

Portugueses a falar sobre portugueses. Um desafio?

Os portugueses andam tristes e insatisfeitos com a crise e as políticas traçadas pelos nossos governantes.
A Sandra, do blog Presépio com Vista para o Canal, acerca da imutável tristeza do povo português - já confirmada num pensamento do historiador A.H.Oliveira Marques sobre os portugueses de quinhentos -  escreveu:


A insatisfação desceu à rua. Lisboa, 2013

«Não sei se concordo que somos um povo triste; direi antes, que estamos muito tristes e desalentados devido as dificuldades económicas do momento e as preocupações associadas. Quando cheguei aos Países Baixos, e nos primeiros anos, senti falta dos barulhos das conversas nos nossos cafés/restaurantes, dos risos nas esplanadas, do toque mais solto dos portugueses. Mas eu saí de Portugal em 2007, altura que os meus amigos e conhecidos não acreditavam quando lhes dizia que Portugal estava a mergulhar numa crise económica profunda que vinha para ficar um tempo considerável. Lembro-me de dizer ao meu marido: "Ou saímos agora, ou já será muito difícil". Este ano, quando aí fui, encontrei um ambiente muito carregado e deprimido e já não o ambiente solto que me recordava. Mas concordo que temos mais propensão para pensarmos que somos piores que os outros, que a nossa situação é sempre pior que a do vizinho, que o que é de fora é sempre melhor - visão na qual não me incluo, pois temos um património (seja arquitectónico, musical, natural,...) e cultura invejáveis. Irrita-me também quando oiço o discurso que somos um país pequeno e periférico e por isso, somos pobres e coitadinhos e uns desgraçados e mais não sei o que. Até onde sei, a Bélgica, os Países Baixos, o Luxemburgo, o Lienchtestein são países mais pequenos que Portugal e... mais ricos. Nós temos muitos e variados recursos, cuidamos mal, isso sim(veja-se o caso das florestas, por exemplo, e os incêndios que ocorrem todos os anos). E não somos periféricos; estamos sim, no centro do mundo, entre a Europa, a África e a América - saibamos pois, tirar partido desta localização geográfica formidável. O comentário já vai longo, mas vou contar-te uma pequena história que se passou aqui, comigo, logo no início. Estava numa consulta de ginecologia, com uma médica holandesa, já perto dos sessenta anos, que me perguntou com ar irónico e a gozar se Portugal já pertencia a Europa. Não gostei do tom, nem da pergunta. Respondi que sim, há muito tempo, que éramos a nação mais antiga da Europa e aquela com fronteiras definidas há mais tempo, que tínhamos feito a primeira globalização, que démos novos mundos ao mundo e que estávamos na UE desde meados dos anos 80. E na sequencia de outros comentários menos abonatórios e injustos a Portugal, acrescentei que temos cientistas brilhantes, escritores e músicos de renome mundial e que recebemos prémios internacionais com muita frequência, incluíndo nas áreas da Saúde e da Biologia. Bom, isto para dizer, que, apesar dos pesares, não temos de baixar a cabeça a ninguém e não valemos menos que ninguém. Tomara muitos países, incluíndo este onde vivo, terem as taxas de sucesso que temos em determinadas áreas. Agora se me perguntares o que faz, na minha opiniao, atrasar Portugal, direi: a impunidade face a corrupção, o xico-espertismo, o compadrio, a má gestão de dinheiros públicos e o consequente desperdício (anos e anos nisto...), o facto de, a troco de uns dinheiros, termos deixado cair a agricultura, a pesca e a indústria e o termos deixado, ao longo de muitos anos, de valorizar o que é nosso e bom (...). »

A Sandra vive na Holanda.

A todos os meus amigos e visitantes deste blog lanço o desafio de escreverem algo sobre este tema, uma frase, um poema, uma música, uma foto, uma tela, algo que personifique a inalterável (ou alterável) tristeza de "ser português". O vosso contributo e partilha  ficará registado com o meu agradecimento.


33 comentários:

  1. Sandra,
    Admiro a tua coragem.
    Gostei muito deste comentário que me trouxe a ideia de partilhar o que pensamos sobre nós portugueses.
    Obrigada.
    Beijinho! :)

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  2. A Sandra disse quase tudo, pouco mais há a acrescentar. O interessante seria é tirar conclusões sobre o que a Sandra disse...

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  3. É preciso coragem para sair do país, não nego-longe da família, dos amigos de sempre, construíndo tudo de novo,...-, mas, emigrar também ajuda a perspectivar, abre horizontes, e podemos sempre contribuir para o país(com remessas, fazendo boa publicidade, divulgando a Marca Portugal, ganhando novas competencias, etc).

    E já agora, participando neste teu desafio:

    Encontrei esta notícia positiva sobre Portugal relativa a um artigo do Financial Times. Fiquei feliz.

    http://greensavers.sapo.pt/2013/01/28/calcada-portuguesa-considerada-uma-das-oito-mais-belas-atraccoes-mundiais-de-cidades/

    Relativamente a manifestação de professores, procurei os videos dos jornais televisivos, mas achei-os muito vagos. Segundo entendi, há uma proposta em cima da mesa para alargar o horário dos professores e aumentar o número de alunos por turma, é isso?

    Bjs!



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  4. A minha posição, Ana :

    A tristeza só me invade quando um ente querido parte para a sua última viagem .
    Sou, ou procuro ser, um optimista e, como tal, sempre de bem com a vida e a imaginar, em cada noite, que vivi mais um dia e que outro me esperará para fazeruma nova coisa, outra acção.
    Claro que não ignoro as dificuldades que a Nação atravessa e atravessará ainda por um longo período.
    O tempo das ilusões das vacas gordas nunca encontrou raízes em mim.
    Preocupa-me, E MUITO, é verificar a ausência de verdadeiros homens de Estado !
    Promessas eleitoralistas que sabem ( ou deviam saber ! ) não poder cumprir e manifestações da oposição que não trazem concretizaveis soluções.
    Só populismos, de uma forma ou de outra, enfim...

    Um beijo ( e promessa cumprida, Ana ).

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  5. Não deveria estar aqui e nem nesse post. Não nasci em Portugal, mas como não ponho fronteiras em meu coração e nem na minha alma, aqui estou.

    Em 1989, estudande ainda e no auge dos meus 24 anos, desembarquei em Lisboa, num dia de maio ... cinza, chuvoso e triste. Era domingo e a primeira imagem que ví realmente foram as senhoras viúvas de preto.

    Meu coração se fechou e por dois dias, fui triste. Guardei essa imagem e essa lembrança comigo e segui viajem. Foram algumas viajens a mais, ao longo da vida, rápidas,breves, prematuras ...sem que minha vista se clareasse.

    Já há uns anos, uma pequena diferença na vista, uma diferença de alma, de sonho e de esperança, encontrei no alecrim a beira mar e nas floradas dos jardins um outro Portugal. Um senhor bonito, com braços largos e memória vívida, sóbrio e inovador. Encontrei os versos de hoje gravados com a mesma solenidade de antes.

    Encontrei a mente das pessoas vívidas e questionadoras, gente que sai as ruas, que pensa e que sonha.
    Ví Portugal de longe e de perto, minha família está aí, nós estamos aqui.

    Não há como não amar Portugal e brigar com ele e por ele e para ele.
    Ele, Portugal, é assim, chega de mansinho, atrás do alecrim e perfuma pra sempre nossas lembranças e nossas esperanças.

    amaro ilô
    Trago Portugal dentro de mim, dentro do meu coração. Portugal tem seu próprio tempo.
    bjs meus.

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  6. ana,
    Eu sou um português....estranho.
    Porque, tal como o Henrique Senna-Fernandes, sinto que tenho uma Pátria (Portugal) e uma "Mátria" (Macau).
    E gosto muito de ambas.
    Há saudade da Pátria?
    Há, algumas vezes, há.
    Da família que aí está, dos amigos, do sol, de alguns locais.
    Quando assim é, é tempo de tentar agendar uma visita.
    Mas nunca me senti triste, uma vítima por ter saído do meu país.
    Pelo contrário, vim aqui encontrar uma estabilidade e uma felicidade que nunca tinha tido.
    Beijinho

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  7. Obrigada a todos, depois responderei a cada um porque tudo o que disseram é pertinente.
    Venho só dizer às Amigas Vurdóns que têm sempre lugar na discussão. Aliás, pensei depois estender a todos que não são portugueses mas que contactam com o nosso país ou a nossa língua. São sempre bem-vindos os comentários e melhor do que nós portugueses são a forma como os outros povos nos vêem, neste caso um povo que muito tem a ver connosco, com a nossa cultura e a nossa língua.
    Beijinhos.

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  8. Respondendo ao desafio, só consigo fazê-lo da seguinte forma, enumerando os vários lados da questão:
    1) Quando estudei a pintura de Columbano e a confrontei com a pintura de outros países, bem como com a restante arte / literatura / música, a única conclusão que tirei é: somos um povo triste, há uma melancolia, um peso, uma tristeza, que passa mais ou menos visivelmente em tudo o que fazemos. Muitas vezes fugimos à tristeza através do sarcasmo / caricatura.
    2) Eu sou pouco ideal para responder a esta questão porque a situação portuguesa deixa-me cada vez mais preocupada. Não me considero pessimista (porque ainda tenho uns restos de esperança em dias melhores. Mas preocupo-me sobretudo com o futuro das crianças portuguesas. As políticas que se fazem neste país e a corrupção não ajudam nada. As crianças passam cada vez mais tempo na escola, os pais passam cada vez mais tempo no trabalho, os fins-de-semana passam a correr, entre trabalhos de casa, arrumar a casa (nem que seja apenas o mínimo indispensável).
    3) Nunca me senti verdadeiramente portuguesa. Não sei se deva partilhar isto, mas não aprecio o fado (com excepção de alguns 3 ou 4 fados); detesto ver pessoas a cuspir no chão ou a deitar lixo nas ruas; odeio ver casas em ruínas e sujas; admiro-me como Lisboa ainda é eleita um bom destino de turismo quando há cada vez mais mendigos e sem-abrigo a dormir nas ruas. As viagens que fiz à Áustria e à Alemanha, bem como ao centro dos Estados Unidos (Nebraska), só vieram confirmar a minha preferência em estar em locais mais regrados e mais limpos. Fico perfeitamente enervada com os nossos transportes públicos sempre atrasados, apinhados de gente, com pessoas a falar aos berros no telemóvel, etc.
    4)Por fim, noto uma grande diferença entre os portugueses de Lisboa e os portugueses do resto do país. Nasci em Lisboa, mas a minha avó era alentejana e vivi durante oito anos em Torres Vedras. É um contraste impressionante: as pessoas de Lisboa são mais cinzentas, mais nervosas. Fora da Lisboa há um país diferente: mais descontraído, mais alegre, mais solidário. A corrupção e a tendência para o "desenrasca" também existem, mas sente-se uma outra leveza.
    5) Conclusão: talvez sejamos um povo triste, mas em Lisboa somos mais tristes e na presente conjuntura estamos ainda mais tristes. Eu ainda estou com esperança de ver alguma luz ao fundo do túnel.

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  9. Acrescento ainda algumas coisas que não gosto em Portugal: as matanças dos porcos, as touradas, a mania que somos menos racistas que os outros povos europeus (o que não é verdade e ainda há muito racismo), a mania das aparências que faz com que uma pessoa tenha de estar sempre bem vestida e tenha vergonha de assumir que está sem dinheiro, a mania do lucro fácil e de achar que as leis podem / devem ser contornadas, a mania das grandezas, a mania do desenrasca e da mão-de-obra barata, a mania de "faz o que eu digo não faças o que eu faço", o parar o carro para ver os acidentes ("mirones"), a mania do futebol como escape, por aí em diante. Por fim, sempre gostei do costume anglo-saxónico de deitar cedo e cedo erguer, acho que se devia fazer como na Suécia e acabar com os cursos que não têm saída profissional. Enfim, peço desculpa pelos desabafos, mas acho sinceramente que sendo um povo triste ou não, devíamos era ter mais juízo e os pés no chão, ser mais solidários e respeitar-nos todos mutuamente. Só assim creio que o país pode melhorar.

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  10. Somos um povo a sofrer séculos de espoliação, de mau governo, de incultura. E, por desgraça, à espera de um Sebastião no meio do nevoeiro.

    Com este governo ultraliberal, inimigo da Cultura, adorador do cifrão, de um governo que quer destruir o Estado Social, receio pelo futuro que será de nevoeiro ainda mais espesso e sem nenhum Sebastião (no que diz respeito a esse inconsciente rei: ainda bem que não regressou: era um mentecapto!)

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  11. Tens razão, Margarida. A crise deve, pelo menos, fazer-nos pensar sobre o que podemos mudar para melhor, e há, de facto, muito trabalho a fazer.
    Concordo em absoluto com os aspectos que referiste.
    Falando da mania das aparencias e das grandezas... Essa é uma das razoes que me faz sentir melhor aqui. Pegando nas palavras do Pedro Coimbra, sinto que a Holanda é (nesse e noutros aspectos) a minha Mátria. Sinto uma enorme liberdade para ser quem sou e viver de acordo com as minhas possibilidades (aliás, sempre o fiz)
    Quando vivia aí, era hábito as pessoas almoçarem fora todos os dias. Mas nós sempre levámos comida de casa para o trabalho(já desde 2003), só que, na época, isso era considerado coisa de pobres. Eu achava que era de gente ajuízada porque, tal como o João Menéres, não fui na cantiga das ilusões das vacas gordas e como estava no início da minha vida conjugal, achava que tinha de ser cuidadosa com as despesas. Na Holanda o mais comum é levar marmita para o trabalho.
    Cá também não é comum ter empregada doméstica ou contratar serviços (pintores e assim). Aí, olhavam-me de lado quando dizia que não tinha empregada e que tinha andado a pintar a casa.
    Também recebi comentários pouco agradáveis porque arrendei casa em vez de comprar e não fiz boda de casamento (não havia dinheiro para isso e não queríamos pedir emprestado ao banco).
    Os casamentos holandeses são mais comedidos. Geralmente, convida-se toda a gente (familiares, amigos, colegas de trabalho) para a cerimónia, mas ao copo d'água vai um grupo bem mais pequeno (familiares e amigos mais próximos) de modo a reduzir as despesas com a festa.
    Os aniversários dos miúdos também são singelos (chá, café, sumos, bolo de aniversário, as vezes, panquecas e pronto). O importante é estarmos juntos, rir um bocadinho, passar um bom momento.
    Gosto muito desta simplicidade e identifico-me muito com esta forma de estar. Aliás, a ostentação é algo mal visto por aqui.
    Quanto a questão dos mendigos e dos prédios a cair, fazem-me doer a alma.
    Também concordo com o que dizes em relaçao ao ambiente fora de Lisboa, mais alegre e solidário (agora, lembrei-me de histórias deliciosas que me aconteceram, quer no Norte, quer no Alentejo).
    :-)
    Concordo contigo também na queatão dos transportes e tenho muita pena que não se invista mais nos caminhos-de-ferro, incluíndo também a nível turístico, promovendo as linhas históricas, como a do Tua, por exemplo.

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  12. É verdade Sandra. Vemos o património a ruir, os caminhos-de-ferro ou abandonados ou perigosos, e, em contrapartida, cada vez mais auto-estradas e prédios novos -vazios porque não há dinheiro para os ocupar (além de que na sua maioria são mais feios do que as casas antigas que estão a ruir). Quanto à "marmita" cá já se começa a ver mais, mas ainda assim não é comum. No sítio onde eu trabalho toda a gente me começou a olhar de lado quando passei a comer sanduíches trazidas de casa, por ser mais rápido e barato. Por estas e por outras, a vida aqui é pouco animadora.

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  13. Não ligues a isso. Rege-te sempre pela tua cabeça. Se eu tivesse ido na onda, estava cheia de dívidas quando vim para cá. E há sandes tão saborosas e saudáveis. ;-))
    Não apostar no caminho-de-ferro é que me parece uma grande asneira. Cá já abriram outra linha. Tenho de fazer um post sobre isso. Nós mal usamos o carro. Deixa lá vir o Março, que vamos tentar vende-lo... E o que eu gosto dos programas combinados entre os comboios, os museus e os restaurantes. Um dia que cá venhas, posso dar-te alguns coupons para fazeres esses programas. Os descontos são bem simpáticos e as opcões bem interessantes. ;-) Estou muito curiosa para ver os programas associados a nova linha...

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  14. A Tristeza dos Portugueses

    A propósito do tema não resisto a trazer este texto de Miguel Esteves Cardoso:

    «Porque é que os portugueses são tristes? Porque estão perto da verdade. Quem tiver lido alguns livros, deixados por pessoas inteligentes desde o princípio da escrita, sabe que a vida é sempre triste. O homem vive muito sujeito. Está sujeito ao seu tempo, à sua condição e ao seu meio de uma maneira tal que quase nada fica para ele poder fazer como quer. Para se afirmar, como agora se diz, tão mal.
    Sobre nós mandam tanto a saúde e o dinheiro que temos, o sítio onde nascemos, o sangue que herdámos, os hábitos que aprendemos, a raça, a idade que temos, o feitio, a disposição, a cara e o corpo com que nascemos, as verdades que achamos; mandam tanto em nós estas coisas que nos dão que ficamos com pouco mais do que a vontade. A vontade e um coração acordado e estúpido, que pede como se tudo pudéssemos. Um coração cego e estúpido, que não vê que não podemos quase nada.
    Aí está a razão da nossa tristeza permanente. Cada homem tem o corpo de um homem e o coração de um deus. E na diferença entre aquilo que sentimos e aquilo que acontece, entre o que pede o coração e não pode a vida, que muito cedo encontramos o hábito da tristeza. Habituamo-nos a amar sem nos sentirmos amados e a esse sentimento, cortado por surpresas curtas, passamos a chamar amor. E com verdade. No mundo das ausências, onde a tristeza vem de sabermos muito bem o que nos falta, a nós e àqueles que nos rodeiam, a bondade, que nos torna vulneráveis aos sofrimentos daqueles que nos acompanham e nos faz sofrer duas vezes mais do que se estivéssemos sozinhos, é o preço que pagamos por não sermos amargos. É graças à bondade que estamos tristes acompanhados. Há uma última doçura em sermos tristes num mundo triste. Igual a nós.»


    Miguel Esteves Cardoso, in “As Minhas Aventuras na República Portuguesa”

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  15. Rogério,
    Obrigada. Realmente a Sandra disse tudo e é necessário olhar com olhos de ver para o seu pensamento. Realçar o que há de positivo, suplantar as nossas dificuldades com sobriedade e olhar em frente será o mote desta postagem. :)
    Abraço.

    Sandra,
    Viste o que fez o teu maravilhoso comentário? :)
    As notícias foram vagas e deram pouco relevo porque a educação é coisa que não interessa. O problema é o nº de alunos por turma, o aumento da carga horária... entre outras coisas mas principalmente a falta de visão sobre uma matéria tão fundamental a educação e o caminho para atingir conhecimentos, porque a sabedoria só é para alguns (ui vai tudo cair em cima).
    Obrigada pelo site vou ler com muito gosto.
    Beijinho. :))

    João,
    Fala um ancião com todas as prerrogativas que lhe estão ligadas.
    Obrigada pela resposta ao desafio e congratulo-me que seja uma pessoa alegre e dinâmica.
    Beijinho. :)

    Amigas Vurdóns,
    Gostei muito do vosso registo que dá que pensar e é de uma beleza enorme.
    Agradeço e vai tornar-se relevante.
    9 beijinhos. :)))))))))

    Margarida,
    foi com prazer que li a sua resposta ao desafio. Encontrei a beleza do pensamento aliado à realidade crua que vigora no nosso país.
    No meu local de trabalho também se leva marmita, ou mais vulgarmente as sandes. Não sei se somos olhados de lado... mas pouco importa, o que verdadeiramente julgamos é que devemos tirar o melhor partido das dificuldades e gastarmos com o que é verdadeiramente importante. Concordo com tudo o que afirmou. Em relação ao património histórico e cultural não podia estar mais de acordo. Deixa-se morrer o que a memória construiu porque não é imediato o fruto desse trabalho.
    lamentavelmente a cultura e a educação são incómodas.
    Estou de acordo com o que diz sobre ostentação e opulência e valores que em nada contribuem para o nosso crescimento como país de ponta.
    Obrigada, Margarida pelo contributo. :)
    Beijinhos. :))

    Lídia,
    Muito obrigada pelo texto de Miguel Esteves Cardoso e pelo valor que ele acrescenta a esta ideia de tristeza do intrínseco ser português.
    Beijinho. :)

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  16. Pedro,
    Sem querer não respondi mas os últimos são sempre os primeiros. :)Gostei do que disse e também eu me sinto um pouco estranha de estrangeira, como a Margarida.
    Tem Pária e Mátria e neste caso é duplamente feliz!
    Fico contente porque os portugueses espalhados pelo mundo são alegres e tiram partido do que se lhes oferece.
    Sócrates dizia:
    "Não sou nem ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo."
    Fez-me sentir que a sua felicidade e alegria parte daqui. A minha nostalgia é não ser cidadã do mundo...
    Beijinho e obrigada. :))

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  17. Este comentário foi removido pelo autor.

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  18. Manuel,
    Sublinho o que disse ao Pedro os últimos são sempre os primeiros.

    O sebastianismo é a nossa saudade, a nossa esperança, a nossa utopia. Não vou avaliar D. Sebastião nem os seus ideais, não importa o que ele foi ou era, importa que a esperança nasce de algo que é o espesso nevoeiro.
    Tal como o Pedro, a Margarida, a Sandra e o João sou otimista. Quero que no fundo do túnel apareça uma luz, quero alguma esperança mesmo que morra a alegria e a tristeza me assalte. E assalta muitas vezes.
    Quero pensar que a desumanidade imposta por estes governantes a seu tempo será substituída e que a democracia vença as vicissitudes que tem encontrado neste Portugal demo_crático: sem rumo.
    Agradeço a sua participação. Beijinhos. :))

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  19. Nem todos os portugueses são tristes

    alguns têm acesso aos bens mais elementares e a outros por excesso
    não têm filhos com estômagos vazios
    nem contam pelos dedos os dias do mês.
    O que mais me interroga é o facto
    dos marginalizados de quase tudo
    apostarem nas urnas contra a sua própria condição.

    O carnaval não nos alegra

    Para si Ana
    bjs tantos

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  20. Acho Portugal um país fantástico. Mas nada disto está aproveitado. O mal está na maneira como têm governado, ou melhor, desgovernado o país.
    Não sou ambiciosa e contento-me com pouco. Também não sou de luxos. Mas por vezes apetece-me fazer as malas e partir, pois vejo o futuro bastante incerto e negro.
    Contudo, sou uma pessoa de bem com a vida, bem disposta e até há bem pouco tempo, era também optimista. Não que agora seja pessimista, mas sim realista. Pois as medidas de austeridade que têm sido tomadas, retiram o optimismo a qualquer um.
    Adoro a profissão que tenho e não me imagino a fazer outra coisa, apesar do trabalho não me assustar. Mas sinto que me estão a amputar.
    Nunca fui de comodidades; gosto de desafios, de evoluir e crescer enquanto pessoa. Mas actualmente, sinto que trabalho, trabalho, trabalho, apenas para pagar contas e mesmo assim, os governantes dizem: é preciso mais e mais e mais!!
    Quanto ao povo, é muito heterogéneo.
    De uma maneira em geral, tenho-o como simpático e não acho que seja triste. Talvez mais reservado e introspectivo.
    Subscrevo na íntegra as palavras na Margarida Elias.
    Nunca fui subsídio-dependente, nunca gostei de facilitismos, sempre gostei de conquistar as coisas.
    O povo português, é a meu ver, um povo vaidoso, que gosta de viver acima das suas possibilidades, que gosta de se exibir aos outros, de mostrar que tem um carro ou um telemóvel da marca XPTO, mas na maioria das vezes sem poder. Vive de aparências.

    Boa noite!:))

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  21. E, é de capital importância, que não se esqueçam os valores, a educação, o respeito pelo outro!
    Que a meu ver, andam muito negligenciados...

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  22. Olá Ana
    ontem fiquei muito curiosa quanto ao desafio e ainda aqui espreitei antes de fechar o computador, mas já era muito tarde e não tive energia para responder.
    Estive a ler assim mais ou menos por alto os comentários e concordo com muitas coisas.
    Não tenho termo de comparação porque nunca vivi fora daqui e nunca me senti seduzida pela pespectiva de fazer a minha vida noutro país. Gosto de Portugal, muito. É o meu país e acho que tem defeitos e qualidades como todos os outros. E cada um de nós faz um pouco do que ele é.
    Eu acho que no dia-a-dia as pessoas são disfarçadamente egoístas, invejosas e gostam de criticar o "vizinho" talvez para se sentirem um pouco superiores. Mas quando chamados a grandes causas, são profundamente solidárias e generosas.

    A tristeza das viúvas de negro acho que já vai ficando para trás no tempo. E hoje no fundo somos muito iguais em muita coisa a tantos países em crise.

    Quanto a mim, gosto de ser portuguesa. Gosto de fado, ADORO fado, sou um bocado fatalista na forma de encarar a vida, no sentido que "o que me está destinado para mim será", mas no entanto sou uma pessoa alegre, divertida quando estou em família e sou uma optimista que procura sempre, sempre ver o lado bom de todas as situações.

    E sabes uma coisa, Ana, à medida que escrevo apercebo-me que me identifico muito com o "sentir" português.
    Somos um povo genuinamente bom, se nos deixarem viver e não nos tirarem a nossa dignidade.

    Estes políticos que nos têm governado nos últimos anos, não são portugueses, são apenas burocratas europeus.A maior parte deles não ama o país. Ama o poder e o dinheiro.

    Um beijinho

    (Acho que nunca escrevi um comentário tão longo)

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  23. Ana,

    Só para acrescentar que a minha posição quanto à provável tristeza intrínseca dos portugueses se aproxima mais do ponto de vista da Cláudia : "De uma maneira em geral, tenho-o como simpático e não acho que seja triste. Talvez mais reservado e introspectivo."
    Lembro que além do Fado, temos o Vira, o Corridinho, o Fandango, o Malhão, as Festas Populares e sabemos receber muito bem, com alegria, sabendo repartir o que temos. ;-)
    De vez em quando, encontro holandeses que me falam com muita simpatia de Portugal. "Tenho o seu país no meu coração.", dizem-me muito emocionados, contando-me como foram bem tratados. Nota para o João: tenho recebido um feed-back muito positivo, sobretudo em relação ao Minho. Ele é a broa de milho, ele é o vinho Alvarinho, a simpatia das pessoas como família, etc...
    Um outro apontamento: Sabes que reconheço os portugueses pelo riso? Ás vezes, quando estava no intervalo das aulas de Holandes, ouvia alguém a rir ou notava um olhar mais luminoso e pensava:"Ëste é portugues. Vou perguntar". E não é que era mesmo? ;-)
    Não te sei explicar melhor, mas que nos identificamos, identificamos.
    Um grande beijinho a todos, com votos de muita coragem para enfrentar a conjuntura difícil que o país atravessa. Os problemas estruturais de Portugal são complicados, a conjuntura económica europeia também não está favorável (aqui também se tem feito sentir), mas os Portugueses são criativos, inventivos e solidários e nisso reside a sua força. Bem haja a todos e um beijinho especial a marota da Ana, que me fez esta partida com o meu comentário, logo eu que sou tímida. ;-))

    Desculpem a falta de acentos, mas o teclado não é portugues.




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  24. Ana,
    Já aqui estive por duas ou três vezes. Fui lendo os diversos comentários, todos com razão de ser, todos com grande pertinência. E pensei que pouco ou nada teria a acrescentar. Mas o tema diz-me tanto que, quase por impulso, as teclas começaram a reagir ao toque dos dedos.
    Somos um povo antiquíssimo, habituado a sofrer, que já passou por muitas agruras. O poder, ao longo dos tempos, nunca foi simpático para a multidão dos "ventres ao sol", estas coisas marcam para sempre. É por isso que, como povo, somos desconfiados, acreditamos pouco em novos projectos, séculos de dificuldades ensinaram-nos que o fundamental é garantir o pãozinho, nem que para isso tenhamos que estar de bem com Deus e com o Diabo. Além disso temos sol, muito sol.
    O 25 de Abril, no meu entender, foi a grande (única?) oportunidade que este povo teve, mas que desperdiçou ingloriamente. Talvez não estivesse preparado para tanto - séculos de clausura e penúria deixam marcas difíceis de apagar – e o aparente desafogo deu asas à vaidade, ao desperdício, à perda de valores. E uma sociedade, desejada por alguns como participativa e construtora do seu futuro, foi mera ficção, dando azo ao aparecimento de burlões e vendilhões do templo.
    E agora? Será que, na dificuldade extrema, é que nos iremos descobrir? Ou, como o fizemos sempre, conformamo-nos com o destino, "o que vier logo se verá"? ?
    Pata terminar, deixo-a com um texto recente.

    Ecoa, tempo, ecoa...
    Não olhes para o lado, não olvides o rumor dos homens. São seres imperfeitos, é certo, amantes do seu umbigo, sempre de olho no quintal dos outros. Falam alto nos dias de sol, tagarelam, dançam, mas à noite, vasto terreno de mitos e medos, gritam, estrebucham, confrontam-se com a sua nudez. Lá bem no fundo sabem que de pouco precisam, mas é um pouco que exige muito: que entendam, que questionem, que se envolvam, que se superem, que saibam dar. Só assim poderão abranger o aroma das flores, respirar madrugadas e entardeceres tranquilos.
    A manhã, contudo, afasta os pruridos da noite, e o plástico das flores é cada vez mais perfeito.
    Ecoa, tempo, faz ouvir a tua melodia. Talvez, impelidos pelas memórias, os homens se dispam de vestes alheias e ousem enfrentar o seu destino.

    Parabéns pela iniciativa, Ana!

    Beijo :)

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  25. Meu amor

    nesta ilha rodeada de sonhos

    se tivéssemos um barco

    seria inútil

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  26. Tenho estado a ler alguns comentários. Vou escrever o meu quando terminar o que de momento tem que ser feito e que se relaciona com a cozinha! : ) Muito atraente!
    Não irei acrescentar nada de novo, mas apenas o que penso!
    Até já.

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  27. Embora seja já tarde na noite ( e hoje tive um dia muito variado e feliz, mas que me deixou fatigado, não quer deixar de dizer quanto apreciei o COMENTÁRIO do AC !
    E também quero dizer que, apesar da minha provecta idade, embora satisfatoriamente saudável, não espero que o vizinho se encarregue de fazer levantar o NEVOEIRO.
    Eu, apesar da energia já não ser a mesma, luto à minha maneira, para que o SOL o dissipe.

    Um beijo, ANA !

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  28. Por natureza o povo português é um povo melancólico, saudosista. Prefere dizer que “anda assim assim” quando talvez se sinta “bem”, não vá o diabo tecê-las!

    É hospitaleiro, simpático e gosta de focar o que há de mau em vez de mencionar de vez em quando o que de bom existe no país. Através dos blogues conheço os políticos que (des)governam (o verbo mais usado na blogosfera política) mas não conheço os que desempenham a sua função com integridade.

    Há quem considere a emigração como uma falta de patriotismo, falta de amor pela pátria. É um ato de coragem sair do seu país e procurar “melhor vida” nos países da oportunidade. Há quem considere uma falta de patriotismo por parte dos pais porque os seus filhos não são fluentes ou têm um conhecimento limitado da língua portuguesa... mas isso já é outra estória.

    Portugal teria todos os ingredientes para ser um país bem sucedido, é um facto. Lamentavelmente, seguiu o caminho do fausto, da vida fácil, dos grandes empréstimos...

    E agora nem há verbas para manter essa linda calçada portuguesa...

    Não entendo como os “estrangeiros” conseguem (ou conseguiam) encontrar trabalho quando havia/há tantos portugueses desempregados...

    Boa noite.

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  29. Junto-me ao João quanto as palavras de AC. Este trecho vou guardar comigo: "Lá bem no fundo sabem que de pouco precisam, mas é um pouco que exige muito: que entendam, que questionem, que se envolvam, que se superem, que saibam dar. Só assim poderão abranger o aroma das flores, respirar madrugadas e entardeceres tranquilos." É isto mesmo!
    Joao, também gostei muito quando afirmou: "Eu, apesar da energia já não ser a mesma, luto à minha maneira, para que o SOL o dissipe."
    É por aí, é por aí,...;-)

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  30. Puma,
    o que disse é tão pesado e disse-o de uma forma tão simples.
    Obrigada. :)
    Abraço.

    Cláudia,
    Reconheço nas suas palavras a vontade de partir.
    Desgasta ver e sentir na pele o que nos é exigido sem esperanças e retribuições.
    Obrigada. Tudo o que afirma é da minha concordância.
    Beijinho. :)

    Isabel,
    Adoro fado e concordo que o tempo das viúvas já passou e que com a globalização somos todos parecidos.
    Concordo que somos um povo acolhedor apesar dos defeitos que apontaste e que acabam por ser escamoteados se a nossa dignidade for respeitada.
    Beijinho e obrigada. :)

    AC,
    muito obrigada pelo seu texto e pelo seu contributo que assenta com perfeição na pele do português. Concordo inteiramente com tudo o que aborda. O seu texto é belíssimo. O que refere sobre o 25 de Abril é absolutamente verdade.
    Vejo que nós portugueses nos conhecemos bem e somos uns ótimos críticos de nós próprios.
    Beijinho. :)

    Mar Arável,
    o barco vai ter que chegar a algm lado tenho esperança.
    Muito obrigada.
    Beijinho. :)

    Catarina,
    Julgo que hoje em dia se vê com pesar a saída dos jovens emigrantes. O país está a ficar envelhecido e as pessoas que labutam há mais tempo vêem os direitos que ganharam serem destruídos por falta de humanidade, tendo em conta só o dinheiro e a despesa. Como afirma Manuel Poppe o estado social está a ruir e as necessidades básicas não são respeitadas. As questões que levanta são pertinentes. Julgo que a tristeza bate porque a emigração aumentou. Os emigrantes são importantes e quanto à língua acho que não se deve deixar morrer.
    Beijinho e obrigada. :)

    Sandra,
    O trecho que escolheste é muito bem concebido.
    Obrigada pelo teu enorme contributo.
    Beijinhos. :)

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  31. Querida Ana, andei por aí e atrasei-me a responder. Li tanta coisa interessante, foi um bem ficar para trás. Como é bom ler o que se escreve no teu blog, a coragem das pessoas, a sinceridade com que põem os problemas e os enfrentam. Presépio do canal estoui em muita coisa de acordo contigo, também tenho avós, pai e mãe alentejanos e sei que é diferente o "calor" e sei que o "cante da terra" alentejano é nostálgico mas também cheio de humor!
    Cozinha dos Vurdóns, amigas queridas, é tão verdade o que dizem!
    Portugal foi assim negro, de mulheres viúvas, todos pareciam viúvos uns dos outros.Não havia alegria, respiração, esperança... Vocês são jovens e não sentiram esse "ar" pestilento do medo de pensar...
    Hoje, serão tristes os nossos jovens? nÃO creio. Quando regressei a Portugal (depois de cerca de 30 anos por aqui e por ali) senti que havia diferença entre os alunos que tivera e os que tinha. E já antes de partir, tivera turmas excepcionalmente boas. Mas era a geração dos pais deles que era triste!
    Quando voltei, pude falar de tudo, de Arte, de africanos, de judeus, de marrquinos, com gente que se "abria", que se entusiasmava e queria saber mais! Vi pessoas que estudavam à noite ficar deslumbrados com Pessoa. Vi-os representar na nossa aula diálogos improvisados. E, sobretudo, vi-os rir, rir!
    Sei que anda esta crise a rondar e a fazer mal a todos, isto sim pode dar cabo dos nossos jovens e menos jovens, vai matá-los de saudades, vai vê-los partir quantas vezes com vontade de não ir (conheço muitos casos!). Mas lá vão eles "de foz em fora/ na sua barca falaz/ à procura da ventura/ que ninguém sabe onde mora/ se não depois quando chora/ saudades que o tempo traz"...
    Nunca me lembro quem escreveu estes versos mas sei o poema todo de cor poreque sempre me impressionou!
    Tempos melhores hão-de vir ou então é o tal Apocalypse. Now...
    Um grande beijo e sinceramente fiquei impressionada com o "nível" dos nossos portugueses!
    Havemos de conseguir um mundo á nossa escala!
    um beijo a todos...

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  32. Continuo... Nada do que disse impede de pensar que de facto há uma raiz de tristeza na nossa poesia (já na poesia trovadoresca, bem tristes eram as cantigas de amigo...),e o uq diz a Margarida sobre a pintura portuguesa é bem verdade, pouco solares seremos?
    Não sei, não sei mesmo.
    Andando por fora vi muito mundo e nem sempre era assim "tão melhor"!
    Só nos falta é promover sempre e sempre mais a Educação! POrque sensibilidade não nos falta.
    Educação é que sim... às vezes!

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  33. Maria João,
    Tudo o que diz é harmonioso. A nossa melancolia espelha-se na arte, na literatura e em pequenas coisas do quotidiano.
    Não há dúvida que na educação é que está a salvação de um povo. É pena os nossos governantes não atribuírem a importância que ela merece.
    Obrigada e beijinhos. :))

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