A História das coisas simples do dia-a-dia, a casa, a vida rural, o sustento, o divertimento, a cultura ou os afectos são questões que me interessam sobremaneira. À procura de respostas e de problemáticas sobre estas matérias recorri ao Professor Doutor A. H. Oliveira Marques para homenagear o historiador no dia do seu aniversário, 23 de Agosto de 1933.
Ilustração do Livro das Horas Très Riches Heures du Duc de Berry, c. 1410.
João, Duque de Berry apreciando uma grande refeição. O Duque está sentado na alta mesa abaixo de um luxuoso baldaquino em frente à lareira, servido por vários criados, incluindo um que somente serve as carnes. À mesa, à esquerda do Duque, está um saleiro dourado, na forma de um navio. (wikipedia)
A Mesa
De uma maneira geral, a alimentação medieva era pobre, se comparada com os padrões modernos. A quantidade supria, quantas vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se ainda numa fase rudimentar e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. A condimentação obedecia a princípios extremamente simples.
Do ponto de vista da ciência actual, a alimentação medieva revelava-se deficiente em vitaminas. Feita à base de cereais, de carne, de peixe e de vinho, mostrava falta grande de vitamina D e considerável de A e C. Os resultados destas deficiências traduziam-se por uma débil resistência às infecções, com o consequente progresso fácil das epidemias; por frequentes doenças da vesícula e dos rins (resultado da acumulação de pedra) e dos olhos (cegueira, xeroftalmia), resultado da falta de vitamina A; finalmente, por escorbuto muito comum, devido à deficiência em vitamina C2.
As duas refeições principais do dia eram o «jantar e a ceia». Jantava-se, nos fins do século XIV, entre as dez e as onze horas da manhã; mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar para as oito ou nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. No Leal Conselheiro, o rei D. Duarte recomendava que decorressem sete a oito horas entre as duas refeições e que, jantando-se muito, se ceasse pouco, assim como, ceando-se muito, se jantasse pouco no dia imediato. Como ideal de frugalidade, prescrevia-se a ausência de qualquer outro repasto durante o dia. É de supor, contudo, que o progressivo atraso da hora do jantar tivesse implicado, a partir de certa altura, a necessidade de um "almoço" tomado pouco depois do levantar.
O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de pratos servidos andava, em média, pelos três, sem contar sopas, acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, em relação ao rei, à nobreza e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os menos ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois ou até um. À ceia, baixava para dois a média das iguarias tomadas; ou para um, nos outros casos indicados. A base da alimentação por excelência era a carne. Ao lado das carnes de matadouro ou carnes gordas, vaca, porco, carneiro, cabrito (na Coimbra do século XII, cotava-se a maior preço a carne de porco e a carne de carneiro gordo, e só depois vinham a vaca e o cabrito; na Évora de 1280, como de 1384, valia a carne de vaca o dobro da de porco e mais do dobro das de carneiro e cabra), consumia-se largamente caça e criação.
De uma maneira geral, a alimentação medieva era pobre, se comparada com os padrões modernos. A quantidade supria, quantas vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se ainda numa fase rudimentar e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. A condimentação obedecia a princípios extremamente simples.
Do ponto de vista da ciência actual, a alimentação medieva revelava-se deficiente em vitaminas. Feita à base de cereais, de carne, de peixe e de vinho, mostrava falta grande de vitamina D e considerável de A e C. Os resultados destas deficiências traduziam-se por uma débil resistência às infecções, com o consequente progresso fácil das epidemias; por frequentes doenças da vesícula e dos rins (resultado da acumulação de pedra) e dos olhos (cegueira, xeroftalmia), resultado da falta de vitamina A; finalmente, por escorbuto muito comum, devido à deficiência em vitamina C2.
As duas refeições principais do dia eram o «jantar e a ceia». Jantava-se, nos fins do século XIV, entre as dez e as onze horas da manhã; mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar para as oito ou nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. No Leal Conselheiro, o rei D. Duarte recomendava que decorressem sete a oito horas entre as duas refeições e que, jantando-se muito, se ceasse pouco, assim como, ceando-se muito, se jantasse pouco no dia imediato. Como ideal de frugalidade, prescrevia-se a ausência de qualquer outro repasto durante o dia. É de supor, contudo, que o progressivo atraso da hora do jantar tivesse implicado, a partir de certa altura, a necessidade de um "almoço" tomado pouco depois do levantar.
O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de pratos servidos andava, em média, pelos três, sem contar sopas, acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, em relação ao rei, à nobreza e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os menos ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois ou até um. À ceia, baixava para dois a média das iguarias tomadas; ou para um, nos outros casos indicados. A base da alimentação por excelência era a carne. Ao lado das carnes de matadouro ou carnes gordas, vaca, porco, carneiro, cabrito (na Coimbra do século XII, cotava-se a maior preço a carne de porco e a carne de carneiro gordo, e só depois vinham a vaca e o cabrito; na Évora de 1280, como de 1384, valia a carne de vaca o dobro da de porco e mais do dobro das de carneiro e cabra), consumia-se largamente caça e criação.
A.H. Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, Lisboa: Esfera dos Livros, 2010, p. 28
Oi Ana, que afago esse o teu. Muito bom esse post. O mundo e nós esquecemos os benefícios que fomos alcançando ao longo dos séculos. Lindo.
ResponderEliminar5 bjs e boa continuação de férias.
Um homenagem muito oportuna, ana.
ResponderEliminarContinuação de boas férias.
Bjs
Junto-me a si na homenagem a este e a todos os historiadores que, como ele, trabalha(ra)m para preservar esse tesouro que é a História e a identidade de uma nação.
ResponderEliminarUm abraço e votos da continuação de boas férias.
De acordo com a justa homenagem. É o historiador em que mais me "fio"...
ResponderEliminarUm beijo e boas férias. Muito azul!
Também acho boa a homenagem ao Historiador.
ResponderEliminarFoi pela sua obra em dois tomos -- História de Portugal -- que estudie no antigo 7º ano para acabar com uma nota excelente.
Bjs e boas férias, Ana
Boa memória
ResponderEliminare boa pausa
Ana
ResponderEliminarque estranho, que já vim aqui duas vezes para comentar "A solidão dos números primos", que aparece no meu blogue como já colocado, e depois aqui não está.Porque será?
Beijinhos
Para todos:
ResponderEliminarAgradeço a visita e a partilha. Ainda estou de férias e por isso tem sido raro passar aqui. O mar azul tem ocupado o meu olhar entrecortado pelos livros que me acompanham.
O Prof. Oliveira Marques foi o historiador que acompanhou a minha adolescência, com o qual fiz o sétimo ano também com boas notas.
É um óptimo historiador com uma visão muito ampla. Outros historiadores entraram na minha vida mas ele tem um lugar especial pois vem de longa data.
Confesso que houve um tempo que não me acompanhou mas era a novidade de tantos outros. Agora faz parte, como sempre, dos eleitos.
5 Bjs com cheirinho a maresia:))))); Bjs para Macau; R, que bom vê-la por aqui, bjs. :)MJ tanta coisa para dizer desta praia, bjs. :)))) JPD, depois falo-lhe da escultura das mãos, bjs. :))); Mar Arável, o seu azul acompanha-me. Bjs. :)))Isabel, o ´post sobre o livro irá sair. Acabei-o aqui na praia e tive que escrever, agendei-o mas por engano foi publicado e retirei-o. Vai voltar. Bjs e tenho muita curiosidade no comentário. :)))
Beijinhos e muita luz pois, por aqui há muita luminosidade.
Ana
Uma bela homenagem .Resto de boas férias Ana. O azul que nos enche os olhos e nos retempera a alma
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