De onde é quase o horizonte
De onde é quase o horizonte
Sobe uma névoa ligeira
E afaga o pequeno monte
Que pára na dianteira.
E com braços de farrapo
Quase invisíveis e frios
Faz cair seu ser de trapo
Sobre os contornos macios.
Um pouco de alto medito
A névoa só com a ver.
A vida? Não acredito.
A crença? Não sei viver.
4-3-1931
. Fernando Pessoa, Poesias. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p.133.