08/04/2013

Cardo- folhas espinhosas

Barbara Regina Dietzsch (1706-1783), Cardo com Insectos.
Guache sobre velino, Alemanha


Cardo 
Os contornos das suas folhas espinhosas espetam e rasgam como pequenos picos, desencorajando o toque. No entanto, a vistosa flor que coroa a haste tem uma doce fragrância, atraindo borboletas, insectos, abelhas e pássaros. (...) Na mitologia, o cardo não cresceu  no Jardim do Éden; pelo contrário, os cardos e os espinhos apareceram como castigos depois do Pecado, em oposição à bênção dos figos e das uvas do Paraíso. (...) na crença popular ele é visto como uma oferta do Diabo. No entanto, o cardo também transmite as ideias de amor que sobrevive ao sofrimento e do trabalho que sobrevive às privações. O cardo é associado ao amor mundano de Afrodite bem como à amorosa compaixão da Virgem Maria. (...)
A Escócia, que tem o cardo como símbolo nacional, celebrava o carácter deste numa lenda do século X. Os invasores viquingues, esperando atacar  furtivamente o castelo de Staines, tiraram as botas. Mas os escoceses tinham enchido de cardos a fossa seca do castelo e os gritos do inimigo traíram a sua presença. Organicamente, as raízes do cardo dão origem a uma flor doce e a haste rude, pelo que se diz que essas raízes propagam a melancolia.

Marina Heilmeyer, The Language of Flowers: Symbols and Miths, Munique e Londres, 2001, p. 26.

Imagem e texto  retirado de O Livro dos Símbolos, Reflexões Sobre Imagens Arquetípicas, Taschen, Katthleen Martin, pp.166-167.

LÁGRIMAS DA PÁTRIA / ANNO 1636

Está tudo devastado e mais que devastado!
as hordas agressivas, a trombeta que arrasa,
A espada a beber sangue, a metralha que abrasa,
Consomem todo o esforço, trabalho e pão guardado.

As torres num braseiro, a igreja está no chão,
A Câmara em ruínas, os fortes já os não vemos,
Donzelas violentas - para onde quer que olhemos
Há fogo, peste e morte varrendo o coração.

Muralhas e cidade sempre em sangue ensopadas.
Três vezes já seis anos as ribeiras pejadas
De cadáveres que impedem a água correr.

Para não falar daquilo que é pior do que a morte,
Mais terrível que peste e fome e fogo forte:
Que os tesouros da alma se deitem a perder!

Andreas Gryphius, (1616-1664), in O Cardo e a Rosa, Poesia do Barroco Alemão
selecção, tradução e prefácio de João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 19

Auto-retrato de Albrecht.Dürer. Ele segura na mão planta do género Eryngium (cardo) - 1493

Ficheiro:Albrecht-self.jpg
Museu do Louvre Paris (wikipedia)


10 comentários:

  1. Cito, porque o sinto

    "...é pior do que a morte,
    Mais terrível que peste e fome e fogo forte:
    Que os tesouros da alma se deitem a perder!"

    O cardo sobrevive no deserto

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  2. Na tela não picam !...

    Porque não colocas o link da fonte musical ?
    É que tenho MUITA DIFICULDADE em ouvir assim.

    Um beijo e boa semaninha !

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  3. Aqui no meu trabalho há muitos cardos com flores bem bonitas. Olhando para eles confesso que me lembro sobretudos dos burros que segundo sei comem estas flores. Entretanto gostei de rever o quadro de Dürer de que já não me lembrava. E gostei de tudo o resto, claro. Bjns!

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  4. A minha pele não tem a experiência
    dos cardos

    já lhe basta as belas rosas

    Belo como sempre

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  5. Ana, gostei da explicação sobre o Cardo. E, a imagem deste está magnífica!

    O poema de Andreas Gryphius faz pensar!
    A música leva-nos a sonhar e... viajar! Tão bonita!

    Um beijinho.:))

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  6. Terrível o soneto! Anuncia (prenuncia?) tempos que vêm assolar as aldeias dos homens...
    "Está tudo devastado e mais que devastado!/as hordas agressivas, a trombeta que arrasa..."
    A flor delicada do cardo, a história dos Escoceses, gostei! A pintura do cardo é tão bonita!Engraçado, porque em Itália o cardo é "comestível" e fica bem gratinado no forno...
    Não conhecia este auto-retrato do Dürer...
    Beijinhos

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  7. Gostei das pinturas, mas o poema acho-o demasiado duro!
    Boa semana, Ana

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  8. O poema é excelente, ana.
    Beijinho e votos de boa semana

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  9. A todos agradeço as palavras gentis.
    Beijinhos!
    :))

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  10. Informo, Ana :
    No Mac, depois de uns soluços, ouvi tudo e MUITO BEM!

    + um beijo.

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