Um Verão com um começo nipónico, Ishiguro segue-se a Mishima. Gostei do romance com sabor histórico.
O romancista Kazuo Ishiguro na sua casa, em Londres, logo após o anúncio do Nobel - Alastair Grant / AP Fotografia tirada daqui
Imagem do livro retirada da net da Wook
A preocupação de um artista é captar a beleza onde quer que a encontre. Mas, por mais hábil que seja, terá sempre muito pouca influência no tipo de questões que falas*. De facto, se a Okada-Shingen é a tal como a descreves, então parece-me que estás equivocada nos seus propósitos. Parece fundar-se em expectativas ingénuas sobre o poder da arte.
Kazuo Ishiguro. Um Artista do Mundo Flutuante. (Trad. Rui Pires Cabral). Lisboa: Gradiva, 2018, p. 207, (1ª ed. em Portugal 2018, título de 1986).
Sea Sorrow, 2017, documentário dirigido por Vanessa Redgrave, foca a crise actual dos migrantes e faz um paralelismo com a angustiante vida dos que migraram por causa dos horrores da guerra ao longo dos tempos. Mais, enuncia os Direitos do Homem, algo que no século XXI ainda não se conseguiu atingir.
Um documentário que vi recentemente na íntegra e que aconselho a verem.
Leituras de Verão - comecei as leituras de Verão com um livro de contos de Mishima no qual desvenda a alma humana e a dificuldade em lidar com a dor de uma grande perda. É um livro profundo e bonito.
“A vida humana é finita mas eu gostaria de viver para sempre”, escreveu Mishima na manhã antes da sua morte, citação retirada do The Guardian.
Mishima suicidou-se segundo o ritual seppuku, conhecido no ocidente por haraquíri (1970).
La mort… nous affecte plus profondément
sous le règne pompeux de l’été.
Baudelaire
Les Paradis Artificiels
"A praia de A., próxima da extremidade sul da península de Izu, ainda
está intacta. Lá pode‑se tomar banho. É certo que o fundo do mar é
desigual e cheio de calhaus e que as ondas são fortes, mas a água é
limpa e a terra entra pelo mar num suave declive, tendo no conjunto
excelentes condições para se nadar. Sobretudo por estar afastada, a praia
de A. não sofre nem do barulho nem da sujidade das estâncias balneares
mais próximas de Tóquio. Fica a duas horas de autocarro de Itō.
(...)
As crianças cansaram‑se do castelo de areia. Desataram a correr
para que a água jorrasse das poças à beira das ondas. Acordada do
pequeno e tranquilo universo pessoal para o qual tinha resvalado,
Yasue correu atrás delas.
Mas não estavam a fazer nada que fosse perigoso. Tinham medo do
bramido das ondas. Havia um pequeno redemoinho para lá da rebentação. Kiyoo e Keiko de mão dada, com água até à cintura e os olhos
brilhantes, faziam frente à água, sentindo a areia mexer debaixo dos pés
nus.
— Parece que alguém nos está a puxar — disse Kiyoo à irmã.
Yasue aproximou‑se deles e proibiu‑os de irem mais longe.
Mostrou‑lhes Katsuo, não o deviam deixar sozinho, deviam ir brincar
com ele. Mas não lhe prestaram atenção. Estavam de pé, de mãos
dadas, felizes, e olhavam‑se sorrindo. Tinham um segredo: a areia que
sentiam mexer debaixo dos pés."
Yiuko Mishima, Morte em Pleno Verão. Torres Vedras:Editorial Estampa, dezembro de 2006p.11 e 12.