Fotografia daqui.
Queria deixar uma catedral de palavras e dou-me conta que a catedral não tem fim. Queria arredondar o edifício, fechá-lo, e dou-me conta, desolado, da impossibilidade desse fecho, dada a inevitável limitação da vida. Não morrerei satisfeito, morrerei com a dor de não ter tido tempo. Construirei uma obra mais duradoira que o bronze, afirmava Horácio: isso julgo que consigo.
António Lobo Antunes, Visão, 14 de Abril 2011.
Um poema lido por ele no final da entrevista:
Todos os homens são maricas quando estão com a gripe *
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisanas e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
António Lobo Antunes
* Corrigi o título depois de ver no Prosimetron, 16/11, às 8:22h
Um autor nem sempre reconhecido como talvez mereça.
ResponderEliminarMais uma coisa que aprendemos, mais um poema que gostamos. obrigada Ana, sempre.
ResponderEliminar5 bjs
Os homens são mesmo uns mariquinhas quando estão doentes, eheheheh.
ResponderEliminarAdorei este poema!!
Catarina,
ResponderEliminarÉ verdade. Acheio-o amargo nesta entrevista.
Abraço! :)
Cozinha dos Vurdóns,
Obrigada por terem gostado.
5 bjs grandes! :)))))
Carlota,
Uns mariquinhas, António Lobo Antunes também o disse.
Bjs. :)
Olá Ana
ResponderEliminarvinha ver outro post que aparecia no meu blogue e não o vejo aqui. Não entendo. Mas gostei de ler este também.
Li "Uma longa entrevista com António Lobo Antunes" de João Céu e Silva e passei a simpatizar mais com ele.
Um beijinho e bom fim-de-semana
Isabel,
ResponderEliminarEsse post saiu por engano. Irei colocá-lo na segunda feira. Foi um livro que li há pouco tempo e gostei. Desculpa a confusão. Estava a agendá-lo e em vez disso publiquei-o e depois retirei-o.
O blogue é uma forma de comunicar convosco, de registar os meus pensamentos. Alio este passatempo com o meu trabalho. Impus a mim mesma que só faria um post por dia. Só que depois de ver a entrevista com António Lobo Antunes apeteceu-me escrever sobre ele e esqueci-me do que havia agendado. É muito raro agendar mas neste caso deu-me jeito.
Beijinhos, Isabel. :))
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