Leituras de Verão - comecei as leituras de Verão com um livro de contos de Mishima no qual desvenda a alma humana e a dificuldade em lidar com a dor de uma grande perda. É um livro profundo e bonito.
“A vida humana é finita mas eu gostaria de viver para sempre”, escreveu Mishima na manhã antes da sua morte, citação retirada do The Guardian.
Mishima suicidou-se segundo o ritual seppuku, conhecido no ocidente por haraquíri (1970).
La mort… nous affecte plus profondément
sous le règne pompeux de l’été.
Baudelaire
Les Paradis Artificiels
"A praia de A., próxima da extremidade sul da península de Izu, ainda
está intacta. Lá pode‑se tomar banho. É certo que o fundo do mar é
desigual e cheio de calhaus e que as ondas são fortes, mas a água é
limpa e a terra entra pelo mar num suave declive, tendo no conjunto
excelentes condições para se nadar. Sobretudo por estar afastada, a praia
de A. não sofre nem do barulho nem da sujidade das estâncias balneares
mais próximas de Tóquio. Fica a duas horas de autocarro de Itō.
(...)
As crianças cansaram‑se do castelo de areia. Desataram a correr
para que a água jorrasse das poças à beira das ondas. Acordada do
pequeno e tranquilo universo pessoal para o qual tinha resvalado,
Yasue correu atrás delas.
Mas não estavam a fazer nada que fosse perigoso. Tinham medo do
bramido das ondas. Havia um pequeno redemoinho para lá da rebentação. Kiyoo e Keiko de mão dada, com água até à cintura e os olhos
brilhantes, faziam frente à água, sentindo a areia mexer debaixo dos pés
nus.
— Parece que alguém nos está a puxar — disse Kiyoo à irmã.
Yasue aproximou‑se deles e proibiu‑os de irem mais longe.
Mostrou‑lhes Katsuo, não o deviam deixar sozinho, deviam ir brincar
com ele. Mas não lhe prestaram atenção. Estavam de pé, de mãos
dadas, felizes, e olhavam‑se sorrindo. Tinham um segredo: a areia que
sentiam mexer debaixo dos pés."
Yiuko Mishima, Morte em Pleno Verão. Torres Vedras:Editorial Estampa, dezembro de 2006 p.11 e 12.
Já li este livro de Mishima (de quem sou fan) e curiosamente terminei de ler hoje um livro que lhe recomendo (caso não tenha lido) sobre o célebre escritor japonês, escrito pela Marguerite Yourcenar intitulado "Mishima ou A Visão do Vazio", que nos oferece um fabuloso retrato sobre a vida e obra deste genial escritor, que faz uma bela dupla com o filme "Mishima" de Paul Schrader.
ResponderEliminarMuito boa tarde!
MV,
EliminarObrigada pela sua presença. Não li esse livro de Yourcenar, uma escritora que muito admiro. Vou procurá-lo.
Mais uma vez estou muito agradecida,
Boa noite!:))
Como é que uma pessoa que gostaria de viver para sempre, se suicida? E de forma tão "dramática"!
ResponderEliminarTenho livros dele, que comprei há tempos, quando a Maria João falou dele no blogue e recomendou a leitura, mas ainda não li nenhum.
A foto do gato na janela, é muito gira:)
Beijinhos e um bom domingo:)
Isabel,
EliminarJulgo ser uma questão de cultura e honra, não deixa de ser para nós enigmático.
Gostei muito do livro.
Beijinhos e obrigada pela tua presença.:))
A alma humana é um mistério. Nunca li este escritor e há muita gente extraordinária que nunca lerei. Marguerite Yourcenar faz o meu gosto.
ResponderEliminarBea,
EliminarAcho maravilhoso o que diz: "há muita gente extraordinária que nunca lerei".
Nunca pensei dizer isso porque gostava de poder ler mesmo que remotamente o possa fazer... tenho esperança.
Li alguns livros de Yourcenar que me maravilharam, o título sugerido por Mister Vertigo, causa-me muita curiosidade. Qual seria o olhar da escritora sobre aquele homem tão suis generis.
Bom fim de semana!:))
Ainda não li.
ResponderEliminarFica aqui o lembrete.
Bjs, boa semana
Beijinho, Pedro e bom fim de semana!:))
EliminarAna,
ResponderEliminarHouve uma fase em que li vários livros de Mishima e também kawabata, mas este ainda não.
Talvez não seja o melhor escritor para a fazer sorrir...
Também gostei imenso da fotografia do gato... Cometeu algum delito?!
Beijinhos:))
Haaa... ahhhh, o gato cometeu um delito sim...:))))
EliminarCláudia, Li um outro livro de Mishima há muito tempo, anda cá por casa o livro, mas não me lembro do título.
Não faz sorrir mas são boas as suas histórias. :))
Beijinho. :))