Um dos poucos corta-papéis que faz parte da minha colecção. Adquiri-o numa feira de velharias. Gosto particularmente dele por ser uma flor e ter um movimento súbtil. Julgo que será Arte Nova.
Já foi usado para cortar folhas de livros e algumas cartas, na era dos ebooks e da informação global que, apesar disso, não dispensam o papel e o correio.
Do quotidiano e da Arte eis o
Corta-papéis
"TODA A ARTE É DIZER QUALQUER COISA"
Outra nota ao acaso
Toda a Arte é uma forma de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer - falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projecções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é a literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama. Quando se diz «poema sinfónico» fala-se exactamente, e não de um modo translato e fácil. O caso parece menos simples para as artes visuais, mas, se nos prepararmos com a consideração de que linhas, planos, volumes, cores, justaposições e contraposições são fenómenos verbais dados sem palavras, ou antes por hieróglifos espirituais, compreenderemos como compreender as artes visiais, compreenderemos como compreender as artes visuais, e, ainda que as não cheguemos a compreender ainda, teremos, ao menos, já em nosso poder o livro que contém a cifra e a alma que pode conter a decifração. Tanto basta até chegar o resto.
Álvaro de Campos, Sobre a Arte
1936
Fernando Pessoa, Textos de Crítica e de Intervenção. Lisboa: Ática, 1980, p. 279.
(1ª publ. in “Presença”, nº 48. Coimbra: Jul. 1936)
Tenho muita pena de não visualizar este teu corta papeis como tanto desejava e como ele merecia.
ResponderEliminarJá o trecho do Álvaro de Campos é soberbo pelo tanto que diz em meia dúzia de linhas.
Agradeço-te muito particularmente uma vez que o não conhecia.
Um beijoamigo e bom fim de semana.
Querido João,
ResponderEliminarHá tanto tempo que ando para lhe escrever. Obrigada por ter gostado. O corta-papéis é de ferro forjado.
Hoje, estive a fazer uma formação em que este texto apareceu e como amante de Pessoa, que sou, tinha que o colocar.
Beijinhos.:))
Curioso eu hoje já distinguir bem, Ana...
EliminarE gosto !
Para a semana ( meados ) já APAREÇO !
Um beijo muito amigo à espera de notícias.
João,
EliminarEm breve, dou notícias.
Beijinhos.:))
"Toda a arte é literatura" diz o poeta. E o inverso também é verdade. Para mim, mesmo mais verdade.
ResponderEliminarTão bonito o corta-papéis. Parece uma clave de sol com flor na ponta, ou nota sem agudos.
Bonita a música. Chama dolente e demoradamente.
BFS
Bea,
EliminarGostei muito deste texto que tive que analisar numa discussão.
O corta-papéis encheu-me a alma quando o vi. :))
Bom fim de semana (este com atraso) . :))
Ana
ResponderEliminarQue peça tão rara e bonita. Sem dúvida é arte nova. Não terá nenhuma marca que possa identificar o fabricante?
Eu ainda uso um corta-papéis na biblioteca onde trabalho. Claro, é um objecto banal e sem graça, mas ainda útil, pois por vezes apanham-se livros de há 40 ou 50 anos por abrir.
No passado os livros eram publicados sobre a forma de uma estrutura de cadernos cosidos uns aos outros e havia sempre que abri-los. Claro, havia quem nunca os abria pois também nunca os lia. A este propósito há uma célebre história de um homem famoso português, que tinha morrido e a sua biblioteca ia ser leiloada. Como os livros estavam todos por abrir, o leiloeiro contratou um jovem recém-licenciado, para os abrir um a um, de modo a que a memória do antigo proprietário não ficasse manchada com a reputação de ignorante. A essas bibliotecas intocadas chamam-se maldosamente as onze mil virgens.
Bjos
Luís,
EliminarA peça tem uma pintura preta e ferrugem tenho que a mandar restaurar ou aprender a fazê-lo. Só assim poderei descobrir se terá alguma assinatura. Desconfio que a peça foi vendida sem o restante conjunto pois, penso que faria parte de um conjunto de escritório: tinteiro e guarda-papéis, talvez numa dessas peças estivesse a assinatura. Porém, não passa de uma conjectura minha.
Compro livros em alfarrabistas e descubro que muito dos seus proprietários não os liam, alguns não estão abertos, continuam religiosamente fechados. Lembro-me da minha avó comprar livros e de os abrir, era eu muito pequena, o mesmo fazia a minha mãe.
O gosto por estas peças vem daí.
Beijinhos.:))
Se o corta-papéis é muito bonito, Ennio Morricone é genial.
ResponderEliminarHá tantos anos que me faz companhia no carro!!!
Beijinhos, boa semana
É verdade, Pedro Ennio Morriconne é genial.
EliminarBeijinhos. :))
Ana,
ResponderEliminarEu diria que encontrou um tesouro...
São estes pequenos-grandes achados que nos enchem o coração de felicidade e beleza!
É um corta-papéis belíssimo!
Um belo casamento com Pessoa e Morricone.
Beijinhos.:))
Cláudia,
EliminarTambém acho. :))
Obrigada. Tem sido usado para abrir alguns dos livros que vêm da Lumière. :))
Beijinhos.
Que lindo utensílio, Ana.
ResponderEliminarTenho de o ver ao vivo!
beijinhos
Pois tens Graça.
EliminarBeijinhos. :))
Gostei do corta papéis, que realmente parece ser Arte Nova. E também gostei do texto de Fernando Pessoa - gostava de ler esse livro. Beijinhos!
ResponderEliminarMargarida,
EliminarObrigada. As notas de FP sobre arte são muito interessantes.
Beijinho. :))
É lindíssimo!
ResponderEliminarEu tenho um corta-papéis de plástico, um de madeira e um de osso, mas está partido. Fiquei tristíssima quando o parti.
Gosto imenso de abrir livros, mas faço-o com uma faca da cozinha.( Também abri alguns vindos da Lumière!)
Beijinhos e continuação de bom sábado:)
Isabel,
EliminarQue pena teres partido o corta-papéis. Mas está atenta que arranjas um novo.
Beijinho. :))
Sempre interessante o que diz F.P. Diga isto ou o contrário disto, di-lo muito bem!
ResponderEliminarE "toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer - falar e estar calado."
O silêncio é sem dúvida um modo de falar!Pode ser tão violento como as palavras....Pode ser tão 'cortante' como o teu corta-papéis. Que estranho é!
Um beijinho
Obrigada, MJ, pela sua perspectiva tão lúcida.
EliminarBeijinho. :))
ResponderEliminarA peça que que apresenta, Ana, é arte, tem poesia. E está tão bem articulada com o texto de Pessoa.
A gente olha e vê
e vê o que vê
e o que não se vê:
a poesia da arte
e a arte da poesia.
O Pessoa é genial!
Lá fora nada. A não ser um calor para camelo.
Eu que tenho de sair, serei camelo?
Bj.
Ah haaa,
EliminarFez-me rir Agostinho.
Sempre tão oportuno.
Beijinho. :))