as árvores já não gostam dos homens é um poema que trago da minha amiga Graça e com o qual ela ganhou o 2º prémio da VI edição do Concurso "Poesia da Biblioteca" da Biblioteca Municipal de Condeixa. Parabéns Graça!:))
as árvores já não gostam dos homens
as árvores já não gostam dos homens
porque eles atraiçoaram-nas
adiantando os relógios malditos
ao encontro suicida da apoteose final
aliciante cinzenta e indistinta
os pássaros foram fazer ninhos
nas nuvens negras
as crisálidas apodreceram no porão
dos navios abandonados
onde naufragaram os desejos
das sete virgens que sonharam
com paraísos e felicidade infinita
veio um deus maldito
sacudir as frutos das árvores
que apodreceram nas searas
onde não nascem papoilas
as montanhas abriram-se
formando túneis vazios
as casas ardem de febre
porque os homens têm o betão
o níquel a prata e o ouro
por dentro das veias e dos músculos
e as crianças que brincavam dentro deles
adormeceram para sempre
agora as árvores estão velhas e cansadas
viram as costas aos homens e adormecem zangadas
num sonho agitado e perturbador de cavalos a galope
e crianças a brincar com ferro forjado
no céu uma caneta acusadora sentencia
mas o discurso é uma metáfora esquecida
o tempo é para mastigar devagarinho
como pão com manteiga à sombra das árvores
que gostam de contar histórias aos homens
da terra virgem a brincar
com bonecas rosadas de puxos
os relógios também estão cansados
o tempo está velho
e definha debaixo da abóbada celeste
Graça Maria Gonçalves Rama Alves
Ana, mil obrigados por tudo! Por gostares, pela companhia, pela caixa dos bolinhos...foi um prazer teres estado comigo neste momento tão importante...tu sabes. Agradeço a publicação e o teu apreço!Carlos Paredes é sublime e o tema "Mudar de Vida" escolhido a preceito, porque,efetivamente, a minha vida mudou...
ResponderEliminarBeijinhos...ter amigas assim vale a pena!
Graça gostei muito de te ver a receber o prémio. :))
EliminarAs mudanças são boas e é bom aproveitar o que há de bom na vida.
Beijinhos. :))
Com dúvidas de que o meu comentário não tenha sido esclarecedor, acrescento que a minha vida mudou, não com o prémio, a minha vida mudou, mas já há algum tempo a esta parte, o prémio é apenas um bombom neste percurso difícil da vida.
EliminarBeijinho, Ana, e mais uma vez obrigada por estares aí.
Agradeço também desde já a todos quantos me deram os parabéns.
«agora as árvores estão velhas e cansadas
ResponderEliminarviram as costas aos homens e adormecem zangadas
num sonho agitado e perturbador de cavalos a galope»
que se regenerem e acalmem, recomenda-lhes uma guitarra
um beijo à Graça
Boa noite Rogério. :))
EliminarConheço bem Condeixa.
ResponderEliminarE tenho lá bons amigos.
Beijinhos, boa semana
Pedro,
EliminarA Biblioteca é nova (edifício) e tem uma série de eventos.
Foi a primeira vez que lá fui.
Beijinho. :))
Parabéns à laureada pelo poema. E a quem os postou, é de amigo.
ResponderEliminarA minha homenagem às árvores não é minha. Mas é muito próxima à sua verdade vegetal. E fica bem no Dia da Poesia, uma aberração igual à de todos os dias reservados a sentimentos Grandes. A Poesia existe-nos até sem que dias haja, se a situação é possível, é rasto de humanidade que transborda.
"As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores."
António Gedeão
Obrigada, Bea,
EliminarPor trazer o Gedeão.
O desfecho é lindo.
Boa noite. :))
Parabéns Graça Alves pelo bonito o poema, com essência!
ResponderEliminarRazão têm as árvores para estarem zangadas!
Ana, feliz escolha para assinalar o Dia Mundial da Poesia.
Beijinhos.:))
Obrigada, Cláudia.
EliminarEsta foi uma surpresa e foi recente porque tudo se passou este Sábado.
Beijinho. :))
É mesmo verdade: homem é um predador! Seja de lança, espingarda, machado ou moto-serra tem a sensação de dominar a natureza.
ResponderEliminarParabéns à Poetisa pelo poema-alerta e pelo prêmio alcançado. As palavras certas no dia da poesia.
Bj.
O homem é um predador, não diria melhor.
EliminarBeijinho. :))
Não sei se as árvores não gostam dos homens. Eu, por mim, gosto muito delas! Um beijo no dia da Poesia!
ResponderEliminarTambém gosto muito delas.
EliminarUm beijinho, ainda hoje.
A ver se em breve regresso e retribuo a todos como deve ser. :))
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ResponderEliminarGraça tem razão...
A ambição gananciosa destrata continuamente a natureza.
Sou, também, do grupo que admira e ama as árvores.
~~~ Beijinhos para a laureada e para si, Ana. ~~~
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