21/03/2016

No dia da poesia - as árvores já não gostam dos homens

as árvores já não gostam dos homens é um poema que trago da minha amiga Graça e com o qual ela ganhou o 2º prémio da VI edição do Concurso "Poesia  da Biblioteca" da Biblioteca Municipal de Condeixa. Parabéns Graça!:))





as árvores já não gostam dos homens

as árvores já não gostam dos homens
porque eles atraiçoaram-nas
adiantando os relógios malditos
ao encontro suicida da apoteose final
aliciante cinzenta e indistinta
os pássaros foram fazer ninhos
nas nuvens negras
as crisálidas apodreceram no porão
dos navios abandonados
onde naufragaram os desejos
das sete virgens que sonharam
com paraísos e felicidade infinita
veio um deus maldito
sacudir as frutos das árvores
que apodreceram nas searas
onde não nascem papoilas
as montanhas abriram-se
formando túneis vazios
as casas ardem de  febre
porque os homens têm o betão
o níquel a prata e o ouro
por dentro das veias e dos músculos
e as crianças que brincavam dentro deles
adormeceram para sempre
agora as árvores estão velhas e cansadas
viram as costas aos homens e adormecem zangadas
num sonho agitado e perturbador de cavalos a galope
e crianças a brincar com ferro forjado
no céu uma caneta acusadora sentencia
mas o discurso é uma metáfora esquecida
o tempo é para mastigar devagarinho
como pão com manteiga à sombra das árvores
que gostam de contar histórias aos homens
da terra virgem a brincar
com bonecas rosadas de puxos
os relógios também estão cansados
o tempo está velho
e definha debaixo da abóbada celeste

Graça Maria Gonçalves Rama Alves

16 comentários:

  1. Ana, mil obrigados por tudo! Por gostares, pela companhia, pela caixa dos bolinhos...foi um prazer teres estado comigo neste momento tão importante...tu sabes. Agradeço a publicação e o teu apreço!Carlos Paredes é sublime e o tema "Mudar de Vida" escolhido a preceito, porque,efetivamente, a minha vida mudou...
    Beijinhos...ter amigas assim vale a pena!

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    1. Graça gostei muito de te ver a receber o prémio. :))
      As mudanças são boas e é bom aproveitar o que há de bom na vida.
      Beijinhos. :))

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    2. Com dúvidas de que o meu comentário não tenha sido esclarecedor, acrescento que a minha vida mudou, não com o prémio, a minha vida mudou, mas já há algum tempo a esta parte, o prémio é apenas um bombom neste percurso difícil da vida.
      Beijinho, Ana, e mais uma vez obrigada por estares aí.
      Agradeço também desde já a todos quantos me deram os parabéns.

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  2. «agora as árvores estão velhas e cansadas
    viram as costas aos homens e adormecem zangadas
    num sonho agitado e perturbador de cavalos a galope»

    que se regenerem e acalmem, recomenda-lhes uma guitarra

    um beijo à Graça

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  3. Conheço bem Condeixa.
    E tenho lá bons amigos.
    Beijinhos, boa semana

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    1. Pedro,
      A Biblioteca é nova (edifício) e tem uma série de eventos.
      Foi a primeira vez que lá fui.
      Beijinho. :))

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  4. Parabéns à laureada pelo poema. E a quem os postou, é de amigo.
    A minha homenagem às árvores não é minha. Mas é muito próxima à sua verdade vegetal. E fica bem no Dia da Poesia, uma aberração igual à de todos os dias reservados a sentimentos Grandes. A Poesia existe-nos até sem que dias haja, se a situação é possível, é rasto de humanidade que transborda.

    "As árvores crescem sós. E a sós florescem.




    Começam por ser nada. Pouco a pouco
    se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

    Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
    e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

    Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
    e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
    e os frutos dão sementes,
    e as sementes preparam novas árvores.

    E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
    Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
    Sós.
    De dia e de noite.
    Sempre sós.

    Os animais são outra coisa.
    Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
    fazem amor e ódio, e vão à vida
    como se nada fosse.

    As árvores, não.
    Solitárias, as árvores,
    exauram terra e sol silenciosamente.
    Não pensam, não suspiram, não se queixam.
    Estendem os braços como se implorassem;
    com o vento soltam ais como se suspirassem;
    e gemem, mas a queixa não é sua.

    Sós, sempre sós.
    Nas planícies, nos montes, nas florestas,
    A crescer e a florir sem consciência.

    Virtude vegetal viver a sós
    E entretanto dar flores."

    António Gedeão

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    1. Obrigada, Bea,
      Por trazer o Gedeão.
      O desfecho é lindo.
      Boa noite. :))

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  5. Parabéns Graça Alves pelo bonito o poema, com essência!
    Razão têm as árvores para estarem zangadas!

    Ana, feliz escolha para assinalar o Dia Mundial da Poesia.
    Beijinhos.:))

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    1. Obrigada, Cláudia.
      Esta foi uma surpresa e foi recente porque tudo se passou este Sábado.
      Beijinho. :))

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  6. É mesmo verdade: homem é um predador! Seja de lança, espingarda, machado ou moto-serra tem a sensação de dominar a natureza.
    Parabéns à Poetisa pelo poema-alerta e pelo prêmio alcançado. As palavras certas no dia da poesia.
    Bj.

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    1. O homem é um predador, não diria melhor.
      Beijinho. :))

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  7. Não sei se as árvores não gostam dos homens. Eu, por mim, gosto muito delas! Um beijo no dia da Poesia!

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    1. Também gosto muito delas.
      Um beijinho, ainda hoje.
      A ver se em breve regresso e retribuo a todos como deve ser. :))

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  8. ~~~
    Graça tem razão...
    A ambição gananciosa destrata continuamente a natureza.

    Sou, também, do grupo que admira e ama as árvores.

    ~~~ Beijinhos para a laureada e para si, Ana. ~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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