Livro de Horas
Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.
Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.
Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!
Miguel Torga, O Outro Livro de Job [cortesia do Google]
Fui verificar o que era do Google.
ResponderEliminarLá vi o Miguel Torga.
E a Torre do Relógio, também é ?
Um beijo.
Sim, é o simbolo maior da nossa cidade a Torre da UC. Miguel Torga está a ela associado e com estas "Horas".
ResponderEliminarBeijinho. :))
"Me confesso
ResponderEliminarO dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo."
Me confesso (também) assim
E eu confesso que é um vício (bom) passar sempre por aqui :))
ResponderEliminarBeijinho
Lindíssimo! Boa Quarta-feira!
ResponderEliminarAna, faço minhas as palavras do
ResponderEliminarPedro Coimbra!!
Muito bonito o poema de Torga.
Nunca li este livro dele.
Gostei da música.
Beijinhos.:))
Bonito o poema.
ResponderEliminarGosto muito da poesia de Miguel Torga.
Um beijinho
A imponência da Torre e suas horas lá em cima; M.Torga e as suas Horas, na Portagem...
ResponderEliminarE, em vez das Raízes, o seu nome...
Saudades!
Vozes ao alto
ResponderEliminarLindíssimo! Adorei!
ResponderEliminarBeijinho!
Também eu achei muito belo o poema, as horas do poema e e as horas do Relógio, e a música...
ResponderEliminarbeijos